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Estancienses comemoram resultados do cultivo de morangos em bancadas

06/10/2020 - 16h29min

Seu Carlos e dona Marlene herdaram legado da agricultura dos pais e repassaram aos filhos e um neto (Crédito - Jéssica Ramos)

Estância Velha – O cultivo de morangos para a família dos estancienses Carlos Molter, 70 anos, e Marlene Petry Molter, 66, vai além das técnicas agrícolas e rotina no campo. Para o casal, o plantio representa uma história de amor, não apenas pela agricultura, mas pela vida.

Seu Carlos e dona Marlene dão sequência a um legado vindo dos pais, e compartilhado com os filhos e um neto deles, que também optaram por viver da agricultura e floricultura.

Os estanciense se casaram em 1974. Na época, moravam nas terras do pai de seu Carlos que já cultivava morangos e verduras. O casal seguiu a profissão dos pais, plantando nas mesmas terras e compartilhando a renda por cerca de 20 anos.

Passado esse período, seu Carlos herdou algumas terras do avô, onde ele criou os filhos e vive até hoje com a esposa. Nas novas terras, o casal seguiu investindo no cultivo de morangos e verduras por mais 12 anos.

O agricultor conta que a família cultivava os frutos no chão. O trabalho demandava alguns sacrifícios, como o da colheita, por exemplo, que maltratava a coluna.

A plantação ficava totalmente exposta às intempéries, e de acordo com seu Carlos, os prejuízos eram muitos, e as dificuldades no cultivo também. Não havia como controlar a umidade em períodos chuvosos, e era preciso investir cuidado dobrado às plantas, em tempos de seca.

Em 2008, o casal decidiu migrar para o ramo da floricultura. Mas dona Marlene conta que a família logo retomou o plantio de morangos. “Fizemos uma experiência com o cultivo de flores, mas parece que faltava alguma coisa. Não era alimento. A impressão era de que havíamos deixado nossa essência”, disse.

Em 2016, os estancienses voltaram a produzir morangos, mantendo, paralelamente, o cultivo das flores. E, no ano seguinte, montaram um projeto piloto da produção que, atualmente, é feita em bancadas.

Um modelo para trabalhar por toda a vida

Quando o casal retomou o cultivo de morangos, eles contam que reaproveitaram a estufa que era usada para as flores. Já considerando o peso da idade, seu Carlos decidiu investir em um projeto piloto para aderir ao cultivo em bancadas.

Nesse modelo de plantio, os pés de morango são plantados em sacos plásticos (Slab), dispostos em filas sobre mesas que ficam à altura do tronco. Seu Carlos explica que há uma série de vantagens, que influenciam na manutenção, colheita e também no sabor dos frutos, que agora não tocam mais o solo, por exemplo.

Além disso, diferente das décadas passadas em que os agricultores plantavam e colhiam em períodos específicos do ano, no cultivo em bancadas os estancienses agora colhem morangos o ano inteiro, e com a produção muito maior também.

“Nós passamos por vários processos para chegar à produção atual. Em 2019, um temporal destruiu nossa estufa antiga e perdemos muitas plantas e frutos. Investimos em uma estufa nova, com estrutura metálica, mais resistente, e hoje colhemos, em média 1,5 kg. de morangos por pé/ safra. Antes, quando o cultivo era no chão e sem estufa, a colheita era de 600gr. a 800gr”, contou seu Carlos.

Maternidade

Seu Carlos e dona Marlene afirmam que há muitos segredos para garantir, não apenas uma boa colheita de morangos, mas frutos saborosos e saudáveis. Segundo eles, os principais são o amor pela atividade e a dedicação.

“Nós costumamos dizer que cultivar morangos é como cuidar de bebês, de crianças. É preciso estar em constante trabalho, provendo água, nutrição e controlando pragas, por exemplo”, destacou seu Carlos.

“Cultivar morangos é como cuidar de bebês. É preciso estar em constante trabalho, provendo água, nutrição e controlando pragas, por exemplo”, destacou seu Carlos.

O agricultor destacou que um dos diferenciais da produção da família é que os frutos são livres de agrotóxicos. O controle de pragas é feito por meio da aplicação de ervas e chás naturais, que também são cultivados em pontos estratégicos da estufa, garantindo a saúde da plantação e espantando insetos.

“Aqui em Estância Velha, contamos muito com o apoio da Emater. Eles nos dão dicas preciosas, como essa do controle de pragas, por exemplo. É uma soma considerável, pois não plantamos apenas para ter uma renda, nós pensamos no futuro, nas próximas gerações. Nosso trabalho alimenta famílias, e com saúde”, destacou seu Carlos.

Investimento e rotina

Os agricultores, que hoje trabalham com 7,5 mil pés de morangos, contam que o projeto atual foi iniciado com apenas 50 mudas e seis slab’s. Os pés de morango foram importados da Patagonia, e com o novo modelo de cultivo também chegaram outras tecnologias.

A umidade da terra, por exemplo, hoje é controlada com um equipamento semelhante a um termômetro, e a irrigação é feita por meio de um sistema que seu Carlos mesmo criou.

“A maioria dos agricultores usa fitas de gotejamento. É uma espécie de mangueira que distribui água por toda a extensão da plantação. Mas essa mangueira acaba trancando com o tempo, com terra. Então eu adaptei um sistema com micro-mangueiras que duram mais. Cada mangueira irriga dois pés de morango, e o trabalho fica muito mais fácil”, explicou o agricultor.

Além da água, o sistema também distribui “alimento” às plantas. Na água, é adiciona, sempre que necessário, cálcio, magnésio, potássio e ferro, por exemplo.

Seu Carlos e dona Marlene afirmam que as tecnologias tornaram a lida diária muito mais tranquila e prazerosa. E o casal, que já optou por permanecer no campo pela qualidade de vida que o interior representa, agora afirma que os planos são trabalhar enquanto houver saúde.

Os estancienses comercializam os frutos da propriedade nos mercados da cidade e também abastecem a algumas confeitarias. Além disso, todas as quartas e sábados, os morangos da família Molter estão disponíveis na Feira dos Produtores Rurais local.

“Eu sou um dos fundadores da Feira de Estância. É muito gratificante olhar para trás e ver a história que ajudamos a escrever na cidade, principalmente agora que também mandamos nossos morangos para a merenda escolar local, pois aderimos ao PNAE em 2019, via Associação dos Produtores locais. A vida no campo tem suas dificuldades, mas é muito gratificante pensar no propósito do nosso trabalho”, destacou seu Carlos.

Merenda escolar

Conforme a Extensionista Rural e Técnica em Agropecuária da Emater, Mariane Mendes Lopes, além de seu Carlos e dona Marlene, atualmente 17 agricultores fornecem alimentos para a merenda escolar local.

Mariane destaca que os alunos ganharam muito no quesito qualidade da merenda, e os produtores também garantiram uma renda a mais. “Nossa agricultura é pequena, mas expressiva. Temos uma boa variedade de culturas, e nossa marca é qualidade”, disse a profissional.

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