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Políticos e economista opinam: não é o momento para aumentar salários de servidores
Região – Na segunda-feira, 27, o Diário mostrou um balanço do crescimento da arrecadação e junto o quanto inflou a folha de pagamento nos municípios de Dois Irmãos, Ivoti, Nova Petrópolis e Estância Velha no período entre os anos de 2002 e 2019. Entre os principais fatores encontrados para os crescimentos das despesas está o percentual de crescimento nos gastos com os servidores, que é muito superior ao da arrecadação anual. Nesses quatro municípios constatou-se que o crescimento médio da folha de pagamento foi de 567% para uma inflação de apenas 193,51% medida pelo IPCA. Ou seja, a folha de pagamento aumentou quase 3 vezes acima da inflação.
Diante destes dados e considerando que teve municípios que aprovaram aumentos de salários mesmo durante a crise mundial provocada pela pandemia do coronavírus, a população tem se questionado o porquê dos aumentos. O exemplo mais recente na região aconteceu em Ivoti, onde na semana passada Câmara Municipal concedeu reajuste de 4,28% para os servidores municipais. Na tarde da segunda o Diário entrou em contato com alguns representantes do povo nesses municípios para saber o que eles pensam de conceder reajustes salariais aos servidores em meio a uma crise econômica mundial, na qual muitos dos municípios não fazem a menor ideia de onde tirar recursos para enfrentar as despesas dos próximos meses.
O que pensam:
Dois Irmãos – Para o presidente interino da Câmara de Vereadores, Joracir Filipin (PT), esse é o momento de economizar. “Acho que nesse momento onde a gente puder cortar gastos é evidente que temos que fazer. Pelo que já pudemos perceber, a crise vai ser longa. Vamos ter que pensar em planos de ações para ajudar a população. O poder Público terá de ficar atento para buscar alternativas de manter os empregos na cidade. No nosso caso, tivemos apenas a reposição da inflação. E nossa Câmara tem gastos bem reduzidos, com poucas diárias”.
Nova Petrópolis – O presidente da Câmara de Vereadores, João Paulo de Macedo Viana, o Ceará, disse que não trata-se de um aumento de salário, mas sim de uma atualização nos valores, que ocorrem todos os anos, da mesma forma que o dissídio coletivo na iniciativa privada. Na maioria dos municípios, este projeto é votado até o mês de maio, mas que este ano o projeto ainda não foi encaminhado à Câmara. “Teve município que aprovou em janeiro, antes da pandemia, e não teve problemas. Ivoti fez isso agora e gerou uma confusão”, explicou.
Estância Velha – O vereador Valdeci de Vargas (PTB), o Django, disse ser contra os sucessivos aumentos na folha dos servidores municipais. Segundo ele, se isso continuar a acontecer, em poucos anos não será mais possível pagar. “Votei contra o último aumento e continuo com o mesmo posicionamento. Se houver alguma maneira de reverter isso, lutarei para aprovar”, afirmou. “Nós precisamos dar o exemplo, mas infelizmente não são todos que pensam assim” concluiu o vereador.
Estância Velha – O vereador Carlos Bonne (PDT) destacou que o aumento na arrecadação é previsto e necessário para o crescimento e deve ser buscado com afinco, com o incentivo legal para que empresas venham para o município, além do respaldo para as existentes. Quanto ao inchaço de servidores, Bonne afirmou que deve ser evitado. “Caracteriza a escolha falha de um mal gestor, ou seja, equivoco nas urnas”. Para ele, este aumento é positivo quando ocorre de forma natural “ligado diretamente ao crescimento do município e, por sua vez, das demandas, subtraindo o avanço de TI em busca do equilíbrio”, conclui.
Ivoti tem bom equilíbrio, avaliam vereadores
Em Ivoti, a arrecadação municipal superou a folha de pagamento dos servidores públicos à razão de mais de 100%, conforme dados publicados pelo Diário ontem. A reportagem conversou com dois vereadores com o objetivo de repercutir o assunto. Para o parlamentar Satoshi Suzuki (PP), houve uma clara e notável diminuição no número de servidores, o que não foi reposto por novas contratações. “As repartições estão cada vez mais enxutas, melhorando os gastos com recursos humanos. Acho que há profissionais que deveriam ter o aumento, porém muitos da comunidade não pensam o mesmo. Temos que ouvi-los”, afirma.
Já o vereador Márcio Guth (MDB) disse que os números se justificam pelos bons serviços públicos existentes. “Nunca houve um aumento absurdo no município, praticamente sempre foram aumentados os salários dos servidores pela inflação. Nossa população é bem atendida neste sentido, tanto em educação, saúde, quanto outras áreas”, comenta ele.
“É hora de sentar e negociar com o sindicato”
O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipal de Dois Irmãos, Bruno Augusto Psendziuk Rodriguez, ressalta que nos municípios em que representa (Dois Irmãos, Morro Reuter e Santa Maria do Herval) as negociações começaram muito antes de se falar em crise econômica motivada pelo coronavírus no Brasil. “No nosso caso, as tratativas aconteceram em fevereiro, usando como data base o dia 1º de março. Mesmo assim, a Constituição prevê aos servidores a garantia de, pelo menos, a reposição das perdas geradas pela inflação nos últimos 12 meses. Agora, diante da recessão na arrecadação, acredito que os municípios que estão sendo atingidos devam sentar e negociar com os sindicatos dos servidores. Se não pode dar um amento agora, então programa para dar mais para a frente. Esse é o momento de usar a criatividade e encontrar juntos uma solução”.
Palavra de economista
Nova Petrópolis – “Tudo isto está acontecendo na contramão do que a iniciativa privada está fazendo há muito tempo. Outro ponto: acho que deveríamos destacar a mais, que todas as categorias profissionais (inclusive os aposentados) têm seus salários reajustados pelo IPCA”.