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Furto de energia elétrica para minerar criptomoedas em Morro Reuter é um dos maiores já vistos no RS
Por Cleiton Zimer
Morro Reuter – Em um cálculo mais preciso feito pela RGE, no qual foram analisados os materiais e, também, as medições feitas na usina clandestina de mineração de criptomoedas em Linha Cristo Rei, no interior de Morro Reuter, foi apontado que o rombo é muito maior do que se acreditava previamente. O local gastava próximo à R$ 82 mil de energia elétrica por mês para tocar as máquinas – a estimativa inicial era de R$ 30 mil. Em nota oficial divuldada pela concessionária, o prejuízo calculado desde fevereiro de 2021 é de R$ 900 mil.
A informação foi divulgada na tarde de ontem, 2, pelo delegado Felipe Borba, da Delegacia de Dois Irmãos, que coordena as investigações. De acordo com ele, a RGE informou que esta foi a maior recuperação de energia elétrica oriunda de investigação policial no Rio Grande do Sul.
A repercussão da operação policial percorreu o Estado, levantando o alerta na região para a possibilidade de delitos de tamanha proporção em outras cidades. Inclusive, chamando a atenção da presidência da RGE.
Dono é empresário de 31 anos
A chácara onde o crime ocorria foi descoberta pela Polícia Civil de Dois Irmãos, através da Operação Krypto, na manhã de terça-feira, 1º, após semanas de investigações. O dono, um empresário de 31 anos, foi preso em flagrante por furto qualificado.
Morador de Novo Hamburgo, ele foi detido em uma das empresas que possui em Campo Bom, mas também atua em Dois Irmãos e demais cidades da região. Ele foi conduzido até a DPPA de Novo Hamburgo e, lá, o juiz homologou o flagrante, concedendo liberdade provisória desde que pagasse fiança de R$ 10 mil e respeitasse algumas condições. Ele não tem antecedentes, de acordo com a polícia.
Além dele, um outro homem, identificado como sendo o chacreiro contratado para cuidar do local – com passagens por roubos, foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo, tendo sido encontrado um revólver calibre 38 municiado na residência anexa ao terreno da dita usina. Ele também foi liberado após pagar fiança.
Um sistema complexo e milionário
A estrutura, que contava com uma espécie de subestação de energia, com transformador e complexo sistema de cabeamento, espantou os técnicos da concessionária, que comentaram que somente o transformador custaria em torno de R$ 100 mil. No interior da construção, semelhante a um bunker, foram localizadas 106 máquinas mineradoras de criptomoedas, sendo que cada uma é avaliada por volta de R$ 9 mil.
No local haviam caixas novas de mineração, com várias peças de informática. Algumas outras máquinas já haviam sido descartadas então, se acredita que elas poderiam ser para reposição, ou, até mesmo, para ampliar o negócio, já que tinha espaço para isso.
Conforme comentado pelo delegado Borba, o investimento em estrutura e equipamentos utilizados ultrapassou, sem dúvida, mais de R$ 1 milhão. A operação contou com o apoio do IGP e da RGE, justamente para resguardar todos os indícios comprobatórios de fraude, com o intuíto de encaminhar a devida responsabilização.
Material apreendido será usado para restituir o prejuízo
As máquinas mineradoras foram apreendidas diante da necessidade de garantir o ressarcimento para a companhia de energia elétrica. Mas, o destino é incerto. Se, eventualmente, o sujeito ressarcir a empresa por outros meios ele deverá, igualmente, demonstrar a origem lícita dos itens, com a devida documentação, para ter direito a tê-los de volta.
Funcionários da RGE podem estar envolvidos
A investigação vai prosseguir, no intuito de averiguar a responsabilização criminal de quem contribuiu com a prática ilícita, principalmente em relação aos profissionais que viabilizaram a instalação elétrica, havendo suspeitas de que seriam funcionários da própria empresa concessionária.
Atividade não é ilegal, mas a possibilidade de lucro é inviável legalmente
Informalmente, o empresário confidenciou para a Polícia Civil que a usina de mineração de criptomoedas lhe rendia o equivalente a R$ 12 mil por mês, efetuada a devida conversão, eis que o rendimento se dá em dólar.
O delegado Borba explica que a investigação demandou muitas pesquisas e estudos por parte dos agentes. “Por meio dessas pesquisas é que esclarecemos que a atividade de mineração de criptomoedas, apesar de lícita, acaba associada à prática de furto de energia elétrica, vulgo “gato”, uma vez que o número de equipamentos necessários, com estrutura complexa de refrigeração e de isolamento térmico e acústico, conjugado com o valor da energia elétrica no País, dificulta a obtenção de lucro”.