‘Tua biqueira é minha’: as escutas telefônicas que condenaram traficante de Nova Petrópolis

Nova Petrópolis – O traficante Dione Roger da Silva Brando, 31 anos, apontado pela polícia como fundador e líder da facção Os Manos em Nova Petrópolis, foi condenado a 13 anos de reclusão em um processo que respondia por tráfico de drogas e associação para o tráfico. A pena deve ser cumprida, inicialmente, no regime fechado pelo criminoso.

Dione Brando, que fundou a facção Os Manos a Nova Petrópolis, e Cavalo, seu auxiliar, foram condenados

Além de Brando, a Justiça de Gramado, onde o caso tramitava desde junho de 2017, condenou o auxiliar dele, Sandro Augusto Schneider Francischetti, vulgo Cavalo, 35 anos, a nove anos de reclusão pelos mesmos delitos.

Sheila Tais Anschau, 25 anos, amante de Dione Brando, que ficou conhecida como a “primeira-dama do tráfico”, no município, foi absolvida neste caso a pedido do Ministério Público. Para o órgão e para a Justiça, não havia provas suficientes que confirmam seu envolvimento com os dois traficantes, embora estivesse com ambos no dia em que a polícia desencadeou uma operação e resultou na apreensão de grande quantidade de drogas.

RESULTADO DE OPERAÇÃO
Esse processo é resultado de uma operação desencadeada pela Polícia Civil de Gramado, com o apoio da Brigada Militar, no dia 22 de junho de 2017. Durante a investigação, que teve a duração de seis meses, a polícia descobriu que Dione Brando havia adquirido a concessão da facção Os Manos, que mantém base no Vale do Sinos, de comandar o tráfico de drogas na região das Hortênsias, especialmente nos municípios de Nova Petrópolis e Gramado.

No dia da operação, batizada de Stones, ocorrida em duas residências na localidade de Linha Araripe, da divisa de Gramado e Nova Petrópolis, um comparsa de Dione e de Cavalo foi morto ao trocar tiros com os policiais. Juliano Hartmann, vulgo Pijama, recebeu os policiais a tiros e acabou sendo baleado quando tentava fugir do local pelos fundos. Ele chegou a ser encaminhado ao hospital, mas morreu no mesmo dia.

Droga apreendida durante operação em 2017

Diálogos comprovam o tráfico: “tua biqueira é minha”

Não bastasse a quantidade de drogas apreendida com os traficantes no dia da operação (36 comprimidos de ecstasy, 3.269 kg de maconha, 503 gramas de cocaína, 150 gramas de crack), a quebra de sigilo telefônico permitiu a obtenção de audios e conversas entre Dione e seus soldados. As conversas ajudaram a comprovar que Dione era quem tinha o domínio do tráfico de drogas nos dois municípios.

Em um dos diálogos, Dione Brando cobra lealdade de um traficante identificado como “Alex Gordo”, que decidiu adquirir cocaína de um intermediário e não diretamente do líder da facção. A conversa é do dia 28 de maio de 2017.

Dione Brando

DIONE – Mano ó, é o seguinte: tu não tem que tá pegando pó ali do Jefinho, tá ligado mano? Ele te fez ontem quatro gramas por cento e oitenta real tá ligado? Tu vende pra mim mano, tu não vende pra ele, tá ligado?! Tu quer pegar maconha dele, tu pega maconha dele, tá ligado? Só que pó é comigo filho, entendeu? Não pode vender pó pra ele entendeu? Depois ele não vai ter pó e quem é que vai te apoiar, entendeu? Eu não vou te apoiar daí, tá ligado? Entendeu?

ALEX – Não, eu achei que o pó era tudo o mesmo teu, tá ligado? Ele falou pra mim que era a mesma coisa tudo teu, tá ligado? Daí eu fiquei sem, terminou, entendeu, daí eu peguei cem grama dele. Mas então tá na mão eu tô sem, mas então faz assim, quando de noite, quando tu vim aí pegar os duzentos e cinquenta, se tiver como tu trazer, meter um pó em casa tá na mão. Daí eu não pego dele, pego direto de ti, tá ligado? Pode ser?

ALEX – Eu tenho duzentos e cinquenta pra pegar hoje do piá lá, pra passar pra ti, e tenho mais quinhentos real na rua, tá ligado? Daí até sexta-feira o dinheiro tá na minha mão. Daí eu tenho fumo ali ainda, tenho bastantinho até… Mas aí vou mocoiando e vou te pagando essa continha velha aí, e daí vamo sempre se ajudando, tá na mão?

Dione Brando

DIONE – É por isso que eu tô te largando o pó na segunda ou na terça, pra ti ter até domingo véi, tá ligado? Só que tu não pode fazer isso aí, não pode pegar pó de outro, véi, tá ligado? Não interessa se o cara vende pra mim mano, entendeu? A biqueira é minha véi, a tua biqueira é minha. Eu vendo pra ti, eu vendo pra vários, é a mesma coisa eu me intrometer e ir lá vender pro Valmir, e pro Fabrício vende pro Dudu, tá ligado mano? O cara tem que se honesto, tá ligado mano? Entendeu? Nós não podemo fazer isso aí, entendeu?

“Pó arregado”

Em outra mensagem, enviada a um grupo de pessoas, Dione Brando dá o recado e anuncia promoção de droga, após passar um período fora da cidade.

Dione Brando

DIONE
Opa galera estou morando aí em nova de novo se precisar só chegar nesta localização
Pó de 50 real arregado
E 150 real 5 grama
E nois se precisar só chamar

“Só 200 real?”, questiona Dione

Já com um traficante da Fazenda Pirajá, Dione dá uma bronca pelo fato do comparsa estar relaxando na cobrança da droga vendida fiado a usuários.

Dione Brando

DIONE – Boa noite mano amanhã, meio-dia, os pia vão buscar grana

MARCIANO FAZENDA – O mano não entro quase nada to com 200 pila queriam no fiado aí não fiz. Quer recolher ou durante a semana junto mais. Tom com 40 g ainda, aí fiz 5 g pro Nato pra quarta. E umas peteka. Tenho pra ve se hoje e amanhã sai

Dione Brando

DIONE – Entrega o que tem amanhã mais tá muito fraco o corre aí em, 200 real na Fazenda… o mano pelo menos mil real aí, tenta corre aí, muito pouco tu teve oito dias pra corre grana e tem só 200 real pra mim. Não mano, vê aí porque to te apoiando

DIONE – E ai mano amanhã meio-dia os cara tão aí pra pegar a grana