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Estância Velha: médico responderá por homicídio e por tentar destruir provas
Estância Velha – Um ano e um mês após a morte da estudante de Economia, Sara Amaral, a Polícia Civil concluiu o inquérito que apurava as causas da morte da jovem no Hospital Getúlio Vargas.
No entendimento da polícia, ficou confirmada a suspeita da família de Sara de que houve negligência médica no atendimento dela. Sara Amaral morreu aos 23 anos, após peregrinação de quatro dias em busca de ajuda médica. Foi e voltou do hospital estanciense, pelo menos, três vezes até que o quadro clínico evoluiu para uma parada cardiorrespiratória e posterior morte.
A investigação foi iniciada a pedido da família, que acompanhou o sofrimento de Sara desde o momento em que apresentou os primeiros sintomas de dor, e, consequentemente, a falta de atenção médica nos seus últimos dias de vida.
DOCUMENTO NO LIXO
No relatório final, ao qual o Diário teve acesso com exclusividade, o delegado aponta uma sequência de erros no atendimento da paciente e que contribuíram para o resultado final do caso, que foi a morte de Sara. “Sua conduta foi negligente e descumpriu regras de atendimento da rede de atendimento pública”, apontou Ayrton Júnior. “Há fartos indícios”, sintetizou, ainda, o delegado.
Além de responder criminalmente pelo homicídio, o profissional também foi indiciado por fraude processual por ter tentado ocultar documento público e que foi determinante para a elucidação do caso.
O documento em questão era uma requisição de uma médica de um posto de saúde do bairro Rincão dos Ilhéus consultada por Sara horas antes de falecer. Neste documento, a médica apontava a gravidade do caso da estudante e determinava sua internação no Hospital Getúlio Vargas.
O médico não só ignorou a recomendação da colega, como jogou o documento na lata de lixo. “Após insistência, os familiares conseguiram o documento, que foi encontrado no lixo do hospital por uma enfermeira”, explicou o delegado.
O médico indiciado não teve o nome divulgado pela polícia. Contudo, sabe-se que é um profissional de 29 anos, nascido no estado de Goiás. Quando atuou em Estância Velha, fazia parte de uma equipe médica terceirizada pela Prefeitura. Atualmente, o médico mora no município de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, e trabalha em um hospital daquele município.
Perícia contradiz médico
Uma das razões que levaram ao indiciamento do médico é o fato da perícia realizada no corpo de Sara, após exumação autorizada pela Justiça, contradizer o profissional no que diz respeito a causa morte. O médico atestou, na certidão de óbito, que Sara teve um aneurisma pulmonar. Contudo, o exame feito pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) refutou a causa da morte atestada pelo médico ao concluir que os pulmões de Sara estavam íntegros.
Além disso, outro ponto importante é que o médico, após a morte da paciente, liberou seu corpo sem ter certeza do que havia levado a jovem a óbito. “[Ele] Liberou o corpo sem a possibilidade de uma necrópsia”, explica o delegado.
A família de Sara nunca aceitou a causa da morte atestada pelo médico e, após sua morte, decidiu pedir apuração da polícia em sinal de respeito à memória da estudante. “A Sara sempre foi uma pessoa íntegra e não nos confortamos com as especulações criadas em torno da sua morte. Por isso, lutamos para mostrar a verdade”, colocou a tia da estudante, Patrícia Amaral.
Segundo Patrícia, embora o resultado da perícia tenha sido inconclusivo para apontar a causa da sua morte, foi importante para confirmar que Sara não teve um aneurisma pulmonar, como supôs o médico no atestado de óbito. “Ele [médico] concluiu sem saber o que, de fato, aconteceu, e isso comprova a negligência”, analisa a tia, entrevistada na tarde de ontem pelo Diário.
PELO JORNAL
A família soube pelo jornal que o médico havia sido indiciado. Apesar de ser um alento, o resultado do inquérito não é comemorado pelos familiares, afinal, reaquece a dor de uma perda que ainda é muito marcante.
Porém, a tia de Sara destaca que, no final, era isso que a família esperava: a comprovação de que a morte da estudante era evitável. “Se ela tivesse sido tratada devidamente, sua morte teria sido evitada. Houve negligência desde o primeiro momento. Houve uma sucessão de erros e má fé”, garante.
Com essa etapa vencida, a família só espera que o acusado seja levado a um julgamento justo. “Nossa família é muito discreta e não é de sair apontando culpados em qualquer circunstância. Mas, em memória da Sara, lutamos para que a verdade viesse à tona”, concluiu.
Agora é com a Justiça
O inquérito com o indiciamento do médico foi entregue na tarde de ontem no Fórum da cidade. Caberá à Justiça dar um ponto final no caso, com o julgamento do profissional. Ainda é prematuro estipular qualquer tipo de prazo, mas, processos semelhantes levaram mais de dois anos para serem concluídos.
Contudo, antes de o médico ser considerado réu, primeiro o inquérito será levado ao conhecimento do Ministério Público. Caso o órgão ofereça denúncia e a Justiça aceite o pedido, então é que o caso passará a tramitar de maneira regular no Fórum local.