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Lindolfo: “Sem minha filha, tenho me sentido perdida”, diz mãe de Gabriela

24/12/2020 - 09h03min

Debora de Morais diz que adolescente gostava de planejar o futuro

Lindolfo Collor – Amorosa, alegre, esperta e de forte personalidade. É assim que Debora de Morais descreve a filha, Gabriela de Morais Gross, que morreu na última sexta-feira, ao receber uma descarga elétrica quando retornava para a casa da mãe, no bairro Petry.

Em Lindolfo Collor, para passar o final de ano e o período de férias ao lado da mãe, Debora conta que uma das formas que a adolescente mais gostava de aproveitar o tempo livre era assistindo desenhos animados asiáticos, conhecidos como ‘animes’. Apaixonada por praia e aficionada por animais, aos 13 anos ela já planejava o futuro e cogitava ser médica veterinária.

“Era praticamente uma criança e já estava preocupada em como seria seu futuro. Fazia planos, queria morar em cidade grande, em um apartamento e se preocupava em como teria dinheiro para pagar”, conta a mãe, sorrindo com a lembrança.

Os fios energizados que acabaram por interromper os planos de Gabriela estavam no chão por conta de um acidente que havia acontecido momentos antes da fatalidade. Um veículo que passava pela Estrada 48 Baixa em alta velocidade, perdeu o controle e colidiu com um poste de luz, que acabou ficando tombado no meio da rua por mais de uma hora.

“Foi tudo muito rápido, muito de repente. O que mais tem me confortado é saber que eu disse para ela que a amava em todas as oportunidades que eu tive. Ela era muito amada por mim e pelo pai, e ela sabia disto”.

“Ela era especial”

Durante todos os seus 13 anos e meio de vida, Gabriela morou em Horizontina. Natural da cidade, até dois anos atrás ela dividia a casa com a mãe e com o pai, Arlei Weber Gross. Com o fim do relacionamento de 15 anos, Debora voltou a residir em Lindolfo Collor, para ficar perto de sua família. No entanto, para se manter próxima aos – não poucos – amigos que havia feito na escola onde estudava e dos familiares com quem passava boa parte do tempo, Gabriela escolheu ficar na cidade, morando com o pai.

Apesar da distância de quase oito horas, a relação de proximidade entre mãe e filha foi mantida. Conforme narra Debora, sempre que tinham a oportunidade, passavam um tempo juntas. Com as aulas remotas, Gabriela conseguiu passar um período mais longo ao lado da mãe, retornando para sua cidade natal apenas para auxiliar o pai que havia passado por uma cirurgia.

“Ela era muito cuidadosa, então voltou para Horizontina para estar ao lado do pai no momento em que ele precisava de cuidados. Ela se preocupava, queria ela mesma fazer tudo por ele. Ela era especial”.

Nos últimos dias de vida de Gabriela, mãe e filha aproveitaram o período juntas para conversar sobre a vida e fazer atividades que agradavam ambas, como caminhadas e passar um tempo em casa. Para Debora, eram formas “incríveis” de acompanhar o crescimento da filha.

“Recentemente eu havia entrado de férias. Estava já há um tempo pensando nas coisas que poderíamos fazer neste período em que ficaríamos juntas. Infelizmente, muito do que eu ainda queria fazer com ela, eu não vou mais poder”.

“Perdemos o que mais amávamos”

Na tarde da última sexta-feira, as duas estavam sozinhas em casa quando souberam do acidente que havia acontecido em frente à casa de Debora. Ela conta que quando perceberam estar sem energia elétrica dentro de casa, ficaram um pouco preocupadas com o tempo que levaria até a luz retornar e, por isto, decidiram ir até o mercado.

“Normalmente quando falta luz aqui na região ficamos mais de um dia sem energia elétrica. Então, o principal motivo de irmos até o mercado, foi comprar velas”.

Do momento em que saíram de casa até poucos momentos antes do acidente que tirou a vida de Gabriela acontecer, a mãe conta que as duas estavam – como de costume – brincando uma com a outra e se divertindo. “Nossa maior preocupação era se, ao chegar em casa, primeiro tomaríamos banho ou jantaríamos”.

Debora conta que apesar de ter alertado a filha para passar com cuidado e tomar certa distância dos fios, viu que havia um grande fluxo de pessoas na volta e que, como não havia nenhum tipo de sinalização bloqueando a passagem, seguiram em frente, pois era o único local pelo qual conseguiriam acesso à casa.

“Penso que a morte da minha filha foi ocasionada por uma série de situações que talvez pudessem ter sido diferentes. Nada que eu faça vai trazer ela de volta, mas o meu desejo é que fatalidades como esta que a levaram não voltem a acontecer com mais ninguém”.

Ainda tentando voltar à rotina pausada desde o final da última semana, Debora comenta que ela e o pai de Gabriela têm se apoiado para encontrar uma forma de passar por esta fase de luto. Além do apoio dos amigos da filha, ela fala que tem tentado se manter entretida para não pensar na cena do acidente.

“Quando temos filhos, nossa vida se volta inteiramente para eles. Tudo que fazemos é pensando no bem-estar deles. E agora eu só consigo me sentir perdida. Eu e o pai dela perdemos o que mais amávamos”.

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