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Jovem de Morro Reuter mantém a tradição e nutre profundo carinho por seus bois

19/09/2021 - 20h41min

O jovem Daniel segue mantendo as tradições; a junta de bois é sua companhia inseparável e seu avô Belmiro sempre o ajuda (FOTO: Cleiton Zimer)

Por Cleiton Zimer

Morro Reuter  / Bela-Hú – O jovem Daniel Espig, 22 anos, mora com os pais na localidade de Fazenda Padre Eterno, no interior de Morro Reuter. De segunda a sexta-feira ele trabalha em uma empresa de alimentos em Picada São Paulo e, todos os finais de semana e feriados, vai na casa dos avós em Bela-Hú, Sapiranga, onde mantém a tradição da família, na lida com a agricultura.

E mais, além de trabalhar, nutre um sentimento de profundo carinho por sua junta de bois que já têm há três anos: o Faceiro e o Mineiro, os quais considera como sendo seus companheiros inseparáveis. Na verdade, quase tudo o que faz é em prol da junta; nos finais de semana corta pasto, separa silagem para que, durante a semana, o avô só tenha que alimentar eles – cuidam dos bois juntos.

O vô Belmiro ajuda no trato da junta de Daniel durante a semana; os dois trabalham juntos (FOTO: Cleiton Zimer)

O pai, Otávio Espig, 53 anos, trabalha com lenha; sua mãe, Rosane Flasch Espig, 48 anos, em uma fábrica de calçados em Padre Eterno Ilges, interior de Santa Maria do Herval. Na Fazenda, onde moram, eles têm uma casa, mas sem roça – ficam lá para poder ir ao serviço.

Desta forma, todos os sábados de manhã vão até Bela-Hú, onde moram os pais de Rosane – seu Belmiro Flasch, 72 anos, e Eldi Flasch, 68 anos. Lá eles também construíram uma casa onde, futuramente, pretendem morar por definitivo. Enquanto isso não acontece, ficam lá de sábado a domingo. A família sempre reunida é um presente sem igual.

A família toda: avó Eldi, mãe Rosane, avô Belmiro, Daniel e o pai Otávio (FOTO: Cleiton Zimer)

Nunca cogitou abandonar as raízes

Daniel relata que gosta de roça desde criança. “Quando eu ganhava férias na escola sempre vinha na casa dos avós e ajudava eles”. Explica ia junto descascar árvores de acácia e fazia os serviços na lavoura.

E de fato, desde pequeno, Daniel sempre trabalhou por vontade própria. Sua mãe confirma que ele estudava meio período e, no restante, ajudava um vizinho. Lá, ganhava seu dinheiro e economizava. Depois, ao se formar no ensino médio, começou a trabalhar na Nutrifrango onde permanece até hoje.

Mas mesmo indo para uma indústria alimentícia de grande proporção, nunca cogitou em abandonar as suas raízes. Ele insiste em continuar se dedicando à roça e aos animais durante o final de semana, para dar seguimento ao legado da família cujo exemplo veio através dos seus pais, avós e bisavós. “Não quero perder a cultura da minha família. Vou seguir enquanto eu puder”.

“Sem os bois, quase não tenho vida”

Daniel fica entre o Faceiro e o Mineiro (FOTO: Cleiton Zimer)

Daniel, com a ajuda do avô, coloca a canga no Faceiro e no Mineiro; eles obedecem a cada comando seu, que em nenhum momento precisa levantar a voz. Depois eles vão puxado a carroça onde carregam o pasto que vão comer durante a semana.

Daniel segue na frente, guiando-os por uma corda. O avô Belmiro segue em cima da carroça, controlando o freio nas descidas; eles se revezam.

Os bois andam calmamente, sempre pressa, a exemplo da vida no Bela-Hú. “Eles são meus amigos, se eu não tenho eles me fazem falta. Sem os bois, quase não tenho vida”, afirma o jovem.

Ao chegar em casa, solta a junta que pasta livremente no pátio, ao lado do galpão. Daniel entra no meio deles, faz carinho e eles retribuem, erguendo as patas sem qualquer sinal de agressividade. “No sábado e domingo eles são minha diversão. Esta é uma vida que não tem preço, o tempo passado rápido e é divertido”, finaliza.

“É um garoto bom, dedicado”

Daniel é o único neto de Belmiro. O avô conta que sente orgulho do homem que ele se tornou. “É um garoto bom, dedicado. Trabalha fora e nos finais de semana vem aqui. É bom ver meu neto valorizando a colônia”.

Belmiro trabalhou na roça por quase 50 anos; hoje, ainda produz algumas coisas. Além da junta de bois do neto, tem mais duas terneiras e um gado de corte na propriedade.

Uma história de batalhas vencidas

Outra prova do carinho de Daniel pelos animais está na sua relação com os cães da família (FOTO: Cleiton Zimer)

Daniel nasceu com uma deformidade na face, mas nada que afetasse o seu cognitivo. Passou por diversas cirurgias desde criança. Enfrentou e venceu todos os desafios junto à família.

Com o ensino médio completo, ainda não está totalmente certo se vai ou não continuar estudando. Mas, se for, não resta dúvidas do caminho que seguirá. “Quero trabalhar com animais e ajudar eles. Se eu estudar, farei veterinária”, finaliza.

O amor pelos animais também é evidenciado pelos cachorros que fazem a guarda da propriedade. Todos bem alimentados, limpos e alegres; ficam em torno de Daniel, que os recebe com carinho.

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