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Uma das maiores pesquisadoras da região está em estudos na Europa
por Felipe Faleiro
Região/Alemanha – Uma das maiores pesquisadoras na área de Defesa do país está na Rota Romântica. Mas, antes de mais nada, esclarecemos: não é a nossa, e sim aquela da Alemanha, cujo caminho inspirou o da região, há muitos anos. Bruna Rohr Reisdoerfer, 29 anos, nascida em Novo Hamburgo, e radicada em Ivoti e Estância Velha, está estudando na nação europeia.
Bruna, atualmente, vive em Würzburg, no sul alemão, cidade considerada a primeira parada da chamada Romantische Straße. “Vim para a Alemanha fazer pesquisa de campo, digamos assim, da tese de doutorado feita no Brasil”, contou ela, que é atual doutoranda em Estudos Estratégicos Internacionais pela UFRGS. E sua vivência no Hemisfério Norte não é nova.
Em 2019, o Diário contou a história de Bruna, graduada em Relações Internacionais pela UFRGS. No ano anterior, sua dissertação de mestrado em Ciências Militares, feita na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), no Rio de Janeiro, escolhida pelo Ministério da Defesa como a melhor do Brasil. O estudo tratou das características militares dos países da União Europeia.
A ida de Bruna vai durar pouco, apenas quatro meses, e o estudo é no sistema de “doutorado sanduíche”. Mas ele servirá como uma imersão valiosa em uma das universidades mais conceituadas do continente, a Julius Maximilians Universität Würzburg, fundada em 1402. Por lá, ela ficará como visitante na Cátedra de Estudos Europeus e Relações Internacionais.
Bruna conta que conseguiu ingressar na instituição pois ganhou, em 2019, uma bolsa para um curso sobre política alemã, por meio de um edital aberto pelo Centro de Estudos Europeus e Alemães, sediado na UFRGS e na PUCRS, e que recebe financiamento do governo alemão. “Nesse curso eu conheci a universidade, a Cátedra e a professora responsável por ela”, afirma.
Pandemia da Covid-19 atrasou os planos da cientista
No ano passado, Bruna voltou a fazer contato com o centro e questionou se eles aceitariam a receber como visitante, e se a professora, Gisela Müller-Brandeck-Bouquet, também aceitaria a orientar e a supervisionar. “Falei também que estava me candidatando para uma bolsa do DAAD [Deutscher Akademischer Austauschdienst], órgão do governo responsável”.
“Como a professora já me conhecia pessoalmente e meu projeto de pesquisa é alinhado à área de pesquisa dela, ela me aceitou”. A pesquisadora passou por dois processos seletivos. O primeiro é obter o aceite pela universidade alemã, etapa “bem difícil e hierárquica”, diz ela. A segunda é reunir documentos para obter uma bolsa pelo governo alemão.
“Alguns candidatos chegam somente na primeira parte. Conseguem a aprovação da universidade, mas não obtêm o auxílio governamental.” Bruna poderia ter ido em 2020, mas, com a pandemia da Covid-19, o projeto foi suspenso, porém retomado em 2021. Ela foi para a Europa em agosto, mas deve retornar obrigatoriamente ao Brasil até janeiro de 2022, e defende sua tese no mês seguinte.
“É um caminho bastante desafiador. Mas acho que no final das contas vale muito a pena”
As preocupações enfrentadas por ela no Brasil
Bruna chegou a se candidatar para um edital do CNPq, órgão de pesquisa do governo brasileiro, foi aprovada pelo comitê científico do órgão, mas não recebeu a bolsa. “A presidência do CNPq alegou falta de recursos”, lamentou ela. Na visão dela, o investimento em ciência no Brasil é pequeno, fazendo com que os pesquisadores precisem recorrer a financiamentos de outros países.
“Acaba acontecendo a chamada ‘fuga de cérebros’. A gente acaba indo morar fora e levando todo o conhecimento para os países que já são desenvolvidos. Por mais que as universidades tenham projetos para se abrir para a comunidade, sem o estado chegando junto não tem como alcançar muita gente”, afirma Bruna.
Na visão dela, o próprio país também acaba perdendo soberania, porque o Brasil deixa de ser estudo de caso para determinadas pesquisas, que acabam sendo direcionadas para outras nações, em razão da condição para obter as bolsas no exterior. “Penso que deveria ser fomentado o que se chama de tripla hélice, universidades, órgãos públicos e empresas privadas trabalhando juntas”, opina ela.
Por ora, ela se sente agradecida pela oportunidade, e espera que outros possam também usufruí-la. “É um caminho bastante desafiador, ainda mais na área das ciências sociais aplicadas. Mas acho que no final das contas vale muito a pena. Cientistas são inquietos por natureza e são agentes da transformação. Isso é empoderador, dá um grande sentido para a vida”, encerra Bruna.