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Um ano de transformações: a vida da Família Ramos de Ivoti ainda comove comunidade
Ivoti – Em um ano muitas coisas podem mudar. A evolução faz parte do cotidiano das pessoas, assim como o retrocesso. Em 365 dias, Gabriel Ramos soube aproveitar a parte positiva e teve a vida revolucionada. O rapaz de 29 anos comoveu a região quando foi o personagem central de uma reportagem, em alusão ao Dia dos Pais em 2019.
Morador do bairro São José, ele divide a pequena casa de dois cômodos com seus quatro filhos, todos apenas crianças. A mãe perdera a vida um ano antes para a tuberculose.
Coube a Gabriel – sozinho – prover o sustento, alimento, cultura e educação para Vítor (9), os gêmeos Guilherme e Antoni (7) e ao caçula Gustavo (5). Até aqui, a missão do rapaz tem sido bem-sucedida, e após a reportagem, ganhou um reforço considerável pela repercussão. “Minha vida mudou completamente. Dos meninos também. Sou muito grato a tudo que me aconteceu. A comunidade nos abraçou”, comenta Gabriel, sem esconder um sentimento genuíno de emoção.
Orgulho em aprender
Uma das mudanças mais marcantes para o pai foi ter voltado a estudar. Mesmo que por um curto período, realizou um curso de polimento e cristalização de veículos, proporcionado gratuitamente por uma escola técnica de Campo Bom. Gabriel recebeu carona, material didático e aulas práticas. Ao final, um certificado atestando o conhecimento adquirido.
O documento está emoldurado e decorando a sala. Gabriel pega o quadro com orgulho e fala: “Consegui inclusive trabalhar em três carros. Fiz limpeza de vidro, caixa e farol. Até construí um pequeno galpão ao lado de casa para receber clientes”.
No passado, externou o sonho de ser engenheiro. Chegou a ser procurado por outra escola de Novo Hamburgo, desta vez para se graduar como mecânico. “Em razão da falta de estudos, não pude me habilitar”, lamentou.
Empreender é preciso
A veia empreendedora de Gabriel é notável. Além de se articular, mesmo que timidamente, para trabalhar com veículos, fez uma pequena reserva de dinheiro para investir em uma oficina de conserto de máquinas de lavar. O ofício aprendera com o pai na adolescência. Chegou a pagar dois meses adiantados de aluguel, porém a pandemia freou os dois projetos. O baque levaria qualquer investidor à desesperança.
Mas ir na contramão da obviedade parece ser a tônica da vida de Gabriel. “Recuperei parte do investimento e comprei mato de acácia. Fiz o corte e vendi como lenha, em frente à minha casa. Obtive um lucro bom e reinvesti. O retorno está sendo bom”.
Quando cumprimentado pela visão de negócios, o pai dos quatro garotos surpreende: “Agora estou entrando no ramo de limpeza de telhados. Adquiri recentemente um lava-jato, cinto de segurança e cordas. Já tenho meu primeiro cliente”.
E os garotos? Vão bem, obrigado!
Assim como a rotina da humanidade foi afetada pelo coronavírus, a Família Ramos também teve de se adaptar. As crianças, que antes frequentavam normalmente as escolas municipais, projetos de esporte e o Plug, agora passam o dia em casa. Mas nada de relaxamento! Gabriel insiste para que todos façam suas lições de casa.
“Antes era mais fácil porque a lição vinha impressa. Agora, vem através de e-mail e WhatsApp. Não entendo muito bem, mas me esforço para que eles não parem”, sinaliza, com semblante otimista.
O desenvolvimento dos filhos é um forte fator motivacional. O caso mais emblemático é o do caçula Gustavo. Carinhosamente chamado de “Chaveirinho”, o menino que um ano antes apenas respondia com acenos de cabeça e sorrisos, agora articula frases. Fruto de um apoio profissional indispensável, possibilitado pela Prefeitura.
“Ele estava tendo encontros com fono e psicólogo. O carro da Prefeitura passava na escola e pegava ele. Além de ter ‘espichado’, desenvolveu muito”, comenta Gabriel, sob o olhar atento do caçula.
A família ainda recebe muita ajuda da comunidade através de doações, indicações de serviço e ofertas de capacitação profissional e estudantil. Comida, roupas e brinquedos são os principais donativos. Alguns itens, inclusive, Gabriel doou para outras famílias necessitadas.
A realidade, pós exposição na mídia, é outra. “O que me sobra, repasso. Vai ser útil para alguém. Ano passado eu trabalhava e mal conseguia o básico no mercado. Hoje, graças ao apoio de todos, consigo mais serviços, que por sua vez, me possibilitam prover a comida da criançada”, finaliza o inabalável Gabriel.
Confira matéria em vídeo realizada em 2019: