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Saudade: atletas da região falam sobre parada das competições em razão da pandemia
Região – Final de campeonato. Ginásio lotado em noite de sexta-feira. Das arquibancadas vem empolgação, alegria, raiva, tristeza e a explosão pelo gol. A partida se encerra e o time vencedor corre para vibrar junto à torcida. O troféu é levantado e o grito de campeão, lançado. A festa é completa.
Este seria o cenário de qualquer ginásio da nossa região há três meses. Hoje, em razão do Covid-19, o que sobrou foram bolas guardadas em armários, refletores desligados, arquibancadas vazias e uma lacuna que parece não se preencher. O que restou foi a saudade.
Em razão das restrições sanitárias impostas pela bandeira laranja, a qual as regiões da Encosta da Serra e Serra estão inseridas, as competições esportivas não estão permitidas. Onde a bandeira é amarela no Estado, a bola pode rolar. Por causa desta restrição, o governador Eduardo Leite já sinalizou que o retorno do Campeonato Gaúcho, previsto para 15 de julho, é incerto.
Bola parada gera prejuízo
Assim como no cenário econômico geral, a pandemia também traz prejuízos para quem tem no esporte uma forma de rentabilidade financeira. Odair Ferreira Roesler é ecônomo da área esportiva do Sport Club Gaúcho, localizado no Jardim Panorâmico em Ivoti. No local, tem o já tradicional campo de futebol e, mais recentemente, a quadra de futebol society.
“Caí lá porque sou um apaixonado. Havia muita coisa a ser feita no local, e aos poucos, fomos fazendo”, reflete Odair. O aluguel da quadra e campo para amistosos e jogos festivos, aliada a venda de alimentos e bebidas, era a fonte para manutenção das atividades no espaço.
Trabalhando na função desde 2017, Odair tem contrato vigente com a associação do clube por 10 anos. Já foram investidos R$ 250 mil para recuperação do espaço, que garantiu reformas no gramado e cercamento, construção da nova quadra, faltando apenas o prédio da sede passar pela revitalização.
Em razão da pandemia, o projeto teve de parar. “Minha sorte é que consegui quitar tudo ao final do ano passado. O aluguel, que era a despesa mais pesada, negociei com a associação e só iremos retomar quando a prática do esporte voltar”, informa.
Apito silenciado e sonho adiado
A paralisação do futebol também impediu o ivotiense Gabriel Konzen de realizar um sonho: atuar profissionalmente dentro das quatro linhas. Mas ele não seria nenhum atacante matador ou meia habilidoso. Sua atuação seria através do apito. Morador de Presidente Lucena, Konzen se formou no ano passado no curso de árbitros da Federação Gaúcha de Futebol, e em 2020, faria a sua estreia no quadro da entidade.
“Trabalhei só em campeonatos amadores. No profissional iria começar a atuar no Gauchão Sub-17 e Sub-15, quando começou a pandemia. É a porta de entrada para outras divisões”, lamenta.
Se afastar da paixão afetou muito sua rotina. “São três meses parado. E tem sido muito difícil porque estava trabalhando praticamente todo final de semana”, apontou. Enquanto não retorna, Konzen aproveita o tempo livre para aprimorar o conhecimento técnico do esporte e a parte física.
“Estou mais rígido quanto a alimentação. Aproveito também para estudar mais sobre as regras, me mantendo cada vez mais atualizado. Venho treinando em casa, quanto a posicionamento de árbitro e deslocamento. Quando voltar, quero estar 100%”, finaliza.
Atletas da região falam sobre a falta do esporte em razão da pandemia
“É difícil pois temos várias competições na cidade e região. Ficar sem jogar é realmente complicado, mas sabemos que é por uma questão de saúde.
Não só eu, como todos que gostam de praticar esportes, gostaria que tudo voltasse logo ao normal.
Se adaptar a rotina sem bola é complicado, pois estamos acostumados aos jogos e treinos, então temos que criar alternativas para não ficarmos parados e nos manter em atividade”.
“Pra quem é jogador da várzea é complicado. Jogávamos e treinávamos direto, tendo uma rotina de competições. Há todo um psicológico envolvido no futebol, que é uma coisa fantástica.
Ninguém estava preparado para a paralisação, mas sim vários campeonatos ao longo do ano. Eu aprovaria o retorno da bola, porque vivo e respiro futebol.
Acho que com cuidados e conscientização é possível. Eu tenho cuidado da parte física, mas ritmo de jogo só se adquire jogando”
“Sempre foi muito frequente na minha vida jogar campeonatos. Sobre liberar, é difícil falar. Se olharmos as estatísticas, sei que poderia, mas em contrapartida temos as autoridades de saúde dizendo o contrário.
Todos tem razão. Eu aprovaria uma volta das atividades abertas, como campeonatos de campo e futebol sete. Enquanto isso, troco o futebol por outras atividades.
Sou pai de duas meninas e elas estão felizes com a presença do pai em casa”.
“Tem sido bastante difícil perder aquele clima satisfatório de competição. Todos os amantes do futsal estão sentindo falta da adrenalina de cada jogo, do friozinho na barriga e do bem-estar físico e mental que o esporte nos proporciona.
Não aprovaria a volta das competições agora, pois devemos nos cuidar.
Não há outra rotina que possa substituir o futsal, mas mesmo que os jogos aconteçam sem torcida no ginásio, qual seria a graça de não ter nossa querida plateia?”
“Lidar com a falta de competições tem sido bem difícil. Porque além de ser um esporte que amamos, era uma forma de reunir os amigos e se divertir.
Creio que poderia voltar as competições sim, desde que sejam tomados todos os cuidados. Os primeiros dias foram os mais difíceis, pois estávamos acostumados com a rotina de praticar o esporte.
Acredito que logo se normalize tudo e possamos voltar a jogar e competir novamente”.