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Máscara Roxa: onde e como mulheres podem denunciar agressores nas farmácias da região
Região – É fato que a violência doméstica preocupa toda a sociedade e causa muitas marcas, muitas delas para sempre, no corpo e na alma das vítimas. E uma iniciativa pioneira no Rio Grande do Sul possibilita que as mulheres possam denunciar os agressores em locais como farmácias, além das delegacias. A região da Encosta da Serra também aderiu à ideia.
A campanha, intitulada “Máscara Roxa”, tem apoio de instituições como o Ministério Público (MP), Tribunal de Justiça do RS, Polícia Civil e Brigada Militar. A campanha se baseia em uma rede voluntária, composta por diversas redes varejistas como unidades na região. Conforme o MP, os atendentes foram capacitados, inclusive para garantir a segurança da vítima.
Em todo o Estado, participam, em um primeiro momento, estabelecimentos das redes Farmácias Associadas, Vida Farmácias, Preço Mais Popular e Agafarma, mas a campanha é aberta a todas as interessadas, bastando entrar em contato com o MP. As farmácias participantes recebem o selo “Farmácia Amiga das Mulheres”. 1.314 unidades já estão participando.
“Os estabelecimentos foram pensados exatamente por serem de fácil acesso e não suscitarem desconfiança dos agressores, além de sempre ficarem abertos, mesmo nos períodos mais rígidos de isolamento”, afirma a promotora de Justiça Carla Souto, da Promotoria Especializada de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.
Responsável pela Associadas de Presidente Lucena, a farmacêutica Jaqueline Corrêa da Silva celebra a iniciativa. “Todo tipo de ajuda que as mulheres podem ter neste sentido é válido. É uma oportunidade importante que elas têm de expor esta situação”, comenta ela. Jaqueline confirma que a unidade recebeu orientações, mas crê que a região tem relativamente poucos casos.
“É uma oportunidade importante que elas têm de expor esta situação” – Jaqueline Corrêa da Silva, farmacêutica
Pandemia pode provocar aumento de casos, diz delegada
Os números vêm ao encontro de uma grande preocupação: de que a pandemia de Covid-19 possa acarretar em um aumento nas ocorrências, já que as pessoas estão mais em casa, e por consequência as mulheres estariam mais suscetíveis às agressões. Até por isso, a campanha Máscara Roxa deve vigorar durante enquanto houver a quarentena.
“A questão da violência doméstica é um somatório de fatores, na realidade, familiares, sociais, econômicos, uso de drogas, entre outros. Nesta época, isto tem se agravado em função da ansiedade pela crise. As mulheres têm se tornado mais vítimas neste período”, afirma a delegada titular da Delegacia de Dois Irmãos, Ariadne Langanke.
“Violência doméstica é um somatório de fatores” – Ariadne Langanke, delegada de Dois Irmãos
Mais de 220 casos denunciados na região em 2020
Neste ano, os onze municípios cobertos pelo Diário tiveram o registro de 225 casos, entre ameaças, lesões corporais, estupros, feminicídios consumados e tentados. A estatística é liderada por Estância Velha, com 93 registros, embora em janeiro, fevereiro e março, antes e durante a quarentena, tenham havido mais ocorrências do que abril, maio e junho (até o momento).
Depois, aparecem Dois Irmãos, Nova Petrópolis e Ivoti, nesta ordem. Em último, está Presidente Lucena, com apenas uma ocorrência de ameaça em março. No Estado todo, os feminicídios aumentaram 66,7% em abril de 2020, em relação a 2019, segundo a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), passando de seis para dez no período.
Segundo a delegada Ariadne, na segunda-feira, 22, houve uma reunião entre as titulares da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de todo o Rio Grande do Sul para tratar da campanha. “O projeto busca demonstrar às mulheres gaúchas vítimas de violência que elas podem estar isoladas, mas não estão sozinhas”, comenta a promotora Carla.
Como fazer a denúncia nas farmácias
* A mulher vítima de violência pede a máscara roxa na farmácia participante, que é a senha para que o atendente saiba que é um pedido de ajuda. O profissional dirá que o produto está em falta.
* A partir daí, ele coleta o contato da mulher para avisá-la quando a mesma chegar.
* Após, os dados da mulher serão repassados à Polícia Civil, via WhatsApp, para que o órgão tome as medidas necessárias.