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Policiais Militares estão envolvidos em madrugada de crime em Nova Petrópolis

01/02/2021 - 14h42min

Tiros foram disparados por volta das 03h30 da madrugada (Créd.: Divulgação)

Nova Petrópolis – Depois de oito meses de apurações e mais de 600 páginas de processo, a Polícia Civil terminou as investigações sobre os mais de 30 tiros disparados contra uma residência na rua Estephano Novack, bairro Pousada da Neve. O setor de investigação, comandado pelo delegado Camilo Pereira Cardoso, indiciou cinco pessoas pelos disparos, entre eles, dois policiais da Brigada Militar de Porto Alegre. Outros dois atiradores foram identificados, além do mandante do crime, que ocorreu na madrugada do dia 17 de maio do ano passado, por volta das 03h30.

A motivação para o crime, que se pensava ser uma briga de família, vai além disso. De um lado, uma família de ciganos, de Porto Alegre, onde estava o mandante, do outro, uma família de ciganos de Veranópolis. O que ligava as duas era o casamento entre o rapaz, de 23 anos, da capital e mandante do crime, e a filha dos ciganos de Veranópolis. A relação foi rompida e, como se fosse uma mercadoria, a mulher foi devolvida para os pais. Arrependido do fim do relacionamento, o mandante, exigiu a mulher de volta, mas a família negou. Daí em diante, as ameaças começaram. Para facilitar o entendimento, chamaremos o casal pelos nomes fictícios de Bruno e Carla.

Cartuchos que ficaram pelo local (Créd.: Divulgação)

Bruno, de Porto Alegre começou a contratar pessoas para descobrir o paradeiro de Carla e demais familiares pois, por serem ciganos, vivem mudando de endereço. A família fugiu para Santa Catarina, e no início de 2020, Bruno os encontrou e provocou uma briga, inclusive batendo seu carro contra o de Carla. O caso foi parar na polícia catarinense. Meses depois, Bruno descobriu o endereço que a família de Carla possuía em Veranópolis e ordenou que atirassem contra a casa. Esse fato se repetiu em Nova Petrópolis, e, a partir daí, começaram as investigações.

Ameaças por WhatsApp

Ainda antes dos disparos em Veranópolis, no dia 19 de março, o pai de Carla registrou um boletim de ocorrência contra Bruno, que debochou. “Isso te deixa seguro? Tu vai se limpar com esses boletins depois de se c**** todo”, disse. Ainda segundo a Polícia Civil, a família dele sabia e apoiava as atitudes de Bruno.

A casa alvejada em Nova Petrópolis nunca teve moradores. A família construiu, mas não veio para o município. O pai de Carla denunciou Bruno como suspeito, a Polícia Civil conseguiu um mandado de busca contra ele, e foi ao endereço em Porto Alegre. Lá, apreenderam o seu celular e duas armas de fogo calibre .38 com numeração raspada, fato que o levou a ser preso em flagrante por porte ilegal de arma. Com o celular em mãos, a polícia conseguiu a autorização de um juiz para poder usar o aparelho, e então tudo foi esclarecido.

Conversas mostram as ameaças (Créd.: Dário Gonçalves)

Bruno ameaçava constantemente o pai de Carla por não devolver a garota. Em diversas mensagens, dizia que o mataria e que, se o pai não aparecesse, ele seria executado na frente da família. Em uma mensagem, Bruno escreveu: “E aí filho da ****, aparece! Se não a hora que eu te encontrar vou te matar na frente da sua família toda. Viu o que fiz na sua casa? Só pra saber que eu vou te matar. Estou na sua caça”.

Sabendo do endereço em Nova Petrópolis, Bruno mandou um homem, que é um dos cinco indiciados, vir conferir a casa. No dia 24 de abril, menos de um mês antes dos disparos, Bruno enviou fotos da casa ao pai de Carla e escreveu “Estamos aqui em Nova Petrópolis também. Está chegando sua hora”. Em diversas outras mensagens, o rapaz ameaçava e fazia xingamentos. Em uma das mensagens, mostrou fotos de uma pistola e várias balas, e mais uma vez ameaçou: “Dá o último beijo na mulher e na filha, porque sua hora está chegando. Fala pra família que é só você que vai pra vala”.

Policiais cobraram mais barato que matadores

A Polícia Civil não pode afirmar se o objetivo de Bruno era executar a família em Nova Petrópolis ou apenas dar um susto. O fato é que ele entrou em contato com matadores de aluguel, que se comprometeram a matar, incendiar, carbonizar e sumir com os corpos. No entanto, o preço cobrado por eles foi considerado alto demais e Bruno respondeu que só queria assustar.

Sem acerto com os assassinos, ele conseguiu o contato dos policias da Brigada Militar, que cobraram um preço bem mais acessível e se comprometeram a fazer o serviço. Então, na madrugada de 17 de maio, os dois policiais, o homem que veio primeiramente verificar o endereço, e um quarto homem, que pegou o carro com a namorada para o crime, vieram ao município e alvejaram a casa vazia. Os tiros destruíram o muro de vidro e deixaram marcas pelas janelas e portão. Câmeras de segurança na rótula de entrada do bairro registraram o momento em que o veículo deixou o local.

Carro usado no crime (Créd.: Divulgação)

Indiciamentos

Ao saber que haviam policiais envolvidos, o delegado Cardoso contatou a corregedoria que abriu investigação contra a dupla. Ao fazer isso, descobriram que eles estavam envolvidos também em outros crimes. Um deles já está preso, enquanto o outro foi afastado do serviço para maiores esclarecimentos. Os cartuchos encontrados na casa mostram que os tiros vieram de pistolas .40, armas usadas pela polícia. Agora, a perícia dirá se os disparos foram feitos com as próprias armas dos policias. Balas de pistolas .380 também foram encontradas.

Evidências da Polícia Civil (Créd.: Dário Gonçalves)

Os outros dois atiradores e Bruno, mandante dos disparos, também foram indiciados. Como não haviam pessoas na residência, o caso não é tratado como tentativa de homicídio, apenas como disparos de arma de fogo. Bruno também responderá por posse e porte ilegal das armas apreendidas durante o cumprimento do mandato.

Sobre a família vítima, a Polícia Civil não tem mais informações de seu paradeiro. O que se sabe é que eles nunca moraram na casa. Atualmente, as marcas de tiros ainda podem ser vistas no portão, parede e janelas da casa, somente o muro de vidro foi consertado.

Marcas ainda estão no portão da casa (Créd.: Dário Gonçalves)

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