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Ivoti100: o projeto que planeja a Ivoti do futuro
Felipe Faleiro
Ivoti – Como planejar a cidade de daqui a algumas décadas? Sustentável, tecnológica, cada vez mais conectada, organizada, segura, desburocrática e com claras diretrizes urbanas e rurais são algumas das metas que podem estar presentes como resultado final. E se o futuro está cada vez mais próximo, dadas as inovações existentes a todo momento, é preciso pensá-la desde já.
É o que a comunidade de Ivoti está se mobilizando para fazer. Moradores e representantes de entidades se articulam desde o início deste ano em um projeto chamado Ivoti100, cujo objetivo primordial é construir um município que reúna, de maneira eficiente, todos os itens listados anteriormente, sem abrir mão da característica qualidade de vida já existente.
Ivoti, hoje, tem 56 anos desde sua emancipação. O nome Ivoti100 se refere ao planejamento progressivo para que, quando o município completar 100 anos, em 2064, as grandes mudanças estruturais estejam concluídas. “É uma ideia defendida e validada pela comunidade, e é algo que não tem precedentes”, afirma o prefeito Martin Kalkmann.
Ainda que tenha o aval e o incentivo da Administração, não há nenhum dinheiro público envolvido, já que o Ivoti100, nas palavras do prefeito e do vice Marcelo Fröhlich, “é da comunidade e para a comunidade”. A iniciativa não tem vínculo partidário, e, conforme o grupo, instiga a pensar a longo prazo, a deixar um legado para as gerações futuras, com ações que iniciam desde agora.
Contratação de escritório
Para colocá-lo em prática, o grupo contratou o escritório SG Urbanismo Inteligente, de Gramado e Canela. A SG ajudou, por exemplo, a elaborar o projeto Nova 2050, que realiza o planejamento estratégico em Nova Petrópolis, e executou trabalhos semelhantes em Gramado e Monte Verde, distrito de Camanducaia (MG).
Um dos representantes da comunidade, Donato Dilly, morador de Ivoti, é um dos mobilizadores do Ivoti100. Ele conta que a ideia surgiu a partir das pedaladas feitas pelo grupo Bodega’s, do qual ele é integrante, feitas em outras localidades. “Nos colocamos à disposição para ver o que a gente poderia contribuir com melhorias para o município, com trabalhos para o futuro”, diz ele.
O grupo foi gestado no dia 3 de janeiro, data registrada em ata mantida por Donato. Lá, cada integrante colocou suas impressões. “Nosso grupo de pedal oportunizou caminhos e realidades de cidades vizinhas, o que nos levou a perguntar: ‘Qual legado nós queremos deixar para Ivoti?’, sem pretensão política, mas voluntária”, escreveu ele.
Rapidamente, o que era uma ideia se tornou uma ação efetiva, com a mobilização de mais pessoas da comunidade, além da Associação pelo Desenvolvimento Turístico de Ivoti (Adetur), Sebrae e o Sicredi, que forneceu um aporte financeiro para o projeto. O Ivoti100 hoje tem uma marca consolidada, e um vídeo institucional foi criado.
“É uma ideia defendida e validada pela comunidade. Algo que não tem precedentes”
Como o projeto foi desenvolvido na prática
Entre os que entraram de cabeça na proposta, estão o diretor do Instituto Ivoti, Everton Augustin, a presidente do Apae Ivoti, Irene Rübenich, César Wecker, do CDL Estância Velha e Ivoti, o diretor da Cachaçaria Weber Haus, Evandro Weber, o diretor do Supermercado Kern e da rede Unisuper, Marcos Kern, entre outros.
No dia 21 de janeiro, Donato e Marcos se reuniram com o prefeito Martin e o vice Marcelo, e trouxeram a proposta, que foi aceita quase imediatamente. Em seguida, foi feita outra reunião com a secretaria de Turismo de Nova Petrópolis, e, em abril, um encontro com Valmor Heckler, coordenador do Nova 2050, para coleta de ideias. A partir daí, surgiram os demais nomes.
O slogan do Ivoti100 é “Compromisso com o futuro”. A logomarca transformou os dois zeros do número 100 em um símbolo do infinito. O projeto foi feito pela Agência Escape, de Novo Hamburgo. “Não estamos fazendo isto para a gente, mas pensando, em primeiro lugar, nos nossos filhos, e todas as outras gerações que virão”, pontua o diretor da Escape, Saul Scheid.
Outra característica visual do logotipo é a possibilidade de o mesmo ser utilizado com várias cores de fundos diferentes, conforme o manual da marca, remetendo à pluralidade de ideias e visões de mundo a serem incorporados pelo projeto. Mas talvez a ideia mais ousada é a criação de um manifesto, em formato de uma mensagem vinda do futuro.
“O desafio de criar este posicionamento levou em conta o seguinte: como vai estar Ivoti, nós e nossos filhos daqui a 43 anos? Com que idade eles estarão? Tudo isso meio que assusta um pouco. Então, resolvemos fazer as coisas ao contrário, pensar em como seria se alguém nos mandasse uma mensagem do futuro”, afirma Scheid.
A intenção, neste caso, segundo os mobilizadores da ação, é criar um exercício de imaginar que as ações feitas neste momento, e no futuro imediato, podem refletir lá adiante, quando Ivoti chegar ao seu centenário. A forma como será este futuro, portanto, depende do que será feito pela população de agora, não esquecendo também de como o passado nos trouxe até aqui.
“Levamos em conta o seguinte: como vai estar Ivoti, nós e nossos filhos daqui a 43 anos?”
Como será a execução do Ivoti100
O argentino Daniel Capolare, sócio-diretor da SG Urbanismo Inteligente e morador da Serra Gaúcha, conversou com o Diário sobre a execução do projeto em si. De acordo com ele, se tudo correr da forma esperada, o contrato deve ser assinado já na próxima semana. A partir daí, são aproximadamente sete meses para a elaboração das diretrizes do Ivoti100.
A intenção inicial é estruturá-lo por meio de oficinas participativas, de maneira que haja uma agenda norteadora para a criação de diretrizes socioambientais, culturais, urbanas e econômicas. Nestes encontros, a comunidade vai poder participar e dar suas ideias, que serão levadas em consideração na criação do plano.
“Sempre dizemos que a sociedade organizada dá a garantia deste tipo de processo. A população, e não apenas a Administração Pública, vai se apropriando do mesmo, e assim, ele consegue ser sustentável. Chamamos isto de democracia participativa”, comenta Capolare. Isto é feito a partir de quatro “missões”, como define o método de trabalho da consultoria.
A primeira delas é obter o reconhecimento do território, ou seja, conhecer o município, as características de sua cultura e o diagnóstico da atual situação da gestão. Depois, vêm as oficinas, onde são trabalhadas e debatidas estratégias para o município a partir das questões levantadas anteriormente.
A terceira missão, na realidade um conjunto das duas primeiras, é chamada de relação espacial com o território: como as estratégias (2ª missão) se aplicam no município (1ª missão). A última é a criação de uma forma de gestão para implantação do(s) projeto(s) definido(s) na missão anterior, com o apoio de setores-chave da sociedade.
“Sempre dizemos que a sociedade organizada dá a garantia deste tipo de processo”
Marca do Ivoti100 poderá ser usada em diversos conceitos (Créditos: Divulgação)
Revisões para acompanhar as mudanças na sociedade
Para que a proposta possa ser validada, o prefeito Martin Kalkmann afirma que, depois de todos estes trâmites, esta agenda deverá virar um projeto de lei, a ser votado na Câmara. Na última segunda-feira, antes da sessão ordinária, representantes do Ivoti100 estiveram na sede do Legislativo apresentando a proposta aos vereadores.
Mas, como pensar um futuro tão distante, sendo que não há ideia de como será a sociedade daqui a algumas décadas? “É uma agenda estratégica, não é algo fechado. Pense na sua agenda de trabalho, que está sempre aberta para novas coisas”, diz Capolare, que é arquiteto e urbanista pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP) e mestre em Desenvolvimento Sustentável.
Para isso, tanto Martin, quanto Daniel, sugerem constantes revisões na proposta, por exemplo, a cada cinco ou dez anos, de acordo com a realidade e a urgência do momento. “Não quer dizer que não possamos incluir um novo projeto daqui a um ano, porque surgiu uma nova necessidade”. Um exemplo de situação adversa que pode requerer uma mudança é a atual pandemia da Covid-19.
Os próximos passos imediatos, depois da assinatura do contrato, serão oficinas estabelecidas pela Prefeitura e entidades representativas de Ivoti, e a postagem deste material em um espaço online, onde haverá um local para as opiniões da população. “A comunidade será convidada para estes encontros, até porque haverá diferentes formas de participação”, comenta o sócio-diretor da SG.
Esta agenda que será construída a partir da participação da comunidade vai orbitar outras legislações fundamentais, que dizem respeito ao planejamento urbano, como o Plano Diretor, norteando e agilizando a revisão periódica também destas legislações. “Eu diria que a agenda é um grande instrumento de instrumento de políticas públicas para o município”.
Membros mobilizadores
- Marcos Kern
- Donato Dilly
- César Wecker
- Everton Augustin
- Evandro Weber
- Irene Rübenich
- Saul Scheid
- Marcelino Anschau
- Martin Kalkmann
- Marcelo Fröhlich
- Entidades: Sicredi, Sebrae e Adetur