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O que já estava complicado para os agricultores está piorando a cada dia que passa em Herval

01/04/2020 - 09h50min

Atualizada em 01/04/2020 - 09h52min

Baltazar teme perder toda sua plantação de batatas; algumas nem brotaram para fora do solo e, as que saíram, não conseguem se desenvolver (FOTO: Cleiton Zimer)

Santa Maria do Herval – Não, o coronavírus não é o único problema da região. Muitas coisas estão acontecendo além disso e, em todos os municípios dos arredores, os agricultores estão agonizando em consequência da estiagem que já vem se arrastando desde o final do ano passado. Os produtores, sempre fortes, tentam maneiras de superar a situação, mas, o que já estava difícil, está se tornando ainda mais complicado a cada dia que passa, a cada gota de água que deixa de cair do céu.

O solo está seco! Mesmo terrenos mais úmidos estão padecendo. Com isso, as sementes não estão mais brotando e, tampouco, conseguem a força necessária para sair da terra. As plantas que brotaram estão fadadas a queimar sob o sol escaldante, e não vão conseguir desenvolver seus frutos, pois precisam de água para que isso aconteça.

Mais uma vez, a natureza está sendo soberana. Tudo está dependendo dela. Agricultores estão indo dormir orando por chuva e, ao acordar, se entristecem por, mais um dia, terem que a ver suas lavouras secando.

Plantação de batata

A reportagem se deslocou até a localidade de Alto Padre Eterno, no interior de Santa Maria do Herval. Foi ver de perto a plantação de batata dos irmãos André Baltasar Sidegum e Cristiano Sidegum.

Na mesma plantação, da mesma variedade e plantada no mesmo dia, é possível notar o quão desparelhas estão as batatas (FOTO: Cleiton Zimer)

Baltazar conta que plantou 35 sacos de batata em meados de fevereiro. Ele contabiliza que, em tempos normais, deveria colher cerca de 350 sacos de batata nessa propriedade (o que representa 10 sacos a cada saco de semente plantada). “Mas com a estiagem, do jeito que está agora, acho que vamos colher somente 105 sacos (3 sacos de batata por saco de semente)”, diz ele, alertando que se não chover imediatamente não irão colher nada. “Não vamos conseguir nem tirar a semente que plantamos”, lamenta.

Investimento e perdas

Baltazar explica que, somente para plantar, teve que investir em 35 sacos de semente da variedade Asterix; 35 sacos de adubo; defensivos agrícolas; calcário; máquina para preparar o terreno e, posteriormente, para plantar; além disso, tem os cuidados pós plantio. Ele calcula que, se realmente tiver perda total, terá prejuízo que deve girar em torno de R$ 5 mil.

“Fazer o que?”, lamenta. “Vamos nos virando do jeito que dá. Mas imagina aqueles que tem roças maiores, que só dependem disso. Para esses é muito mais difícil, pois isso não está acontecendo só na nossa plantação, mas de todos”, explica, colocando a dor dos outros na frente da sua: um verdadeiro gesto de grandeza. “Eu ainda tenho outras coisas que posso fazer”, disse ele.

Baltazar mostra que algumas sementes – plantadas em fevereiro – não conseguem nem brotar para fora do solo (FOTO: Cleiton Zimer)

Baltazar destaca que essa plantação deles está em terras úmidas. Mesmo assim, não está se desenvolvendo. A situação é nítida: as sementes da mesma variedade foram plantadas em um único dia por um trator; na parte úmida, elas brotaram e cresceram, mas no mesmo local, na distância de uma verga, as sementes simplesmente não brotaram e, se brotaram, foi de forma fraca, completamente desparelha. “Os pés que cresceram já estão ficando amarelados e secos. Mais oito dias, se não chover, tudo vai morrer”.

“Nunca passei por isso”

“Tenho quase 40 anos; trabalho na roça desde os seis ou sete. Até hoje nunca passei por uma situação dessas. Claro, sempre teve secas por períodos prolongados, mas do jeito que está agora realmente nunca vi”, comenta, relembrando que, nessa mesma propriedade, no final do ano passado, colheram em torno de 250 sacos de batata. “Daquela vez também foi complicado: em setembro veio a seca, depois começou a chover e não parava mais e, em novembro, sempre estava nublado”, lamentou, explicando que para que a batata possa se desenvolver bem é necessário que haja sol e, claro, chuva e umidade. “Estão dizendo que abril ainda deve ser muito seco e, ainda na segunda semana, deve ficar frio. Se isso acontecer, vai ser muito complicado, pois a batata não se desenvolve no frio”, ressalta Baltazar, explicando que a colheita só pode ser feita em maio.

Plantação de milho

<10> Baltazar e Cristiano também plantaram cerca de oito propriedades de milho. “A Prefeitura plantou sementes no início de dezembro. Ontem fui olhar e as espigas até estão grandes, mas ao abrir contei cerca de 50 grãos”, lamentou, dizendo que plantou semente boa. “Paguei cerca de R$ 700 reais o saquinho”, disse Baltazar.

Baltazar conta que esses milhos deveriam ter ficado na altura dele. Mas não cresceram devido à falta de chuva (FOTO: Cleiton Zimer)

Pastagem 

Os irmãos tem 10 cabeças de gado. Baltazar informa que até plantou azevém para eles, mas o mesmo está crescendo de maneira uniforma devido à falta de chuvas. “A sorte é que temos silagem, pois se dependêssemos de pastagem ia ser perigoso, pois não é certo que vai ter para todos”, comenta.

Além disso, ele destaca que também plantou feijão que, da mesma forma, está sendo fortemente afetado pela estiagem.

A pastagem para o gado, da mesma forma como a batata, não está se desenvolvendo (FOTO: Cleiton Zimer)

 

A situação é muito séria  

O secretário da Agricultura do município, Jaime Morschel confirma a gravidade da situação. “O que mais nos preocupa é plantio da batata. Com essa seca ela não nasce, e a que nasce é muito desparelha”, explica.

O secretário destaca que isso pode se agravar, com a chegada do frio. “Esperamos que agora venha um pouco de chuva. E o que vai acontecer? Ela vai nascer tarde! Então falta vir uma geada cedo, aí acaba com tudo. Temos que rezar para que não venha geada cedo ou ao menos, que não venha antes de junho ou julho. Se isso acontecer, não vamos colher nada”, lamenta Jaime.

 Perda de até 90%

“Quando muitos agricultores acharam que o milho, aquele que veio mais cedo, teria se escapado – por ter formado espigas razoáveis – na verdade não foi isso que aconteceu”, disse Jaime.

“Hoje (terça-feira) iniciamos a colheita do grão e ainda estamos na colheita da silagem. Na silagem a gente já percebeu que deu uma quebra tremenda, uma produção em massa verde por hectare pelo menos 30% a menos”, destacou.

“Agora está vindo a surpresa do grão. O milho que foi plantando bem no início, lá na época das chuvas está um pouco melhor, e o que foi plantado depois, na metade de novembro, está dando uma quebra drástica, 50% a menos de quilos na balança”, explica o secretário, informando que o milho tardio, que está agora fazendo espiga, vai dar quebra de 80% a 90%. “Esse praticamente não tem mais volta”.

 

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