Pastor que tentou matar pai de fiel em Estância Velha vai a júri popular

Estância Velha – A juíza Mariana Costa Gama de Oliveira, da 1ª Vara Judicial de Estância Velha, decidiu que o pastor que tentou matar o pai de uma fiel, ao invadir a residência da família atrás da moça, será julgado em Júri Popular.

A decisão foi tomada na quinta-feira, dia 2, após conclusão de processo que se arrasta há dois anos. O advogado de defesa do réu pode tentar reverter a decisão com recursos ao Tribunal de Justiça (TJ/RS) e para o Supremo Tribunal de Justiça (STJ). Enquanto houver espaço para a defesa recorrer, a juíza não deve marcar a data do julgamento.

Ao decidir em levar o pastor assistente da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) a júri, a magistrada observou que, analisando as declarações prestadas pelas pessoas ouvidas durante a fase de instrução, há versões conflitantes acerca dos fatos, não sendo possível ter certeza do que efetivamente ocorreu.

E é exatamente por conta destas dúvidas, diz ela, que o caso deve ser apreciação pelo Tribunal do Júri, que é quem tem a competência de julgar crimes contra a vida.

DUPLAMENTE QUALIFICADO

A juíza Mariana de Oliveira também confirmou a manutenção das duas qualificadoras – motivo torpe e que dificultou a defesa – o que implicará no agravamento da pena caso o pastor seja julgado culpado pelo crime pelos jurados. A confirmação das duas qualificadoras é uma vitória do Ministério Público. Diante deste cenário, a pena do pastor pode variar de 12 a 30 anos de prisão, com a redução de ⅓ a ⅔ ao final do julgamento, em razão do homicídio ter sido na forma tentada.

Para MP, intenção do pastor era estuprar fiel

Em apresentar a denúncia, o Ministério Público considerou que o acusado agiu com a clara intenção de estuprar a fiel da igreja onde ele atuava. A hipótese ficou ainda mais evidente quando, durante a fase de instrução, a vítima confirmou que o pastor havia lhe questionado acerca da sua rotina dias antes de invadir a casa. O réu também teria se interessado sobre a rotina dos seus pais.

O promotor Bruno Amorim Carpes sinaliza que, no momento em que foi preso, o acusado estava com lacres de plástico – usadas por criminosos como algemas -, fita crepe e preservativos. Ainda, segundo a denúncia, o pastor entrou na casa usando touca ninja, cujo objetivo era o de dificultar sua identificação pela vítima, e fazendo o uso de chaves da própria casa. Ele havia, ainda segundo o MP, feito cópia da chave dias antes, aproveitando-se da inocência da moça.

Em depoimento, o réu confirmou que havia feito cópias da chave, mas afirmou que não foi necessário usá-las, já que a porta estava encostada. Negou, contudo, que sua intenção era de estuprar a filha da vítima. Disse, apenas, que sua intenção era dar um “susto” no homem, em razão de queixas feitas pela filha. Foi por isso, segundo ele, que usou a touca minja. O pastor assistente também não concorda com a acusação de que teria ferido o pai da fiel com uma ponta de lança (faca), e negou serem seus os preservativos apreendidos.

RELEMBRE O CRIME

O crime aconteceu às 7h40 do dia 4 de abril de 2017, na rua Acácia Mimosa, no Loteamento União. O pastor, que atuava desde março de 2015 como auxiliar em igrejas de Morro Reuter e Estância Velha, invadiu a casa de uma fiel e acabou sendo surpreendido pelo pai dela, que dormia na sala. Usando touca ninja e com uma faca em punho, o acusado tentou render a vítima, um autônomo de 48 anos. Os dois entraram em luta corporal, momento em que o pastor teria atingido a vítima com um golpe de faca no pescoço.

Depois que conseguiu fugir da casa, o pastor correu por cerca de duas quadras com a touca ninja. A vítima perseguiu o acusado e conseguiu alcançá-lo na rua Presidente Lucena, próximo a AABB Novo Hamburgo, mantendo-o rendido até a chegada da Ronda Ostensiva (Romu) da Guarda Municipal. Com o preso, a Guarda apreendeu a faca (uma ponta de lança), 12 algemas de plástico (lacres), duas camisinhas, um rolo de fita crepe, um óculos de sol e a touca ninja.