Destaques
Nuvem de gafanhotos pode ter risco de chegar na Encosta da Serra, diz chefe da Agricultura
Região – Virou assunto em todo lugar: não bastasse a pandemia de Covid-19, as nuvens de gafanhotos agora assombram os gaúchos, preocupados com a movimentação dos animais na Argentina. Embora o risco cada vez diminua mais à medida que estes insetos revoam no território do país vizinho, a preocupação se dá pelo potencial risco às plantações no lado de cá.
Ainda que a onda dos gafanhotos, cujo nome científico da espécie é Schistocerca cancellata, não tenha ingressado de fato no Rio Grande do Sul, técnicos e fiscais do setor agropecuário estão preocupados com as altas temperaturas para esta época do ano. Segundo a Secretaria Estadual da Agricultura (Seadpr), o calor facilita a mobilidade dos insetos, que, ao menos, não transmitem doenças aos seres humanos.
Influência de fatores climáticos
Conforme o Ministério da Agricultura, não pode ser considerado de maneira isolada para a entrada destes insetos no território gaúcho, mas também a direção dos ventos, umidade do ar, entre outros fatores climáticos. O trabalho de fiscalização é realizado com o apoio do Senasa, serviço nacional argentino de apoio à agropecuária.
Em entrevista ao Diário (leia abaixo), o chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Seapdr, Ricardo Felicetti, aponta que o risco para chegada destes gafanhotos na região é remoto e pouco considerado, a partir das observações dos fiscais. Mas ele alerta que, caso a infestação seja generalizada, há o risco de ingresso destes insetos na região.
O que fazer caso sejam vistos os gafanhotos
A orientação é entrar em contato com a Divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Seadpr, em Porto Alegre, pelos telefones (51) 3288-6294 ou (51) 3288-6289, informando nome, CPF e localização ou município onde a praga foi vista. Também podem ser informados os sindicatos rurais, escritórios da defesa agropecuária, da Emater ou as secretarias municipais da Agricultura.
A opinião da Emater da região
Rodrigo Sasso, engenheiro agrônomo do escritório municipal de Ivoti
Paulo Roldan Pinto, chefe do escritório municipal de Linha Nova
Diário – Quantas nuvens são monitoradas atualmente pela Seadpr e quais seus riscos reais?
Ricardo Felicetti – Monitoramos diretamente a nuvem mais próxima, que está na província de Entre Rios, na Argentina, a 112km. Temos informações de outras duas: uma na Bolívia, e outra já em Formosa, território argentino, que veio do Paraguai. A movimentação é muito dinâmica, facilitada pelas altas temperaturas. Não sabemos se ela vai ingressar no Estado, se pode retornar em direção ao norte, onde se formou, ou se pode tomar a direção contrária, indo para o oeste. Com as condições climáticas, entendemos que essa nuvem tende a se direcionar para o sul, e depois retornar para o local de onde veio, permanecendo em solo argentino.
Diário – Por que as nuvens acontecem agora e não haviam em outros anos? Há possibilidade de haver mais ocorrências do tipo no RS futuramente?
Ricardo Felicetti – Essa formação é relativamente recorrente, tanto que a Argentina tem um programa nacional de manejo dos gafanhotos. A região do sul da Bolívia, sul do Paraguai e norte da Argentina é formadora de nuvens. A peculiaridade é que a nuvem que está próxima se deslocou para cá. Geralmente elas vão para o oeste da Argentina, e não é algo absolutamente anormal. A última nuvem que atingiu o Brasil foi em 1946, infestando o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Diário – Baseada na movimentação mais recente, há risco de alguma das nuvens adentrar no RS? O que poderia favorecer isto?
Ricardo Felicetti – Essa nuvem de gafanhotos se dispersa motivada pela ocupação de novos habitats, deixar novos descendentes nos territórios, e alimentação também, principalmente reprodução e dispersão da espécie. Há risco, sim, de ingressar no Rio Grande do Sul. Estamos nos preparando para uma situação destas. Não é um risco comum, mas existe esta possibilidade. Havendo ela, estamos admitindo e nos preparando para isto.
Diário – Esta espécie tem preferência por alguma cultura? Ela costuma viver no RS?
Ricardo Felicetti – Essa espécie de gafanhoto já ocorre aqui, só ela não causa estes problemas de migração porque ela não chega a se proliferar tanto. E aqui ela está sob controle. Na região de formação das nuvens ocorre uma proliferação maior, e essas nuvens acabam se formando, e migrando para outros territórios. Eles não têm uma preferência por cultura ou vegetal. Ela é uma espécie polífoga, que consome tudo que é vegetais.
Diário – Há risco de algum resquício da chegada desta nuvem na região?
Ricardo Felicetti – O risco de ingresso na Encosta da Serra é relativamente baixo neste momento. Se houver uma infestação generalizada de grandes proporções, e não for possível estabelecer o controle, aí sim há o risco. Por enquanto, ele é remoto e não é considerado. As atenções estão voltadas principalmente para a região de fronteira, mais próxima da nuvem.