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Inquérito é aberto em Estância Velha para investigar suposto caso de estelionato

29/01/2021 - 17h09min

Atualizada em 29/01/2021 - 17h24min

Por FÁBIO RADKE

contribuiu JÉSSICA RAMOS

 

Estância Velha – O responsável pela operação de uma loja de venda de materiais para reforma e construção de imóveis, a JM Shopping da Construção, Alecsandro da Costa, procurou a reportagem do Jornal O Diário, para apresentar sua versão sobre as denúncias de suposto estelionato. Ele não havia sido localizado na primeira reportagem sobre o caso.

O fechamento da loja com retirada de materiais, a falta de informações precisas sobre a movimentação e o paradeiro do empresário e da companheira Natércia de Paula Moreira, resultaram em boletins de ocorrências e a abertura de um inquérito policial. Parceiros comerciais ainda acreditam que possam ser vítimas de um golpe milionário.

Alecsandro alugou no ano de 2018, um prédio na Avenida Walter Klein, em Estância Velha, adquirindo as operações do estabelecimento. Estoque, veículos, móveis, o CNPJ e o quadro de funcionários, passaram a ser responsabilidade de investigado. A abertura de uma construtora e compra de outros empreendimentos também foram feitos por ele para a consolidação de outros negócios suspeitos.

 

Alecsandro apresenta sua versão

Alecsandro e a companheira afirmam que não são verdadeiras as acusações do ex-proprietário, que segundo o casal, tenta de forma apelativa “tomar o que vendeu sem querer pagar nada, alegando no pedido de arresto a liquidação do seu próprio empréstimo”. O crescimento do negócio, aumento da linha de produtos, novo layout e qualidade de atendimento, são os motivos apresentados para o suposto arrependimento. Alecsandro alega ainda que encontrou dificuldades na cobrança dos prejuízos gerados por má fé do antigo proprietário, pela má conservação do prédio, entre outros problemas.

O empresário explicou ainda que ao longo de dois anos e meio de trabalho, sempre cumprir com obrigações que vão de aluguéis, custos operacionais a fornecedores. “O ano de 2019 foi um ano muito difícil economicamente falando, por conta dos altos juros bancários e a incerteza de um novo governo, o que interferiu de forma que retraiu os investimentos no setor da construção, que é um dos maiores balizadores da economia no país e mesmo assim mantivemos todos os nossos compromissos em dia”, acrescenta.

A pandemia e prejuízos decorrentes de um golpe foram apontados como a causa de um revés no ano de 2020. “Sofremos uma paralisação das atividades de mais de quinze dias o que afetou inicialmente nossas economias, e no decorrer do ano levamos um golpe gerado por uma construtora no valor de quase R$ 400 mil reais em títulos pré-datados, afetando ainda mais o fluxo de caixa da empresa. Não bastando tudo o que ocorreu, tivemos o aumento expressivo e desproporcional dos preços dos materiais de construção que nos prejudicou diretamente no cumprimento da continuidade e finalização de obras que estavam em andamento pela nossa construtora”, disse.

 

Problemas de saúde

A razão pela saída do Rio Grande do Sul é justificada pelo fato de Alecsandro, a companheira e filho, terem sido diagnosticados com Covid-19. “Minha companheira, já tendo doença preexistente, diabetes tipo 1, procurou atendimento médico no Hospital de Novo Hamburgo, onde o médico plantonista que a atendeu não havia solicitado nenhum exame complementar para avaliar a evolução do quadro viral. Como ela estava sentindo muita fraqueza e dores nas costas, dia após dia, decidimos que ela e meu filho buscariam atendimento fora do Rio Grande do Sul, onde esta obteve tratamento imediato bem como amparo dos familiares”, alega.

O agravamento do quadro viral da companheira na véspera de Natal e pandemia teriam contribuído para o fechamento temporário da empresa. “deixando a empresa, demos férias coletivas para os funcionários e me desloquei até a localidade onde minha esposa estava internada em estado grave, por conta da doença e em decorrência das comorbidades pré-existentes. Em data de reabertura mandamos funcionário realizar a abertura da loja e o mesmo foi impedido de entrar nas instalações da empresa por conta de uma ordem judicial em caráter liminar buscada pelo ex-proprietário, alegando que: “estávamos fugindo da cidade, para se furtar de pagar credores, bem como havíamos tirados todos os produtos da loja”, disse negando a veracidade da denúncia. Ele ainda acrescenta. “Nunca houve má fé e o intuito sempre foi continuar com o negócio sendo impedido por hora por má fé de terceiro. Salienta-se ainda que por hora enquanto houver restrição judicial a loja permanecerá fechada, entretanto assim que nos for autorizado pelo juízo, voltaremos com o negócio”, finaliza.

 

Retirada dos materiais

A retirada dos materiais de construção da JM Shopping, no período de Natal, chamou a atenção da comunidade estanciense. Desconfiados pelo movimento, alguns clientes buscaram informações. A justificativa de férias foi a resposta dada pelo empresário consultado por parceiros comerciais. Já os funcionários da loja não compartilharam a mesma informação. A alegação era de que uma filial seria aberta em Novo Hamburgo, e por causa disso, era feito o transporte do estoque. A colocação de tapumes aumentou ainda mais a desconfiança. As portas seguem fechadas e obras contratadas não foram retomadas agora em janeiro.

 

Ex-proprietário dá sua versão

O ex-proprietário do estabelecimento, Gabriel Brandt, classifica como mentirosa a versão dada pelo empresário Alecsandro. “Vendi a operação e aluguei o prédio. Ele se apresentou como consultor de empresas e o foco dele eram empresas em recuperação judicial. E o nosso estabelecimento com CNPJ de 30 anos de credibilidade era um prato cheio”, disse.

Gabriel contabiliza um valor de mais de 300 mil reais de aval em aberto entre empréstimo, aluguel e multa de rescisão do negócio. Ele assegura que outros contratos também foram fixados na região. “Ninguém mais do que eu tentou ajudar ele. Eu conheço esse ramo. Comecei a desconfiar quando uma grande rede de material de construção, da qual já fazia parte, não quis aceitar ele. Foi quando investiguei e descobri que tinha uma metalúrgica toda estourada (quebrada) e que, segundo ele, era de um litígio de uma ex-esposa”, acrescenta.

A saída da família para a cidade de Cuiabá e a utilização de caminhões com placas de fora do estado, para a remoção dos materiais reforçaram a tese de Gabriel quanto ao descumprimento de negócios fechados pelo empresário Alecsandro.

A reportagem do jornal O Diário apurou que as três empresas de Alecsandro estavam registradas no nome da companheira Natércia. Ainda surgiram outras ocorrências contra o investigado. A partir da compra de uma olaria em Feliz, Alecsandro utilizou o CNPJ da olaria encaminhando cinco empréstimos, que somam em torno de R$745 mil, além do refinanciamento de um caminhão, no valor de R$165 mil e um consórcio de R$5 mil.

 

Inquérito policial foi instaurado

O responsável pela Delegacia de Polícia Civil de Estância Velha, delegado Rafael Sauthier, afirma que um inquérito policial, relacionado ao suposto estelionato, foi instaurado. Segundo ele, o caso envolve muitas vítimas, e que elas procuraram a polícia, com documentos em mãos, para registrar boletim de ocorrência.

O advogado de Alecsandro Costa também foi recebido pelo delegado. “Ainda não temos uma definição sobre o caso, pois estamos reunindo documentos e buscando entender o que de fato aconteceu, bem como quais crimes podem se configurar”, explicou o delegado.

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