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Santa Maria do Herval: o namoro que começou a caminho do baile de Kerb da Serra Grande

12/05/2021 - 04h30min

João Blume e Maria Gerta Blume estão casados há 41 anos (FOTO: Cleiton Zimer)

Por Cleiton Zimer

Santa Maria do Herval – João, 63 anos, e Maria Gerta Blume, 61 anos, se conhecem desde criança. As famílias moravam próximas na localidade de Padre Eterno Ilges e, até mesmo, estudaram juntos na antiga Escola La Salle. Nunca passou pela cabeça deles, na época, que um dia se casariam, que constituiriam uma família e que a união durasse longos e prósperos anos.

Mas tudo mudou em uma noite de maio do ano de 1979 quando, a caminho do baile de Kerb de Serra Grande, os dois se encontraram. Na época as pessoas iam aos eventos a pé, pois não tinha outro meio de locomoção. Naquela noite, em algum lugar naquele percurso de 14 quilômetros, Gerta caminhava com mais duas amigas à caminho do baile e, de repente, João que também estava com um grupo de amigos, a passos largos, alcançou as moças. Ela tinha 18 anos e, ele, 20.

A partir de então eles caminharam juntos até o local do grande baile e, entre uma dança e outra, algumas cervejas, os olhares foram ficando mais íntimos e, o que até então era somente uma amizade distante, passou a ser um sentimento forte, que os uniu até hoje.

O baile foi em maio. João cortejou Gerta por mais meio ano. Iam juntos nas festas, se encontravam aos finais de semana nos jogos de futebol. O namoro começou, oficialmente, seis meses depois, em novembro. O sentimento era sincero, recíproco. Não demorou muito e João pediu a mão de Gerta em casamento. As famílias consentiram e o casório aconteceu em 5 de janeiro de 1980. Em 7 de dezembro daquele ano já nasceu a primeira filha do casal, a Caroline. Mais tarde ainda vieram o Miguel e a Karine. E, agora, já tem uma neta.

Os chinelos escondidos nos bailes e

as taquaras de churrasco das festas

Em julho de 1979, logo após o encontro no baile de Kerb da Serra Grande, João adquiriu seu primeiro veículo. Um Corcel duas portas. O pai dele havia comprado e repassou para o filho. Era um dos primeiros carros da redondeza. Depois trocou e pegou um Fusca. Além disso, João tinha duas juntas de bois, uma menor e uma maior, além de uma carroça nova, comprada no Alseno Schneider em Padre Eterno Baixo. Era um luxo comparado aos dias atuais.

Dessa forma, quando casaram, foram morar com os pais de João. Depois de algum tempo, construíram sua própria casa. Começaram trabalhando na roça, plantando de tudo um pouco mas, principalmente, batatas. “Plantamos juntos 75 sacos em cada safra. Quando tínhamos batata bonita, o preço era baixo; quando o preço era bom, a bata não era tão boa assim”, lembra João.

Depois de algum tempo, em meados de 1985, Gerta foi para a fábrica de calçados, na qual entre idas e vindas trabalhou até 2016, parando devido à uma cirurgia que João fez nas pernas, em decorrência do desgaste de ossos. Ele também atuou durante alguns anos na Prefeitura, como servidor, trabalhando na manutenção das estradas. Hoje os dois estão aposentados; trabalham um pouco em casa, como uma forma de não ficar parado.

Lembranças marcadas para sempre

Gerta recorda que, antigamente, iam em diversos bailes a pé: Alto Padre Eterno, Serra Grande, Fazenda Padre Eterno e por aí vai. As moças, assim como os rapazes, iam de chinelo levando os sapatos nas mãos para não os sujar. Ao chegarem no salão lavavam os pés, escondiam os chinelos no mato, usavam os sapatos e iam se divertir até o final do baile, lá pelas 4 horas da madrugada. Depois voltavam. Alegres. Saltitantes. Chegavam em casa com o raiar do sol. “Foi uma época inesquecível”.

João lembra que, nas festas, também era tudo um tanto diferente. Era algo muito aguardado e programado, até porquê não acontecia todos os finais de semana como é hoje. Era algo especial. As famílias, ou um grupo de amigos, já iam preparados para almoçar. A carne era espetada em um pedaço de taquara. Cada um encomendava sua parte antes mesmo dela ir para a churrasqueira. Quando estava no ponto, pegavam, iam para o mato e fincavam na terra. Cada um cortava um pedaço e se deliciava, junto com saladas e maionese. Os talheres, eram da comunidade; nada se perdia, tudo era devidamente devolvido. Uma época de ouro, de lembranças intensas e inesquecíveis, que não voltarão mais e deixam muita saudade e legados, assim como o amor do João e Gerta, que foi eternizado naquela noite, a caminho do baile de Kerb da Serra Grande.

Gerta e João no casamento, em janeiro de 1980, alguns meses depois do início do namoro (FOTO: Arquivo pessoal / João e Gerta)

Gerta ainda pequena. Na época, era raro tirar fotos. (Arquivo pessoal / João e Gerta)

O primeiro carro de João: um corcel. Era um luxo na época e fez muito sucesso. Sentada no capô, a primeira filha do casal. (Arquivo pessoal / João e Gerta)

Depois de algum tempo, João comprou um Fusca. Na foto, Nestor Dieter, cunhado de João, que está logo ao lado (Arquivo pessoal / João e Gerta)

João com sua junta de bois, quando tinha cerca de 20 anos (Arquivo pessoal / João e Gerta)

 

 

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