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Região inteira emitiu tantos gases poluentes quanto Novo Hamburgo

11/03/2021 - 11h52min

Horizonte de Estância Velha, município que mais emitiu gases na região (Créditos: Felipe Faleiro)

Região – A emissão de gases causadores do efeito estufa é, atualmente, um dos principais problemas enfrentados pela humanidade. Seja por atividades industriais, automóveis, agropecuárias, como queimadas, ou demais formas, a presença destes materiais no ar preocupa pode acelerar as mudanças climáticas, contribuindo para o aquecimento global.

Um levantamento inédito, realizado pelo Observatório do Clima, e divulgado na semana passada, identificou o montante das emissões realizadas no ano de 2018 a nível municipal no Brasil. O estudo foi feito com o dióxido de carbono (CO2), um dos grandes vilões da poluição. Os dados mostram que a região emitiu, naquela ocasião, 472,5 mil toneladas deste gás na atmosfera.

Conforme o estudo, foram menos emissões do que o município de Novo Hamburgo sozinho, que lançou no ar 477,9 mil toneladas de CO2. Contudo, a região tem cerca de 100 mil habitantes a menos, fazendo que o montante emitido na Encosta da Serra por habitante tenha sido maior do que o mesmo índice da população hamburguense.

Os índices do Observatório do Clima consideram os seguintes itens: Agropecuária, Energia, Mudança de Uso da Terra e Floresta, Processos Industriais e Resíduos, bem como subitens, tais como as emissões por queima de combustíveis fósseis, pelo manejo de áreas florestais e inclusive por meio da compostagem, entre outros.

O problema não está apenas relacionado ao dióxido de carbono, mas também outros gases expelidos por atividades humanas, a exemplo do ozônio (O3), dióxido de nitrogênio (NO2) e dióxido de enxofre (SO2). Em diferentes graus, estes gases interagem com o ar e podem causar o fenômeno da chuva ácida, que prejudica a vegetação e corrói diferentes tipos de estruturas.

“As altas taxas de CO2 na atmosfera são um dos maiores responsáveis por grande parte de internações por asma e outros problemas respiratórios que podem levar a morte”

Daiane Bolzan Berlese, professora da Universidade Feevale (Créditos: Divulgação/Universidade Feevale)

Os impactos dos gases tóxicos na saúde humana

“As altas taxas de CO2 na atmosfera são um dos maiores responsáveis por grande parte de internações por asma e outros problemas respiratórios que podem levar a morte”, salienta a professora de Bioquímica da Universidade Feevale e do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Qualidade Ambiental, Daiane Bolzan Berlese.

Preocupa também a presença dos materiais particulados MP2,5 e MP10, que também são emitidos pelos processos de combustão. Eles penetram no organismo e podem causar várias doenças do trato respiratório, desde gripe e rinite alérgica, até alterações genéticas que potencialmente podem levar a infecções mais graves, como o câncer de pulmão.

“Os impactos da poluição na saúde humana estão diretamente ligados com doenças pulmonares, cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais, ao diabetes, prejuízo no desenvolvimento cognitivo em crianças e demência em idosos”, lista Daiane. A medicina lista também efeitos negativos na cabeça, boca e nariz, coração, fígado, baço, sangue e aparelho reprodutor.

Segundo ela, a maioria dos grandes municípios brasileiros não atendem aos requisitos de controle de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde (OMS). “E não existem penalidades se a legislação não é cumprida pelos órgãos competentes”, lamenta ela. Contudo, há iniciativas para minimizar o problema causado pelos poluentes.

“Os impactos da poluição na saúde humana estão diretamente ligados com diversas doenças”

Como buscar soluções para as emissões

“Diversos países controlam o fluxo de carros e motocicletas nas grandes cidades, formas de tecnologias limpas e renováveis, plantação de árvores, dentre outros meios. Mas ainda são medidas pequenas, frente a este grande problema”. Conforme ela, é preciso ter políticas efetivas contra as emissões, além de priorizar a produção de energia por meios renováveis, como solar e eólica.

No estado, a medição da qualidade do ar é feita pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), embora somente haja uma estação ativa, localizada em Canoas. Outras cinco, mantidas por empresas privadas, abrangem Esteio, Gravataí, Guaíba e Triunfo. O município que mais polui no Brasil, conforme o ranking, é São Félix do Xingu (PA), e no RS, a liderança está com Candiota.

O problema da poluição em números

  • Mais de 90% da população mundial não respira ar de qualidade aceitável
  • 7 milhões de mortes por ano são causadas no mundo pela poluição atmosférica, ou 11,6% do total
  • 600 mil mortes são de crianças
  • 15x mais óbitos é o que a poluição do ar causa em relação a guerras e violência em geral
  • 50 mil mortes por ano ocorrem no Brasil pela falta de políticas públicas de controle da poluição
  • 128 mil pessoas morrerão de 2018 a 2025 por causa da poluição em seis regiões metropolitanas brasileiras, onde vive 23% da população nacional

As emissões na região da Encosta da Serra

Município Emissões de CO2 (em toneladas – 2018)
Dois Irmãos 63.401
Estância Velha 88.786
Ivoti 49.163
Lindolfo Collor 21.767
Linha Nova 14.130
Morro Reuter 28.503
Nova Petrópolis 83.237
Picada Café 22.817
Presidente Lucena 23.330
Santa Maria do Herval 46.888
São José do Hortêncio 30.539
Total 472.561

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