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Família mantém antiga cachaçaria em Dois Irmãos
Filho conta a história da produção de cachaça
Por Carla Fogaça
Dois Irmãos – Foi com nostalgia que Herberto Feiten contou sobre o tempo em que produzia, junto com o pai, uma das cachaças mais conhecidas na cidade, a Bela Amiga. A produção da cachaça de alambique parou já tem 25 anos, mas o local onde o trabalho acontecia continua no mesmo lugar como era antes, em uma propriedade na lateral da rua Alberto Rübenich.
Em 1949, o pai de Herberto, Cláudio Feiten, começou de forma profissional a produção de cachaça e Herberto com mais 5 funcionários trabalhavam quase que de domingo a domingo. “Às vezes tínhamos folga nos domingos, mas quase sempre trabalhávamos, pois no verão não dava para fazer cachaça devido ao calor. Então, a gente aproveitava os dias mais frios” relembra, explicando que a produção ficava em estoque.
A cachaça era feita no engenho, que ainda existe, nos fundos da casa da família, no Travessão Rübenich. Se o vento estava norte demorava 24 horas para fermentar. “Depois a cachaça ia para os barris, ao todo dava para estocar 20 mil litros”, explica Herberto.
Concorrentes
Segundo Herberto, na época, não haviam concorrentes, pois apenas eles e uma outra família produziam cachaça na cidade de Dois Irmãos. Ainda assim, eles combinavam os valores que cobrariam “Não tinha essa de concorrência, se um subia o valor avisava o outro e o preço ficava igual”, lembrou.
A cachaça que a família produzia era envelhecida e natural, e a melhor que já existiu, garantiu Herberto. “Nunca encontrei cachaça boa como a que nós fazíamos. Hoje não se encontra como antigamente”. “Era um tempo bom, nos dias que os donos de bares vinham buscar seus pedidos traziam carne e saia um churrasco aqui mesmo. Ficavam horas aí comendo e bebendo a cachaça”, conta com entusiasmo Seu Herberto.
Quando os pais de Herberto ficaram doentes ele continuou por mais dois anos a produção de cachaça, mas depois decidiu parar. Então, em 1996, a Bela Amiga fechou definitivamente. “Eu fui para a roça e comecei a plantar aipim e batata”.
Cultivando memórias no Rübenich
Quem passa pela rua Alberto Rübenich não imagina que na propriedade da família havia uma cachaçaria e que as ferramentas usadas na produção ainda estão lá, intactas. Até já houve interessados na compra destes materiais, mas a família prefere não se desfazer, pois não há dinheiro que pague.
Ao relembrar do tempo de produção muitas histórias vieram à mente, porém, uma ainda consegue tirar sorrisos de Herberto. Segundo ele, um comerciante da época encomendou 80 litros de cachaça, mas quando veio retirar o pedido trouxe um barril de 50 litros. Herberto encheu e não tinha onde colocar os outros 30 litros, então, o comerciante falou que já havia pago 30 litros para seu pai e queria pagar somente os outros 20 litros. “Como meu pai não estava e eu não sabia se era verdade, falei que ele não ia levar sem pagar. O dono de bar correu e colocou o barril no porta-malas do carro e eu fui tirar. Acabei derrubando, perdi a cachaça, mas ele perdeu o barril”, conta, com sorriso no rosto”.
Questionamos sobre como seu pai, Cláudio, havia reagido quando soube do ocorrido e ele assegurou que teve o total apoio do pai.