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Feminicídio em Nova Petrópolis: três pessoas foram indiciadas em crime ocorrido em agosto

17/11/2021 - 12h11min

Fábio de Alvarenga confessou o crime (Créd.: Dário Gonçalves)

Nova Petrópolis – O inquérito sobre as investigações da Polícia Civil sobre o assassinato de Marli Salete Pinheiro Paes, de 41 anos, no início de agosto, foi encaminhado ao Ministério Público. Além do assassino Fábio Silva de Alvarenga, de 44 anos, que foi preso pouco mais de duas semanas após o crime, outras duas pessoas, um homem e uma mulher, foram indiciadas. Uma por ter acobertado o crime e ainda mantido Alvarenga, que fugiu para São Paulo, informado sobre os passos da polícia em Nova Petrópolis, e a outra por receptação.

De acordo com o delegado Fábio Idalgo Peres, responsável pelo caso, foram cometidos cinco crimes no total: Feminicídio, Ocultação de Cadáver, Furto, Receptação e Favorecimento Real. Ao assassino Fábio Silva de Alvarenga, foram imputadas as acusações dos três primeiros, já que foi ele quem matou a vítima a facadas, escondeu seu corpo em um cobertor e o colocou atrás da cama, e ainda furtou objetos dela, como o celular e uma televisão que vendeu para conseguir dinheiro para a fuga.

Já o crime de Favorecimento Real, ou seja, a ajuda fornecida para Alvarenga sobre informações do que ocorria em Nova Petrópolis, caiu sobre o homem que auxiliou o assassino também na venda do televisor em um comércio da Vila Germânia. Por fim, a dona deste comércio, que comprou o aparelho por R$ 400,00 foi indiciada por receptação. Os dois estão em liberdade aguardando o inquérito, enquanto Alvarenga segue preso preventivamente à espera do julgamento, no Presídio Estadual de Caxias do Sul.

Marli tinha 41 anos (Créd.: Divulgação)

Relembre o caso

Há três meses, no dia 4 de agosto, em uma quarta-feira, a Brigada Militar foi acionada para verificar uma denúncia de um possível homicídio em uma casa na rua Prefeito Halbano Hansen, na Vila Germânia. Chegando ao local, os policiais arrombaram a porta da residência e encontraram o corpo de Marli enrolado por um cobertor e escondido atrás da cama. A vítima tinha ferimentos de facadas e, pelo seu estado, já estava morta há pelo menos dois dias. Em seguida, a Polícia Civil e o Instituto Geral de Perícias foram chamados para dar início às investigações e remoção do corpo.

Busca pelo suspeito

Logo que o crime foi confirmado, Fábio Silva de Alvarenga, natural de Governador Valadares/MG, e que morava em São Paulo, se tornou o principal e único suspeito do assassinato, que tão logo foi classificado como feminicídio pelo fato dele ter tido um breve relacionamento com a vítima. Todos os indícios levavam a Alvarenga porque ele mesmo havia dito ao marido de outra mulher com quem ele se relacionou, que havia matado Marli, e que o mesmo poderia acontecer a este homem e a esposa, caso ela não reatasse o relacionamento com ele.

Fábio Silva de Alvarenga foi preso em São Paulo (DG – Créd.: Polícia Civil)

Além disso, Alvarenga havia levado o celular de Marli, e com acesso às redes sociais dela, começou a fazer postagens no facebook da vítima debochando do crime e ameaçando outras pessoas, inclusive os policiais. Cerca de duas semanas depois, no dia 16 de agosto, Alvarenga foi localizado pela Polícia Civil de Nova Petrópolis e São Paulo em uma pensão na zona norte da capital paulista. Ele foi preso e trazido de volta para o município onde cometeu o feminicídio para prestar depoimentos.

Mesmo com o assassino atrás das grades, a Polícia Civil continuou trabalhando nas investigações para descobrir quem o havia mantido informado sobre sua busca, até que chegou em outro homem que, como já citado, foi indiciado por Favorecimento Real. Já a mulher indiciada por receptação já havia sido identificada no dia após a descoberta do crime. Na ocasião, a televisão, que inclusive estava suja de sangue, foi recuperada e mais tarde restituída para a família.

Vítima foi morta como forma de aviso

Fábio de Alvarenga e Marli Salete Paes se conheceram por redes sociais e se encontraram pessoalmente apenas duas ou três vezes, incluindo o dia do crime. No entanto, o objetivo de Alvarenga era usar Marli contra sua ex, que morava no mesmo bairro.

O assassino conseguiu persuadir Marli a espionar e passar informações para Alvarenga sobre essa ex-mulher. Ela, inclusive, chegou a mandar fotos para ele mostrando a rotina da ex. Sem conseguir reatar o relacionamento com a mulher, que já havia voltado para o marido, Alvarenga assassinou Marli no dia 1º de agosto, dentro da casa dela. A vítima foi morta com golpes de faca no abdômen e no rosto.

Fábio se exibia com o celular da vítima (Créd.: Divulgação)

Alvarenga ainda permaneceu por mais de 24 horas na casa até fugir para São Paulo, como será descrito mais para frente. Depois de deixar Nova Petrópolis, o assassino começou a ameaçar o marido de sua ex dizendo que Marli estava morta e o mesmo aconteceria com eles. Ao receber essas mensagens, o marido ameaçado acionou a Brigada Militar informando sobre o crime cometido.

Como tudo começou

No final de 2020, morando em São Paulo, Alvarenga conheceu uma moradora de Nova Petrópolis via redes sociais. Os dois começaram a se falar e, no dia 25 de dezembro, Natal, esta mulher deixa o marido e passa a morar junto com Alvarenga em Viamão, região Metropolitana de Porto Alegre. Ela, inclusive, levou junto os filhos deste casamento.

Porém, o novo casal logo começou a ter problemas. Depois de algum tempo, Alvarenga agrediu a mulher e ela foi à Polícia Civil pedir uma medida protetiva. Informações extraoficiais dizem que esta mulher engravidou de Alvarenga, mas perdeu a criança ao ser agredida. Depois disso, ela retornou para o marido em Nova Petrópolis e Alvarenga voltou para São Paulo.

Obsessão

Segundo o delegado Fábio Idalgo Peres, Alvarenga era completamente obcecado por esta mulher e não aceitava o término do relacionamento. Mesmo na capital paulista, ele buscava sempre manter contato com a mulher e estava inconformado com a separação. Aproveitando que a ex tinha depressão e fazia uso de medicamentos, também conforme explicou o delegado, Alvarenga conseguiu com que ela deixasse o marido mais uma vez e viajasse a São Paulo para ficar com ele.

Da mesma forma que em Viamão, as agressões retornaram em São Paulo e de novo a polícia foi acionada. O local onde eles estavam vivendo possui forte atuação do tráfico de drogas, e o fato de que “uma mulher de fora” havia chamado policiais para a área gerou descontentamento em outros criminosos. Com medo de Alvarenga e dos vizinhos, a mulher conseguiu retornar para Nova Petrópolis com a ajuda de familiares e sem o consentimento do namorado. Uma vez mais, ela retornou ao convívio com o marido.

Fábio de Alvarenga exibia fotos com arma (Créd.: Divulgação)

Marli entra na história

Deixado e ainda mais obcecado, Alvarenga começou a ir atrás de informações sobre a mulher, e buscou pessoas que pudessem ter uma ligação próxima com ela. Então ele descobre Marli. As duas haviam sido colegas de trabalho e moravam na Vila Germânia.

Iniciando um relacionamento virtual, Alvarenga passou a usar Marli para saber tudo sobre a ex-mulher. Ela começa a fotografar e filmar a ex-colega e informar tudo ao criminoso. Desta vez, a mulher não cede a pressão e não aceita voltar para Alvarenga. Com a nova rejeição, ele decide vir para Nova Petrópolis, já no meio deste ano, para ir atrás da amada e tentar, de novo, levá-la para São Paulo.

Alvarenga a encontra e pede para reatarem. Ela nega e, como possuía uma medida protetiva contra ele, resultado das agressões anteriores, chama a polícia. Quando ele estava na rodoviária de Nova Petrópolis prestes a deixar o município, a Polícia Civil o prendeu. Estes fatos aconteceram no dia 27 de julho, uma terça-feira, quatro dias antes de Marli ser assassinada.

Delegado Fábio (esq) juntamente com o preso e a Polícia Civil de São Paulo

Liberdade provisório e feminicídio

A prisão de Fábio Alvarenga na Penitenciária Estadual de Caxias do Sul durou apenas quatro dias. Sem maiores provas para mantê-lo atrás das grades, recebeu sua liberdade provisória no sábado, 31 de julho. Sem rumo, ele retorna para Nova Petrópolis e vai até a delegacia tentar reaver seus pertences que haviam sido apreendidos no momento de sua prisão. Porém, a unidade policial só reabriria na manhã de segunda-feira, 2 de agosto, e ele precisou esperar o fim de semana passar para voltar ao local.

Nisto, decide ir para a casa de Marli, ainda no sábado, 31. Ambos consomem bebidas alcoólicas e, na madrugada já do dia 1º de agosto, ele esfaqueia e mata a companheira. De acordo com a Brigada Militar e Polícia Civil, não havia sinais de briga no local, o que indica que a vítima nem mesmo teve chances de se defender.

24 horas com o corpo

Ainda faltavam mais de 24 horas para a delegacia abrir na manhã de segunda-feira. Alvarenga, portanto, permaneceu na casa da mulher que matou por todo esse tempo sem que ninguém soubesse do acontecido. Para não manter contato com o corpo, ele o enrolou em um cobertor e o colocou atrás da cama. Na manhã seguinte, o assassino foi à delegacia e recuperou seu celular e outros objetos. Como até aquele momento não se sabia do feminicídio, não havia motivo para prendê-lo.

Alvarenga deixa a delegacia e retorna para a casa de Marli, que continuava na casa. No caminho, encontrou a ex e a ameaçou. Ela inclusive estava com a filha no momento. Já na casa da vítima, ele furta objetos pessoais e leva sua televisão. Testemunhas que já desconfiavam da presença dele pela vizinhança o fotografaram carregando a TV em plena luz do dia na companhia de outro homem, que veio a ser indiciado por Favorecimento Real. O aparelho é vendido e o dinheiro é usado para dar início a sua fuga.

Fuga e captura

Ainda na noite de segunda-feira, 2, Alvarenga foi para Porto Alegre, onde passou a noite. Na manhã seguinte, fugiu para São Paulo utilizando um aplicativo de

caronas. O assassino já estava longe quando passou a ameaçar a ex-mulher e a família dela. De posse do celular de Marli, ele fez postagens em nome dela, como já mencionado, e fez mais ameaças. Somente na quarta-feira, 4 de agosto, o crime foi descoberto. A esta altura, Marli já estava sem vida há três dias.

Aos policiais, ele chegou a dizer que nunca seria pego e que não havia prova contra ele, já que a faca usada para matar não foi encontrada. Mas todo o seu deboche e desrespeito só o mantiveram na mira da Polícia Civil. Então, na segunda-feira, 16 agosto, duas semanas após o crime, ele foi localizado e preso em São Paulo. O delegado Peres, que viajou para sua captura, não deu detalhes de como chegaram à sua localização, apenas disse que foi um trabalho em conjunto entre as forças policiais de Nova Petrópolis e de São Paulo.

Neste meio tempo entre a descoberta do crime e a prisão, a família da ex-mulher foi retirada de Nova Petrópolis como forma de proteção. Já a família da vítima fatal passou a ser monitorada, uma vez que ela nunca foi alvo do criminoso.

Preso na capital paulista, Alvarenga permaneceu sob custódia por alguns dias, enquanto agentes da DP de Nova Petrópolis viajavam para São Paulo para buscá-lo. Fábio Silva de Alvarenga chegou algemado de volta a Nova Petrópolis no fim da tarde do dia 19 de agosto. Ele foi interrogado, confessou o crime e disse estar arrependido. Depois disso, foi levado para o presídio, onde permanece.

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