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Taxa de letalidade da Covid-19 na região segue em baixa, afirma Fiocruz

17/07/2020 - 10h30min

Atualizada em 17/07/2020 - 10h36min

Testes rápidos feitos pelo PA Mais Vida, em Ivoti

Região – A taxa de letalidade é um dos principais parâmetros para medir a velocidade e o quão mortal é a Covid-19 em determinado período. Seu acompanhamento é importante para a definição de políticas públicas, especialmente para o conhecimento de como o sistema de saúde está lidando com o aumento cada vez mais frequente e acelerado de casos.

Dados da plataforma MonitoraCovid-19, da Fiocruz do Rio de Janeiro, mostram que esta taxa está baixa na região da Encosta da Serra. A relação é simples, embora esteja diretamente relacionada com a maior infecção de pessoas: quanto mais casos e menos mortes, mais a letalidade se aproxima de zero. E conforme o coronavírus avança, é possível ter dados mais precisos neste aspecto.

Tome-se o exemplo de Ivoti, onde a doença chegou ainda em março, causando um óbito entre três moradores com a Covid-19. A taxa de letalidade era, na ocasião, de 33,3, mas caiu ao longo do tempo. Já a mais recente é de 2,04, considerando todos os infectados, mesmo os já recuperados. É abaixo dos índices do Brasil (3,83) e do Rio Grande do Sul (2,61).

“A taxa tende a estacionar na faixa de 2% a 3%. Se ela ficar por aí, é sinal de que o sistema de saúde daquele local está conseguindo dar atenção aos casos que precisam de um atendimento mais amplo de UTI, no sentido de respiradores”, explica o professor da Universidade Feevale e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Fernando Spilki.

“Taxa de 2% a 3% indica que o sistema de saúde consegue dar atenção aos casos que precisam de atendimento mais amplo” – Fernando Spilki (foto), pesquisador

Os desafios para os gestores públicos

Entre tantos desafios para os gestores públicos, um deles é fazer com que a taxa de letalidade se mantenha a mais próxima possível do zero. “Acima destes índices, é anormal e indica um esgotamento no sistema de saúde, pois está morrendo mais gente do que o normal com este vírus, então quer dizer que não se está conseguindo atender todo mundo”.

Ainda que os números possam indicar que os casos mais graves estão sendo relativamente controlados, eles não podem ser vistos sozinhos, na visão de Spilki. “Há quatro meses, não havia os casos que têm hoje aí na região. Podem haver 20 casos, que depois podem ser 100 na semana seguinte, 400 no mês que vem”.

Conforme o pesquisador, é importante analisar o incremento no número de casos, já que alguns poderão precisar de atendimento especializado em UTIs, e destes, outros eventualmente poderão vir a óbito, fazendo com que a taxa de letalidade suba novamente. “Não podemos nos iludir com o fragmento momentâneo e imaginar que esta situação será a mesma de daqui a duas semanas”.

Acompanhe, no gráfico interativo, a evolução da taxa de letalidade na região, Estado e país

“Se testarmos muito, taxa vai baixando”, diz infectologista

O infectologista Ricardo Siegle, responsável técnico do Hospital Getúlio Vargas, em Estância Velha, afirma que a taxa tem estreita relação com o índice de testagens realizadas na população. “Na verdade ela é difícil de ser estabelecida, à medida que não testamos muito. Se você testar todo mundo, se veria que a taxa vai baixando”.

O rápido contágio do coronavírus, segundo Siegle, também explica a taxa em baixos níveis. “Ele tem capacidade de derrubar o sistema de saúde, porque afeta muito rápido muitas pessoas. Essa disseminação dele que o torna o agente infeccioso que mais matou na nossa história”. Conforme Ricardo, é necessário que governos ajam de forma precisa no combate à doença.

“Em termos federais, vejo como falha a estratégia. Nós precisamos ter políticas de cuidado. Mas creio que o Rio Grande do Sul, neste ponto, está bem, com o sistema de cores e o bom senso que temos visto”, afirma ele, projetando que o pico da Covid-19 na região deve acontecer por volta de agosto, conforme comparativos com outros estados do País onde a doença já regrediu.

“O coronavírus tem capacidade de derrubar o sistema de saúde” – Ricardo Siegle (foto), infectologista

A taxa em alguns municípios da região, Estado e país (o ideal é estar abaixo de 3)

2,04 – Ivoti
3,49 – Dois Irmãos
3,60 – Estância Velha
4,17 – Nova Petrópolis
2,61 – Rio Grande do Sul
3,83 – Brasil

Número sobe em Estância Velha e Ivoti

Em Estância Velha, até o fechamento desta edição, haviam sido registrados seis óbitos. A ferramenta da Fiocruz considerava cinco, em razão dos atrasos de algumas divulgações por parte das secretarias estaduais de Saúde. A taxa de letalidade no município segue uma tendência de alta, chegando, no valor mais recente – a 3,6 – ainda assim razoável.

“Este dado é preocupante. Estamos trabalhando incansavelmente a prevenção. Também no Centro Covid, aumentamos o horário, para poder atender a comunidade. Nossa preocupação é de que as pessoas estão fazendo caminhadas sem máscaras, sem saber se estão contaminadas ou não. Elas não estão dando a devida importância à vida”, afirma a prefeita Ivete Grade (foto).

Segundo ela, é necessária a conscientização das pessoas, e o município considera as duas próximas semanas como cruciais para a proliferação. “É importantíssimo que, quem não precisar sair, fique em casa. Quem precisa, vá ao trabalho, mas bem equipado. Estamos fiscalizando também. Não estamos de braços cruzados”, comenta ela.

Já em Ivoti, onde a taxa está mais baixa, o prefeito Martin Kalkmann celebra a importância do trabalho da Secretaria de Saúde no controle do vírus, especialmente nas ações que, segundo ele, minimizam internações e, consequentemente, óbitos. “O índice de letalidade em casos assintomáticos, como é o caso do coronavírus, é mais difícil de ser fidedigno”.

“As pessoas não estão dando a devida importância à vida” – Ivete Grade, prefeita de Estância Velha

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