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UM ANO DE SAUDADE: Colegas homenageiam as vítimas do acidente na Estrada Campo Bom

03/11/2020 - 11h40min

Por

Rogério Savian / Rodrigo Thiel

Dois Irmãos – Colegas, amigos, familiares e professores da estudante Tamiris Schafer de Souza dos Santos fizeram uma homenagem junto ao local do acidente ocorrido no dia 31 de outubro de 2019, na Estrada Campo Bom. Além dela, foi lembrado o motorista do Uber Sérgio Leandro dos Santos Freitas, que também não resistiu e faleceu no local. No dia do acidente também estavam no veículo as colegas Giovana Trevisan, Cassiany Andreza Melo e Camili que sobreviveram. Na homenagem, para representar o grupo Escolar Affonso Wolf, participou a vice-diretora, Shirley Wagner.

A colega, Geovana Trevisan, relata que a homenagem começou a ser planejada em setembro e com o apoio dos familiares e colegas se concretizou no sábado, 31. Uma das preocupações foi a situação da pandemia e também pelo número de envolvidos, como ficaria a segurança na estrada para realizar a homenagem, já que é um trecho perigoso e sem acostamento. Então, solicitaram apoio da Brigada Militar de Dois Irmãos para auxiliar o trânsito no local. Também comunicaram a Vigilância Sanitária e se comprometeram de tomar os devidos cuidados. O SAMU de Dois Irmãos também foi avisado, caso alguém passasse mal devido à emoção. Um vizinho cedeu o pátio como estacionamento. Cada participante contribuiu com ideias para a homenagem como o uso de camisetas branca, levar rosas brancas e soltar os balões no final. Também foi convidado o Pastor Rudnei para levar uma palavra de conforto.


Colegas e amigos soltam balões em homenagem às vítimas

A dor de voltar ao local

Geovana, lembra de ter sido a última a sair do carro com vida. Até aí ela pensava que seus outros amigos já tinham sido socorridos. Confira o relato dela:

“Lembro da gente saindo da escola, eu e a Tamiris conversando sobre as provas que teríamos no outro dia, nós colocando nossas mochilas no porta-malas, ela entrando dentro do carro, atrás de mim e último aperto de mão que dei no Sérgio quando entrei dentro do Voyage branco e mal sabíamos nós o que nos aguardava no caminho.

Lembro perfeitamente do momento do acidente, pois eu estava sentada na frente, ao lado do meu grande amigo e a quem eu considerava um pai para mim, o Sérgio. As pessoas não fazem ideia do que é carregar consigo o último olhar de alguém que amamos. A data 31 de outubro de 2019 sem dúvidas é lembrada com muita dor, mas também de muita união e solidariedade que recebemos até hoje. Há 1 ano, quatro meninas que só estavam voltando da escola para chegar em casa. Depois da batida, acordei consciente dentro do carro, muitos cacos de vidro no meu rosto, falta de ar de tanto que o sinto de segurança estava me apertando e meu corpo não respondia com as minhas tentativas de tentar sair do carro. Tive muitos pesadelos e calorões ao lembrar da van vindo para cima do carro, sem termos para onde correr. Não desejo isso para ninguém.

 Depois ouvia meus familiares tentando entrar para ver e as enfermeiras tentando acalma-los, quando vi meu pai, segurei na mão dele e disse: pai, não me deixa morrer. Eu não conseguia me mexer de tanta dor. Quando fui transferida para o HPS de Canoas, na ambulância minha mãe não sabia como me dar a notícia. Quando acordei novamente no Postão 24 Horas, ouvia gente gritando de desespero, até que alguém anunciou que ‘o motorista é uma menina faleceram’. Até então não sabia qual motorista. Sabia que a Cassy estava sendo socorrida junto comigo, o que pra mim significava que ela ainda estava com vida, eu não sabia onde estava a Camily e a Tamiris e já comecei a me desesperar novamente, pois era uma das duas, comecei a me apavorar de como teriam morrido atrás, se eu estava na frente.

 Quando ela disse que o Sérgio e a Tamiris morreram, nenhuma dor física que eu estava sentindo era comparada com a dor do meu coração. Tive muita dificuldade de aceitar, parecia que todos estavam mentindo para mim. Me perguntava: como morreu, se eu estava com eles a recém?

Nós três estamos fazendo acompanhamento psicológico. Estou conseguindo superar com muito apoio de amigos e família, estou tentando não lembrar das coisas ruins, mas lembrar das coisas boas que vivemos juntos naquele trajeto. A saudade física é muito grande. Mas juntos a gente vai seguindo. As cantorias, as brincadeiras que fazíamos dentro do carro. Tamiris sempre será uma menina de muita luz, sorridente. O Sérgio sempre será o meu pai, meu melhor amigo e confidente, o homem mais íntegro que já conheci na minha vida e esse amor e cumplicidade são legados para vida. Ninguém é insubstituível”, finaliza Geovana.

Tamiris Schafer de Souza dos Santos, estudante

Sérgio Leandro dos Santos Freitas, motorista

 

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