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O que diz a Psicologia sobre os atos cometidos por “Padre” em Ivoti
Ivoti – Já está no presídio Dari Armindo Heidecke, 50 anos, o “Padre”, homem que esfaqueou o próprio filho durante um cárcere privado cometido na madrugada de quarta-feira, 3. A ocorrência foi na residência em que ele morava, na rua Albino Kern, bairro Sete de Setembro, e envolveu, nas negociações, a Brigada Militar e o Bope, de Porto Alegre.
O inquérito policial está com a delegacia de Ivoti, porém a Polícia Civil aguarda os últimos resultados das perícias para remeter o caso ao Fórum, onde a promotoria analisará a conduta de Padre durante a ação. Ele foi preso em flagrante no local. Conforme o Diário apurou, há possibilidade de enquadramento dele nos crimes de homicídio tentado, mais o cárcere privado.
O fato ainda causa questionamentos na comunidade. O principal deles diz respeito aos motivos que possam ter levado Padre a cometer o ato contra o próprio filho, já que o homem tinha uma vida considerada “normal” em sociedade. Padre e a esposa eram casados, tinham dois filhos e um histórico anterior conhecido de uma briga mais séria, antes da semana passada.
“Um sujeito inclinado a fazer o mal para outras pessoas, seja este mal algum tipo de abuso, a violência em suas mais variadas formas ou até mesmo o assassinato, pode parecer exatamente normal”, comenta o psicólogo especialista em Psicanálise e Prática Clínica, Luiz Mateus Pacheco, que atua no Núcleo de Atendimento Psicológico (NAP), em Novo Hamburgo.
Teorias que explicam o fenômeno da violência
Conforme Pacheco, “mais do que isto, muitas vezes são sujeitos exemplares na sociedade”. Questionado sobre a razão pela qual ele pode ter mantido em cárcere privado o próprio filho de 24 anos, o psicólogo salienta que há diversas teorias buscando entender o fenômeno da violência, entre elas, uma que aponta os atos como uma espécie de repetição dos comportamentos aprendidos.
“Para alguns homens, o papel de dominação e de poder cumpre um lugar de extremo privilégio na forma como percebem a si mesmos”. Na visão de Pacheco, um parceiro abusivo também é geralmente um “dependente na relação, sentindo ele próprio que não pode viver sem o outro, ou que a outra pessoa cumpre um papel de importância vital em sua vida”, comenta o psicólogo.
“Muitos crimes passionais têm como lógica a perda como uma espécie de morte”
“Desespero que beira a loucura”
Pacheco ainda comenta que a saída de outra pessoa, representada, neste caso, pela situação de separação do casal, “pode abalar a estrutura psicológica de um sujeito de tal forma que este sente como uma espécie de ameaça à própria vida”, e que, normalmente, há recursos para reconstruir a vida depois de uma situação conjugal similar.
“Mas como sobreviver a isso quando não há substituição possível ou quando aquilo que foi abalado possui importância fundamental? Neste cenário, a sensação de perder o chão pode levar ao desencadeamento de uma crise de tamanho desespero que beira a loucura”, diz ele, observando ainda que “muitos crimes passionais têm como lógica a perda como uma espécie de morte”.