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Voluntária de Novo Hamburgo já recebeu duas doses da vacina de teste contra a Covid-19
Novo Hamburgo/Porto Alegre – A biomédica Rosabel Dienstmann, 52 anos, moradora de Novo Hamburgo, faz parte de um seleto grupo de voluntários que já recebeu a CoronaVac, a vacina produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac, com apoio do Instituto Butantan, em São Paulo. Os testes são realizados em diversos locais do Brasil, entre eles o Hospital São Lucas, da PUC, em Porto Alegre.
São centenas de pessoas, recrutadas pela própria vontade, dispostas a realizar um experimento que pode representar uma esperança contra a Covid-19. “Soube das inscrições e logo pensei: vamos ver no que vai dar, já que estou em contato direto com o vírus”, contou ela ao Diário. Rosabel conta também que não sabia se seria chamada. “São muitos voluntários inscritos”.
A inscrição junto à PUC foi feita há dois meses. “Quando fui chamada, comecei a ler mais sobre a vacina, me interessei mais pelo assunto. Descobri também que o teste é duplo-cego, ou seja, tanto o voluntário quanto os pesquisadores não sabem se a pessoa está recebendo a vacina verdadeiramente ou um placebo, somente no final”.
Placebo é como é chamada uma “imitação da vacina”, sem efeito algum, com a finalidade de testar os efeitos psicológicos de sua aplicação. A vacinação foi em duas doses. A primeira ela recebeu no último dia 12, e a segunda ontem. O acompanhamento é feito diariamente, por meio de um caderno, e no qual a biomédica deve anotar eventuais sintomas, problemas clínicos e medicamentos tomados.
Ela também deve medir a temperatura corporal, de preferência sempre no mesmo horário. “Eles me deram os telefones diretos de todos os profissionais envolvidos, para contatar a qualquer hora que for necessário”. Antes de realizar a vacina, Rosabel passou por exames de sangue, além de testes rápidos e PCR, para detecção da Covid-19.
“É um estudo sério, e se ninguém se dispor a participar, não vamos ter uma vacina aprovada”
Medo e reprovação da filha e amigos
Ela ainda elogiou a organização do hospital com relação ao projeto, e diz que não se arrepende de fazer parte do grupo de voluntários. “Não tive sintoma nenhum em todos estes dias, a não ser uma leve dor no braço, que é comum de quem recebe uma injeção. É um estudo sério, e se ninguém se dispor a participar, não vamos ter uma vacina aprovada”.
Mesmo empolgada para participar, a biomédica, que é divorciada, conta que recebeu a reprovação das amigas e até da filha, recém-formada em Biologia. Apenas o próprio médico dela deu forças. “Entendo esta preocupação, por eu ser mãe. Existe muito medo em cima da vacina, muita falta de conhecimento científico. Mas tenho esta essência dentro de mim de gostar de desafios”.
Caso tenha sido injetado um placebo na fase de testes, Rosabel terá direito a receber a vacina verdadeira futuramente, se esta for aprovada. “Fiquei feliz de realmente ter participado. Foi uma coisa inédita para mim, fazer parte desta pesquisa que vai impactar o mundo inteiro. A doença mexeu com a vida de todo mundo. Gostaria de poder fazer muito mais pela humanidade”.
Imunizante está se mostrando seguro, dizem estudos
Até o momento, a CoronaVac tem se mostrado segura, pelo menos de acordo com autoridades diretamente envolvidas em sua aplicação. Dados da própria Sinovac, divulgados na semana passada, mostraram que 94,7% dos mais de 50 mil voluntários chineses não tiveram nenhum sintoma depois da aplicação do imunizante. Os efeitos adversos foram apenas 5,3% do total.
A vacina está na fase 3 de estudos em humanos, que avalia verdadeiramente a eficácia da imunização, ou seja, se ela produz anticorpos suficientes para garantir a proteção contra o coronavírus. Os primeiros resultados devem surgir a partir da segunda quinzena de outubro, e se houver aprovação da Anvisa, o uso geral poderá ser liberado a partir de dezembro.