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Um ano depois, como está o menino que se afogou em Picada Café
Picada Café – Um menino elétrico, que não para quieto, meio tímido com quem não conhece, mas disposto a abrir um sorriso e, principalmente, cheio de vida. Assim é o pequeno Arthur Fernando Bauer Berg, de 2 anos e 11 meses. Porém, quem vê o garoto agora, após vê-lo praticamente sem vida há pouco mais de um ano, considera a recuperação de Arthur um verdadeiro milagre.
No dia 31 de outubro de 2020, Arthur brincava no quintal de sua casa como qualquer outra criança. Porém, bastou um pequeno descuido para que aquele dia normal se tornasse um verdadeiro terror para ele e sua família. Ao tentar pegar um brinquedo que caiu em um tonel de água, Arthur escorregou para dentro e acabou se afogando. Quando foi achado pelo padrinho, Henrique Dreschler, ele já estava roxo e não mais se mexia. Rapidamente foi levado ao Corpo de Bombeiros Voluntários, que fica, em alta velocidade, há apenas dois ou três minutos de sua casa.
Salvamento
Ao chegar na corporação, Arthur foi atendido pelo comandante Vilson Koch. O menino já estava sem sinais vitais, pois havia engolido muita água. No entanto, os procedimentos do comandante foram fundamentais e Arthur foi reanimado após expelir muita água. Imediatamente ele foi levado para o Hospital Nova Petrópolis e em seguida transferido para o Hospital Pompéia, em Caxias do Sul.
Arthur lutou bravamente contra a morte, ficou 17 dias internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e mais três dias até receber alta. Enfim, no dia 20 de novembro de 2020, o garoto recebeu alta e pôde voltar para casa, recuperado e sem sequelas.
Como tudo aconteceu
Eram por volta de 16h40 do dia 31 de outubro, um domingo. A mãe de Arthur, Gisele Tainá Bauer, estava dentro de casa amamentando a filha caçula, Vitória Gabriely Bauer Berg, de apenas três meses na época. O pai, Cleiton Cristiano Berg, trabalhava na terra, nos fundos da propriedade, juntamente ao padrinho de Arthur, Henrique. Arthur brincava normalmente, à época com 1 ano e 11 meses.
Em determinado momento, o pai precisou entrar em casa para ir ao banheiro. A mãe disse então para que chamasse o Arthur para dentro, mas ao procurar pelo garoto, ele já havia sumido. A família passou a procurá-lo em volta da casa e até mesmo saiu para rua para procurar o menino. Nada! Até que o irmão mais velho de Arthur, Lucas Gabriel Bauer Fiuza, com sete anos, gritou “ACHEI!”. Todos correram, mas foi o padrinho quem chegou primeiro e o encontrou completamente desacordado na água. Não se passaram cinco minutos desde que Arthur havia sido visto, até ser encontrado praticamente sem vida.
Primeiros socorros
O menino estava frio e roxo, “mole”. A mãe o pegou e gritou por socorro, desesperada. Ela o levou para a rua e pediu para que alguém chamasse os bombeiros. No entanto, seguindo os instintos e usando como base o que havia visto apenas na televisão, teve uma atitude que foi fundamental para que Arthur pudesse ser salvo. Deitou o filho no asfalto e começou a fazer massagem cardíaca e respiração boca a boca. Algumas tentativas depois e um pouco de água foi expelida. Foi nesse momento que Gisele decidiu que não havia tempo para esperar o socorro. A família colocou Arthur no carro e foi em direção à corporação.
“Foi um dos melhores atendimentos que me orgulho em ter feito. Ele veio praticamente morto, hoje está aí para escrever uma nova história”
Foram apenas dois minutos de deslocamento da Av. Presidente Lucena, no bairro São João, até o Corpo de Bombeiros, na BR-116. Dois minutos que, para os pais, pareceram uma eternidade. Arthur lutava pela vida e cada segundo perdido diminuía ainda mais as chances de ser salvo. Ao entrar com o carro em alta velocidade, os bombeiros já sabiam que algo grave havia acontecido.
Chances de vida
O comandante Vilson Koch realizou algumas manobras de ressuscitação ainda no pátio da corporação. Arthur mais uma vez expeliu muita água e começou a apresentar sinais de vida. Os bombeiros Itamar Olroch e Rogério Auler também participaram do salvamento. O menino foi levado ao Hospital Nova Petrópolis ainda em estado grave. Não demorou muito e ele teve que ser transferido para Caxias do Sul, e então veio a notícia que mãe e pai nenhum desejam receber.
“A doutora me chamou pra conversar e disse que eu deveria estar ciente de que ele poderia não chegar vivo em Caxias. Que as chances de sobrevivência dele eram de apenas 10% e que se houvesse uma parada cardíaca, ele não sobreviveria. Ele teria cerca de 24 horas para reagir. Até ali, eu não havia chorado porque só pensava em salvar ele, mas naquele momento, eu desabei”, contou a mãe de Arthur.
Recuperação
Os médicos fizeram o possível para salvar Arthur, mas até o quarto dia, ele ainda corria risco de morte. Chegou um momento em que somente as forças do próprio menino o mantiveram respirando. Mas então a recuperação começou e Arthur passou a melhorar. A água no pulmão, porém, fez com que ele desenvolvesse uma pneumonia, que o manteve na UTI por 17 dias. O garoto precisou ficar sedado para não se debater e acabar se machucando. Quase três semanas depois, o pesadelo chegava ao fim, Arthur teve alta e, o mais incrível de tudo, sem nenhuma sequela.
Passados alguns dias, em 28 de novembro, quase um mês após o acidente, toda a família de Arthur retornou ao Corpo de Bombeiros para agradecer aos heróis que o salvaram. Desta vez, Arthur desceu do carro e foi caminhando até o reencontro com o comandante Vilson. Um abraço apertado marcou um novo momento entre os dois. O menino recebeu presentes, entre eles, um caminhão de bombeiros de brinquedo. Ou melhor, um “brum-brum”, como ele mesmo chama. Arthur, enfim, começava uma nova vida.
A rotina atual
Arthur acorda cedo, toma um café da manhã e vai para a creche. Volta pra casa no fim da tarde, por volta das 17h30, e brinca. O menino faz de tudo e uma de suas atividades preferidas é a dança. À noite, ele toma banho, se alimenta, brinca mais um pouco com os irmãos, e vai dormir. A rotina é a mesma de qualquer criança de sua idade.
Arthur não teve nenhuma sequela, nem mesmo tem medo de entrar na água. Na verdade, conforme contou sua mãe, esse trauma durou apenas uma semana após chegar em casa. No início, tinha medo de entrar no chuveiro, mas isso passou e hoje até banho de piscina ele toma. Claro, com toda a supervisão dos pais, que afirmam terem redobrado os cuidados e nunca o perdem de vista.
No início deste mês, logo após completar um ano do acidente, os avós de Arthur, Lisiane Maria de Almeida e Anderson Acker, levaram o menino para a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo. A viagem foi uma forma de agradecimento pela vida de Arthur, cumprindo uma promessa feita por Lisiane.
Importância dos primeiros socorros
O comandante Vilson Koch acredita que as manobras feitas pela mão de Arthur, Gisele, contribuíram para que ele fosse salvo. Pois possibilitou uma primeira retirada de água dos pulmões e a circulação do sangue, evitando que células morressem. “É muito importante saber fazer essas manobras. Não tenho a menor dúvida que isso contribuiu, ele chegou muito mal, sem reação nenhuma e sem sinais vitais”, relembra.
A manobra feita pela mãe, mesmo que de forma instintiva, contribuiu, segundo Koch, para liberar a via aérea e fazer o coração bombear sangue para o cérebro e iniciar o retorno. “Para nós, isso foi muito importante. Foi um dos melhores atendimentos que me orgulho em ter feito, e ver ele assim hoje, é uma sensação de dever cumprido. Não há preço que pague ver uma criança seguir a vida normalmente e sem sequela sabendo que a gente fez a diferença na vida dela. Hoje está aí para escrever uma nova história”, concluiu o comandante.