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Os relatos dos sobreviventes de grave acidente de trânsito em Ivoti

10/08/2021 - 09h22min

Atualizada em 10/08/2021 - 18h44min

Fabiana e Fábio, esposa e marido: acidentados no último dia 1º (Créditos: Arquivo pessoal)

Felipe Faleiro

Ivoti/Sapucaia do Sul – O casal Fabio Moura Santarem, 42 anos, e Fabiana da Costa, 40 anos, jamais vai esquecer o final da tarde do último dia 1º. Ambos desciam a Serra na motocicleta BMW da família, quando foram atingidos por um veículo Hyundai HB20, que cruzou a BR-116 para entrar em Ivoti. O veículo cortou a frente da moto.

O acidente deixou o casal ferido. Ambos foram atendidos por ambulâncias do Samu, além do Corpo de Bombeiros, e foram encaminhados ao Hospital São José, de Ivoti. Moradores de Sapucaia do Sul, ele mecânico preparador e ela financeira, haviam ido passar o dia na região. Tinham ido tomar um café colonial e retornavam para casa quando houve o choque.

Fabiana está em casa, se recuperando do acidente. Está com hematomas no braço direito, um joelho quebrado e um dedo do pé com luxações. Conta que o hospital de Ivoti fez um raio-X em si, porém a fratura não foi detectada na hora. “Como não tiraram minha roupa, e foi com a perna esticada, não viram que eu estava com o joelho aberto”, relatou ela.

Na segunda-feira seguinte, ainda com muitas dores, porém descritas por ela como “suportáveis”, ela tomou as medicações indicadas pelo hospital para que fossem amenizadas. Na terça, ela consultou no Hospital Unimed, em São Leopoldo, onde tem convênio pela empresa em que trabalha. “Passei por uma bateria de exames e o traumatologista disse que eu estava com a fratura exposta”.

O motivo do diagnóstico foi porque Fabiana perdeu a pele do joelho. “Fora todo o risco de infecção que eu corri nas 24 horas depois do acidente, e o traumatologista disse que eu deveria ter feito uma cirurgia nas primeiras seis horas depois”, relatou ela. Como não foi realizado, “agora é aguardar, não tem mais o que pode ser feito”, disse. O atestado recebido no São José foi de apenas dois dias.

“O traumatologista disse que eu deveria ter feito uma cirurgia nas primeiras seis horas depois do acidente”

Na Unimed, ela recebeu um atestado de 14 dias pela fratura na patela (osso na frente do joelho), e deve trocar o curativo no local a cada dois dias. “Depois desta situação toda, sim, creio que foram [Hospital São José] negligentes com meu atendimento. Infelizmente fui liberada com fraturas expostas que eles não viram”, relata Fabiana.

Fábio foi encaminhado a partir do São José até o Hospital de Pronto Socorro, em Canoas, referência em graves atendimentos. Quebrou a bacia em dois lugares, além do fêmur. “Como a dor dele foi muito forte depois do acidente, ele se encolheu todo em posição fetal, e quase não conseguia se mexer”, disse a esposa. Ele já fez três cirurgias, e aguarda para realizar pelo menos mais uma.

Internado no hospital, Fábio também conversou com o Diário e relatou como foi o acidente. Nas palavras dele, algum outro carro sinalizou para o HB20 cruzar a rodovia, mas, exatamente nesta hora, a BMW de Fábio e Fabiana estava descendo. “Eu já tinha arrancado para ir, estava a 10 ou 20 km/h. O motorista entrou ‘rasgando’”, disse. Segundo ele, o condutor da HB20 não prestou auxílio.

Acidente destruiu a moto e danificou a frente do HB20 (Créditos: Arquivo pessoal)

“Sensação é de impotência. Não estávamos correndo”

Fábio teve as lesões descobertas porque, segundo Fabiana, toda a roupa dele foi tirada para realizar os exames, ao contrário da esposa. Ele também questionou a atitude da PRF. “Como viram que não tinha sangue, só colocaram o carro e a moto para o lado da pista e disseram para cada um chamar seu guincho. Tinha sangue, só não estava à mostra”, comentou o mecânico.

Na semana passada, Fábio tentava transferência para o Hospital Universitário, também em Canoas, mas foi encaminhado para o São Lucas, em POA. O atendimento de Fábio no Hospital São José foi considerado adequado pela esposa dele. “Foram [São José] muito atenciosos com ele, se dedicaram bastante para atendê-lo, talvez porque a situação dele era mais grave do que a minha”.

Atrás da moto, vinham uma das filhas do casal, de 21 anos, mais o genro, em outra motocicleta. Foi ela que acompanhou ambos junto ao hospital e realizou os papéis na unidade de saúde. O genro permaneceu com a PRF. “Gostaria que as pessoas vissem que o trânsito está tão intenso, então que pensassem antes de se exonerar da responsabilidade”, comentou Fabiana.

“Recém tinha arrumado a moto. A sensação é de impotência. Não estávamos correndo. Passa um filme na tua cabeça, sair da rotina para um passeio e voltar neste estado. Para mim, foi um pesadelo, terminar como terminou. As pessoas têm que ter um cuidado maior”, desabafou Fábio com relação ao acidente. Ele e Fabiana são casados há seis anos, e têm quatro filhos, dois desta união.

O que diz a PRF sobre a ocorrência

Sobre esta ocorrência, a Polícia Rodoviária Federal afirmou que a atitude dos agentes no local foi “corretíssima”, disse o inspetor Felipe Barth, chefe da Comunicação da PRF no estado. “Quando você vai atender um acidente, o primeiro procedimento é a segurança no local. Não deixar outro acidente acontecer. Não acontecendo outro, vamos nos preocupar com as vítimas”, disse ele.

Sobre a chamada do guincho atribuída aos envolvidos, este é um procedimento padrão em ocorrências do tipo, diz Barth. “Se não houve morte no local e não é um acidente grave, com risco de óbito, e os veículos estão em dia, com todos habilitados, cada um é responsável pelo seu veículo. A polícia apenas fará a sinalização”, comentou o policial.

O que diz o Hospital São José

Questionado, o Hospital São José afirmou em nota que “a situação requer uma análise mais detalhada, para que os profissionais envolvidos possam ser ouvidos e os fatos sejam melhor esclarecidos.”

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