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Os 200 anos de Mathias Schütz, um pioneiro da Educação em Ivoti

23/08/2021 - 09h24min

Atual diretora, Cléia Severo, ao lado de um dos retratos de Mathias Schütz presentes na escola (Créditos: Felipe Faleiro)

Felipe Faleiro

Ivoti – A memória de Mathias Schütz está presente em toda a região. É inegável sua importância para o desenvolvimento da educação em Ivoti, nos tempos difíceis que foram os da imigração germânica, mas seu legado permanece e sempre é lembrado por seus contemporâneos. O nascimento de Mathias completa 200 anos nesta segunda-feira.

Schütz, nascido em Theley, na Alemanha, em 23 de agosto de 1821, principalmente é lembrado pela escola estadual que leva seu nome, e está situada na rua do Moinho, bairro Farroupilha. Contudo, os registros históricos mostram que ele foi um visionário, exímio batalhador pela qualidade da educação em um período relativamente precário em recursos, mas repleto de oportunidades.

Roque Amadeu Kreutz fez algumas dissertações sobre a biografia de Mathias Schütz. Conforme ele, Schütz era aluno dedicado e sábio, habilidades que contribuíram para sua própria formação como professor, especialmente matemática. Não pretendia sair de sua pátria, mas seu amigo Jacob Bard certa vez propôs a ideia, e ele embarcou em 1846 no navio Industriell.

Depois de alguns contratempos e atrasos no Rio de Janeiro, a embarcação seguiu ao Rio Grande do Sul. O navio chegou a Porto Alegre em 21 de setembro de 1846, e os imigrantes que já por aqui estavam, buscavam um docente para a localidade de Bom Jardim. Schütz foi imediatamente lembrado, pois havia demonstrado suas habilidades durante a travessia do Oceano Atlântico.

Foi recebido em São Leopoldo por um certo Sr. Kerber, que o queria para ser professor de seus filhos em Bom Jardim, e chegou à região por intermédio de um carroceiro. Chegando à localidade, teve boas impressões da comunidade, e logo se integrou aos costumes. Foi regente do coral comunitário entre 1849 e 1895, demonstrando grande habilidade com o canto.

Na ausência de padre, Schütz também presidia celebrações religiosas, já que a comunidade católica de Bom Jardim não tinha titular até 1859. Até então, vinham os sacerdotes Augustin Lepinsky, de Baumschneiss, e Johann Sedlach, de São José do Hortêncio. Ambos se hospedavam na casa do professor Mathias Schütz.

Túmulo de Mathias, Margarida e Heinrich no Cemitério Católico de Ivoti (Créditos: Felipe Faleiro)

Sepultamentos no Cemitério Católico de Ivoti

Não se sabe exatamente o número de filhos deixados por Mathias Schütz, mas há algumas certezas. Sua então esposa, Maria Konrad, deu à luz em 14 de janeiro de 1847, e 13 dias depois, ela faleceu. Mais tarde, Schütz se casou novamente, desta vez com Margarida Kirsten, que, por sua vez, morreu em 25 de janeiro de 1905.

Seu filho com a primeira esposa, Heinrich Schütz, nasceu em 27 de fevereiro de 1848 e faleceu jovem, aos 20 anos de idade, em 2 de novembro de 1868. Mathias, por sua vez, faleceu em 16 de setembro de 1896. Ele, Heinrich e Margarida estão sepultados no mesmo túmulo, no Cemitério Católico de Ivoti – na época, São Pedro de Bom Jardim.

Escola que leva o nome do professor é exemplo em Educação

O legado de Mathias Schütz está por todas as partes. Seus descendentes, espalhados por Ivoti e por toda a região, prosperaram em diversas áreas do conhecimento e do empreendedorismo, mas é na Escola Estadual Mathias Schütz, no bairro Farroupilha, que ele é mais visível. O colégio foi fundado por decreto em junho de 1962, e por lá passaram inúmeros homens e mulheres de destaque.

Na época de fundação, era a Escola Normal de Grau Ginasial Professor Mathias Schütz, e funcionava onde hoje é a UBS Central, na Av. Presidente Lucena, no Centro. Diretor da escola paroquial católica de Bom Jardim durante 50 anos, Schütz é relembrado também em dois quadros. Um deles está na biblioteca da escola, outro na entrada.

Um deles foi pintado por Maurício Weber, e o outro tem autoria desconhecida. O colégio teve diversas transformações, como a saída do então chamado ginásio, e a entrada das séries finais do primeiro grau. Em 19 de outubro de 1976, a escola inaugurou suas novas dependências, na rua do Moinho, 355. Em 1985, a Mathias Schütz pôde abrir turmas de 2º grau, mudando também de nome.

Quando iniciou, a escola tinha 42 alunos. Hoje, são 510 estudantes, distribuídos nos três anos do Ensino Médio, nos três turnos. O colégio se orgulha de preservar esta tradição, iniciado há dois séculos pelo imigrante germânico que praticamente revolucionou o ensino na então Bom Jardim. Em razão da pandemia, a escola não fará celebrações, segundo a atual diretora, Cléia Severo.

“Sabemos da importância do legado que o Mathias Schütz deixou para nossa comunidade nos dias de hoje. Ele era um pioneiro”, comenta ela, ao observar as telas dispostas na escola. Eventualmente, o colégio se dedica a preservar o túmulo de Mathias, como forma de homenageá-lo. Para celebrar os 200 anos de nascimento do professor, isto também será feito nesta semana.

Muitos moradores de Ivoti passaram pela Mathias Schütz, única escola pública de Ensino Médio do município. O colégio é referência em ensino, e cada vez mais demonstra sua importância no cenário regional. A preservação da memória do ilustre homenageado é vista como um norteador fundamental para que a Mathias siga formando jovens capazes e dedicados.

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