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Uma vida de dedicação à agricultura e ao Sindicato Rural em Dois Irmãos

27/09/2021 - 14h11min

Em 1997 Pedrinho assumiu a presidência do Sindicato e exerce a função até os dias de hoje (Por Priscila Heller Backes)

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Pedrinho Becker, só não se formou agrônomo porque não teve coragem de abandonar os pais para estudar fora

Por Priscila Heller Backes

Dois Irmãos – Fazer agronomia na faculdade era o sonho do agricultor Pedro Becker, mais conhecido como Pedrinho. Mas o medo e a insegurança de sair de casa e deixar os pais fizeram com que ele permanecesse na propriedade da família ajudando com as atividades no campo. Nem mesmo o incentivo do pai para que ele estudasse e seguisse seu sonho o convenceu a sair de casa. Pedrinho permaneceu na propriedade ajudando os pais com a plantação de cebola, aipim, criação de suínos e produção de leite.

Aos 63 anos, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais desde 1997 conta orgulhoso que nasceu um ano antes da emancipação do município, quando Dois Irmãos ainda era distrito de São Leopoldo. O orgulho de ser parte integrante do município em que vive desde o seu nascimento está relacionado à sua evolução, principalmente naquelas conquistas em que foi participante. A família sempre morou na localidade que hoje é denominada de bairro Becker. O nome do bairro não é uma coincidência a seu sobrenome, remete àqueles que fixaram residência naquelas terras, os Becker.

Os primeiros moradores era o avô Pedro e seu irmão Aloísio. O avô teve três filhos e Aloísio seis. “Na localidade era Becker ou casado com Becker”, brinca Pedrinho. Por isso não tinha como dar outro nome ao bairro senão Becker. O bairro ainda possui características rurais e uma das grandes conquistas foi a energia elétrica. As estradas também eram muito precárias e a atual ponte sobre o Rio Feitoria era um pontilhão. Quando a casa de seus pais foi construída, em meados de 1974, o material para a construção foi levado de carroça, já que o caminhão não podia passar pela ponte.

Pedrinho fez o Ensino Médio na Escola Afonso Wolf, mas depois parou de estudar. Durante o dia ele ajudava os pais, depois “ordenhava as vacas, bebia o leite e ia para a escola à noite”. Na agricultura permaneceu até o ano de 1997, quando assumiu a presidência do Sindicato Rural.

Pedrinho trabalha até o meio dia de sábado e desde o ano de 1983 vive e respira o Sindicato Rural

Seu vínculo com a agricultura vem de casa, mas foi com o trabalho desenvolvido no Sindicato, pelo município e seus agricultores, é que se fortaleceu. O Sindicato Rural foi fundado em 1963. Até 1983 era presidido por uma chapa, e foi neste ano que Pedrinho passou a fazer parte da chapa de oposição. Em 1990 atuava como secretário e conciliava suas atividades de agricultor às que desenvolvia no Sindicato duas vezes por semana.

Em 1997, Nilson José Olbermann, que era o presidente, foi para o Sicredi. Como na época o Sindicato não possuía estatuto e nem vice-presidente, automaticamente Pedrinho foi designado à presidência. “Desde 1983 eu vivo e respiro o Sindicato”, se orgulha. A eleição para escolher a diretoria é feita a cada quatro anos, mas desde que assumiu, sempre teve chapa única e com isso o mesmo grupo de trabalho atuando diariamente em prol dos agricultores.

 

 “O que sei aprendi na marra; minhas filhas, Rosana e Rosângela, aprenderam na escola. O Sindicato foi uma faculdade para mim”

A evolução da agricultura foi muito além da expectativa; não existe mais dificuldade em escoar a produção

Na visão do presidente, muitas coisas evoluíram no município e, principalmente, no meio rural. Hoje em dia os agricultores não têm mais dificuldade para escoar a produção. Muito do que se produz é vendido por eles mesmos. Na época em que trabalhava com os pais, a compra e venda era feita pelos intermediários. A produção era levada até a estrada e lá era recolhida pelos compradores, que faziam a venda também em outras cidades. Medo que alguém pudesse roubar existia, mas não era como nos dias atuais. “Acontecia, mas raramente”.

O contato com o primeiro telefone Pedrinho teve em 1998, já no Sindicato. “Era aqueles tijolão”, lembra. A evolução como um todo foi muito além da expectativa, garante o presidente, impactando no município e também na agricultura. Na sua opinião, toda essa transformação não foi totalmente positiva. Bairros, que na época eram rurais, foram construídos com a chegada de muitos moradores de outros municípios do Estado. Pessoas que chegaram em Dois Irmãos em busca de trabalho e de um lugar com qualidade de vida para fixar residência.

Essa evolução foi o grande auge do setor calçadista da época, mas hoje está estagnado. Pedrinho enxerga como um ponto positivo ter conseguido controlar essa questão toda. Ao longo dos anos os agricultores também tiveram muitas conquistas, principalmente superar o difícil acesso à saúde e questões trabalhistas. Com a constituição teve o reconhecimento da profissão de agricultor e da mulher e a aposentadoria.

250 famílias de Dois Irmãos trabalham na agricultura e 40% delas tem maquinário

Nos dias atuais os agricultores, que até então eram aqueles que simplesmente plantavam e colhiam, precisam ir mais além. Ter apenas conhecimento da terra, da melhor época para o plantio e de colher não é mais a única responsabilidade dos que trabalham no campo. Os agricultores precisam também ser empreendedores. Além de todas as atividades exercidas por eles no campo, precisam também sentar à noite em casa e fazer a sua contabilidade. “Os agricultores precisam ter iniciativa, numa fábrica, por exemplo, é o dono que faz isso”. Chegou uma época em que o agricultor precisa ter perfil administrativo.

O Sindicato atende também o município de Morro Reuter, onde tem 350 famílias de agricultores; em Dois Irmãos são 250. No município está a silvicultura, hortigranjeiros e pecuária como principais atividades. Já Morro Reuter tem a avicultura como diferencial. Pedrinho fala que 40% das famílias tem maquinário na propriedade para auxiliar na atividade, fazendo com que tenha facilidade para exercer, diferente de antigamente que contavam com os animais para arar a terra, por exemplo. Casado há 37 anos com Yeda Maria e pai de Rosana e Rosângela (bancária e arquiteta), que não seguiram a carreira do pai, Pedrinho conta que o que sabe aprendeu na marra; as filhas aprenderam na escola. “O Sindicato foi uma faculdade para mim”.

A irmã e o irmão de Pedrinho seguem na agricultura, trabalhando com milho, hortaliças e varejo. Sonhos não faltam na vida do presidente, que pretende um dia voltar para o campo. Mas enquanto presidente ainda tem muitas coisas para fazer pelo município e pelos agricultores.

 

 

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