Destaques

“Eu não quero que nenhuma mãe passe pelo que estou passando”

02/06/2021 - 11h30min

Atualizada em 04/06/2021 - 12h22min

A mãe Geni, recebe apoio dos cinco filhos para enfrentar esse momento. Na foto estão Rafael, Marieli, Geovane, e o Josimar; Fernando não estava. NO DETALHE, a jovem Suélen que morreu aos 20 anos(FOTO: Cleiton Zimer)

Por Cleiton Zimer

Dois Irmãos – A partida precoce de Suélen Scarlee, poucos dias depois de completar 20 anos, deixou uma lacuna na vida de familiares e amigos, que ainda não conseguiram assimilar uma perda tão repentina. A notícia da partida atingiu a mãe como se fosse uma adaga cravada no peito. Dona Geni Antônia Scarlee, aos 47 anos, teve que sepultar a própria filha, vítima de um grave acidente de trânsito ocorrido no domingo, 30, por volta das 3h da madrugada.

Nessa terça-feira, 1°, pouco mais de 24 horas após o enterro de Suélen, a mãe estava em casa, sendo confortada pelos seus cinco filhos que lhe restam e que lhe dão forças para seguir em frente. Nesse momento, o apoio de amigos e familiares, tanto de perto como de longe, está sendo fundamental para enfrentar esse momento tão doloroso.

As lembranças boas que Suélen deixou também são um afago para a alma. “Em todas as pessoas que ela conhecia, ela plantava uma sementinha de felicidade”, recorda a irmã Marieli.

A mãe conta que todos os dias Suélen mandava mensagens, dizendo que a amava. E, mesmo morando em outro lugar, sempre vinha visitá-la. “Para mim ela era maravilhosa, linda, por dentro e por fora. Não tem como explicar o que estou sentindo”.

Dona Geni recorda da filha Suélen olhando as fotos que deixou (FOTO: Cleiton Zimer)

Tentou um novo começo

Suélen morreu ao 20 anos (FOTO: reprodução redes sociais)

Diante de alguns desencantos Suélen teria decidido mudar de vida recentemente, há menos de um mês. Ela morava sozinha, vendeu suas coisas e, junto a uma amiga, mudou-se para uma cidade do Paraná, onde recomeçaria a sua história. A mãe conta que ela ficou somente dois dias e, lá, entendeu que precisava ficar perto da família. “Mandei uma mensagem, dizendo para ela voltar e ficar comigo”. Ela voltou e ficou as duas últimas semanas na casa da mãe, antes de morrer.

“Ela estava tão carinhosa com a gente em casa. E ela não era de ser apegada nas pessoas”, lembra Geni.

A madrugada da partida que

ficará marcada para sempre

Era uma noite de alegria na casa da mãe de Suélen. “Estavam se divertindo, dançando. Era uma alegria enorme”, lembra a mãe que estava sentada e observando seus filhos.

Dona Geni não bebe, mas disse que os outros estavam consumindo bebida alcoólica, bem como Suélen e o motorista que estava conduzindo o carro no momento do acidente.

A irmã Marieli e a mãe Geni explicam que o homem não era o namorado dela. “Eles se conheceram há cerca de meio ano, numa relação que durou um mês no começo”. A mãe conta que, como estavam bebendo, Suélen colocou um status nas redes sociais que estava namorando. “Ela disse que logo de manhã já tiraria”. Mas, o amanhã não veio.

A despedida

Antes de sair de casa, Suélen se despediu da irmã Marieli com um abraço, dizendo que a amava. Marieli lembra que pediu para ela não ir e ficar com eles. Por cima dos ombros, avistou a mãe sentada ao fundo, ao lado do fogão a lenha. “Eu disse para ela se cuidar. Parecia que estávamos adivinhando alguma coisa”. Geni lembra ainda que se recorda de sentir um clima de desentendimento entre Suélen e o homem.

Geni foi se deitar. Mas logo se levantou. Ao fazê-lo, o telefone já tocou. Era da Emergência, informando que sua filha tinha sofrido um acidente e que ela era para vir ao Hospital.

Ao chegar lá, foi informada que o estado de saúde dela era grave. “Mas eu imaginava ela com um braço ou perna quebrado, e não naquele estado”.

Logo depois, veio a notícia do óbito. “Eu entrei em desespero. Um choque que vai ficar marcado para o resto da minha vida”.

 “Minha filha não vai voltar mais”

Ainda em choque e de coração partido, Dona Geni tenta encontrar forças para seguir em frente. “Eu não quero que nenhuma mãe passe pelo que estou passando. Eu sei como é triste. Não é fácil. Só quem passa para saber”.

Ela ainda diz que, se tiver a oportunidade, alertará qualquer jovem para não cometer erros que podem ser fatais. “Que eu consiga aconselhar que não faça”.

A mãe ressalta que, independente do que acontecer daqui em diante, nunca mais verá sua filha. “Ele pague ou não pague, minha filha não vai voltar mais”, disse, se referindo ao motorista que conduzia o carro.

Motorista foi preso por embriagues ao volante

O veículo Ford Ecosport era conduzido por um homem de 34 anos, morador de Dois Irmãos. A identidade dele não está sendo divulgada pelas autoridades. Alguns minutos depois de saírem da casa da mãe de Suélen, que fica na lateral da BR-116 no trecho conhecido como Curva da Maria, ele colidiu contra uma placa e um poste de concreto na Av. João Klauck. O acidente aconteceu às 3h10.

Imagens das câmeras de segurança ao longo da Avenida flagraram o veículo instantes antes do ocorrido. Conforme os registros, Suélen estava sem cinto de segurança, o que também foi relatado pelos socorristas.

De acordo com a Brigada Militar, ele se negou a fazer o teste do etilômetro. Mas os sinais de embriaguez foram constatados no local pelos policiais e, também, posteriormente, durante atendimento médico. Ele foi encaminhado para a DPPA e em seguida para o sistema prisional, sendo preso por homicídio culposo, mas foi solto horas depois diante da decisão do Poder Judiciário.

Um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias do ocorrido para, de acordo com o delegado Felipe Borba,“esclarecer os momentos anteriores ao fato e esclarecer à que título o indivíduo pode responder pela morte da sua namorada”.

A reportagem conseguiu acesso ao nome do homem. Foi tentado contato através das redes sociais, mas sem retorno até o presente momento.

Sair da versão mobile