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Empresário do ramo, Bruno Kunst aposta que Herval voltará a ser referência na produção de batatas
Por Cleiton Zimer
Santa Maria do Herval – Filho de Aloysio e Elza, Bruno Kunst vem de uma família de 11 irmãos sendo nove homens e duas mulheres. Começou sua infância trabalhando no antigo moinho do seu pai e do tio Arthur; descascavam arroz, faziam farinha e erva de chimarrão. Mais tarde cinco irmãos, através de uma sociedade, começaram a trabalhar com o comércio de batatas e cebolas. Alguns anos depois, no dia 7 de abril de 1993, Bruno optou por trilhar seu próprio caminho e fundou a empresa que leva o seu nome; hoje ela é comandada junto com seus filhos e emprega 15 funcionários na Vila Kunst.
Muita coisa aconteceu nesse período. Aos 69 anos, Bruno lembra das transformações de lá para cá. Não tinha maquinário e tecnologia à disposição como é hoje. Era tudo feito manualmente, na força dos braços; a comunicação só era possível presencialmente. A produção era feita em grupos familiares, que eram mais numerosas; as principais ferramentas eram carroças, juntas de bois e enxadas. O Herval era uma referência na região quanto à produção de batatas.
Bruno ia de caminhão até as propriedades dos agricultores para carregar cargas de batatas em sacos, e não em bag’s como acontece na maioria das vezes hoje. No começo elas eram lavadas no leito do Rio Cadeia, rolando os sacos até que o produto ficasse limpo. Ele lembra que, mesmo estando molhadas elas não apodreciam, ao contrário do que acontece hoje.
Não tinha esteira para carregar os caminhões. Só mais tarde foram compradas as máquinas. Negociar com algum produtor só era possível indo até a propriedade; não tinha como ligar para casa e saber o cenário do mercado para fazer o preço de acordo, pois não havia telefone.
Quando os cinco irmãos trabalhavam juntos, Bruno era comprador de batatas e cebolas além de motorista do caminhão. Ainda faziam Ceasa e, todos os dias, durante longos anos, tinha que acordar às 4h da madrugada para ir até lá e, ao voltar para casa, ainda era necessário lavar batatas para o dia seguinte. Ele lembra que não tinha feriado nem final de semana.
Ao começar a empreender sozinho, o primeiro caminhão de Bruno era um Mercedes 1618, de cor verde. Ele o comprou novo nos meados de 1990. Começou devagar. Quando os filhos cresceram passaram à ajudá-lo e isso permitiu uma abrangência maior de mercado sendo possível expandir para diversas regiões do Estado; hoje estão focados principalmente na Capital, atuando também em outras praças.
Em 28 anos de empresa, Bruno nunca havia passado mais de três dias longe do seu negócio. Era ele a abrir as portas de manhã cedo e a fechá-las de noite. As primeiras férias dele nesse período só foram tiradas quando iniciou a pandemia, no ano passado, deixando-o afastado da empresa por 13 meses.
O empreendedor avalia que com o surgimento das fábricas, nos anos 90, muitos saíram da roça. Mas considera que essa realidade está mudando com o surgimento das tecnologias que auxiliam o agricultor.
Nas últimas décadas a produção de batatas em Santa Maria do Herval pode ser analisadas através de dois períodos, divididos entre o antes e depois da vinda das fábricas de calçados. Bruno lembra que há alguns anos o município era referência regional na produção. “Naquela época comprávamos a maioria das batatas dos moradores daqui”.
Entretanto, naquele tempo, trabalhar na roça era ofício muito árduo por ser praticamente tudo manual e os resultados, assim como ainda é hoje, nunca eram garantidos. Dessa forma, com o surgimento das fábricas, muitos optaram por migrar para as indústrias que, além de não terem uma mão de obra tão pesada, garantiam um salário melhor.
Bruno lembra que, a partir desse período, a produção caiu muito no município. A demanda pelo produto, por outro lado, continuou aumentando nos maiores centros e eles precisavam continuar fornecendo o alimento. No período de 1994/1995 começou, então, o fortalecimento das parcerias para plantar batatas em diversas outras regiões, buscando beneficiar-se dos variados tipos de clima para ter produto disponível pelo maior período possível ao longo do ano.
Passaram a plantar em São Francisco de Paula, Lagoa Vermelha, Vale Verde e Ibiraiaras, de uma forma que pudessem vender o próprio produto por, pelo menos, dez meses em um ano. O que falta é comprado de terceiros. Seu filho, Daniel, explica que pelo potencial do Herval, seria possível ter ao menos uma carga de truck por dia pela quantidade de colonos que têm.
Bruno analisa que esse cenário está mudando novamente e aposta que, em cinco anos, a safra do Herval voltará a ser referência na região. Ele recorda do impacto que isso possuía há alguns anos, quando nas redondezas se falava que “Die Teewalde Kartoffel Koma noma” – “As batatas do Herval estão vindo de novo”.
Ele entende que os agricultores, inclusive mais jovens, estão voltando a comprar sementes e investindo na produção, o que está sendo possível através das novas tecnologias. “Quem não tem trator, a Prefeitura vai e arruma a terra. Muitos já se organizaram e colhem em bag’s que podem ser recolhidos com guinchos”. Adubos, da mesma forma, são comprados em bag’s, não sendo necessário muito serviço braçal durante o plantio, cultivo e colheita.
Em questão de qualidade, Bruno destaca que as batatas de Santa Maria do Herval são tão boas quanto às produzidas na Serra. “Os produtores daqui também utilizam defensivos e adubos, mas é bem menos que na Serra, pois o clima no Herval é mais propício ao planio de batata”. Daniel reforça a fala do pai, dizendo que não é uma questão do uso de agrotóxicos, mas de caprichar na produção, com a linha correta de produtos.