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Inédito: bastidores da prisão de morador de Morro Reuter que protagonizou fuga de delegacia

25/08/2020 - 18h20min

Morro Reuter – Envolvido com o tráfico de drogas e em roubos, Ranieri Thiago Delavi Ribas, vulgo Rani, 42 anos, foi protagonista de uma fuga da Delegacia de Pronto Atendimento de Novo Hamburgo em 2017, após sair de Morro Reuter com 102 gramas de crack e uma porção de maconha para abastecer bocas de fumo em São Jerônimo.

Foto do momento em que Ranieri Ribas chega de volta à DPPA Novo Hamburgo após fugir pela porta da frente (TJ/RS)

Rani conseguiu se desvencilhar das algemas e sair correndo pela porta da frente, mas acabou sendo recapturado horas depois nas proximidades da DPPA. O fato envolvendo o criminoso teve grande repercussão na época, mas os bastidores que o levaram à prisão ninguém sabe.

Três anos depois, documentos inéditos obtidos pelo Diário revelam que Ranieri Ribas era investigado pelo Ministério Público e pela Brigada Militar por envolvimento com um grupo criminoso que tentava instituir uma célula do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Estado, especificamente na Vila Kephas, em Novo Hamburgo.

O PCC foi fundado na década de 90, em São Paulo, por criminosos que se tornaram “famosos” na crônica policial, como é o caso do assaltante de banco, Marcos Camacho, o Marcola. Hoje, a organização criminosa é considerada a maior facção do Brasil e domina o tráfico de drogas em diversos estados brasileiros.

 

LIGAÇÕES

De acordo com denúncia oferecida pelo Ministério Público, Ranieri Thiago Delavi Ribas começou a ser investigado após escutas telefônicas identificarem seu relacionamento com uma quadrilha independente situada no bairro Kephas, em Novo Hamburgo, que era afiliada ao PCC.

Ainda segundo o MP, Ranieri, que na época morava na Av. Independência, no Centro de Morro Reuter, integrou o grupo liderado pelo casal de traficantes Dionimar dos Santos da Silva, o Tuta, 40 anos, e Daiana Regina Ribeiro. Este casal, que tinha um minimercado de fachada na rua Bernardo Dejalmo Ludwing, no Kephas, era quem fornecia drogas a Ranieri, que, por sua vez, recebeu a concessão para comandar o tráfico de drogas em uma vila do município de São Jerônimo.

Ao longo da investigação, que começou em fevereiro de 2017, o MP e policiais do Setor de Investigação da BM do CRPO Vale do Sinos se valeram das escutas telefônicas para prender Ranieri quando este estava a caminho de São Jerônimo com uma carga de drogas para abastecer as bocas de fumo em uma vila às margens do Rio Jacuí.

Seguido pela polícia: droga na cueca e fuga da DP

Policiais à paisana flagraram Ranieri saindo da casa de familiares em Morro Reuter (TJ/RS)

Ranieri foi preso em 23 de maio de 2017, dia em que foi monitorado em tempo real por policiais militares quando saiu de São Jerônimo, por volta das 9 horas, com destino a Novo Hamburgo, onde veio buscar mais drogas para abastecer as bocas de fumo que administrava. Pela proximidade, Ranieri aproveitou para ir visitar parentes em Morro Reuter.

Por volta das 11 horas, ao chegar em Novo Hamburgo e pegar uma carga de drogas com o “patrão” Dionimar dos Santos da Silva, no Kephas, Ranieri seguiu para Morro Reuter, onde almoçou com familiares. Em uma moto e de maneira discreta, os policiais flagraram o momento em que Rani recebeu a droga de Dionimar, numa casa na rua Borussia. Os brigadianos não prenderam os dois na oportunidade por uma questão estratégica, pois queriam saber como Rani iria se movimentar em Morro Reuter.

Por volta das 14 horas, após o almoço em família, Ranieri fez outra ligação, desta vez para avisar um comparsa que estava saindo de Morro Reuter com destino a São Jerônimo, com a carga de droga. Os policiais, que estavam monitorando o traficante, desta vez, decidiram agir. Quando Ranieri saiu da casa em que residia em Morro Reuter, foi fotografado pelos policiais.

Na sequência, ao chegar em uma parada de ônibus na BR 116, os policiais que estavam em uma viatura discreta pediram para que uma guarnição do policiamento ostensivo abordasse o traficante. O momento da abordagem também foi fotografado pelos agentes do Setor de Inteligência da BM.

Comemoração

Momento em que brigadianos abordaram Ranieri e não localizaram a droga escondida na cueca (TJ/RS)

Entretanto, os policiais que abordaram Ranieri não encontraram a droga. O fato causou estranheza por parte dos policiais que o monitoravam, algo que foi compreendido no momento seguinte a saída da guarnição ostensiva.

Ranieri ligou imediatamente para a namorada comemorando. Disse que tinha sido abordado e que os policiais não localizaram a droga, pois ela estava escondida dentro da sua cueca. Diante desse relato, que foi interceptado, os policiais do Setor de Inteligência solicitaram nova uma abordagem, desta vez a agentes do Pelotão de Operações Especiais do 3ºBPM de Novo Hamburgo.

A nova abordagem aconteceu por volta das 15 horas, quando Ranieri já estava no interior de um ônibus, na BR 116, no bairro Roselândia, em Novo Hamburgo. Desta vez, os policiais localizaram a pedra de crack e a porção de maconha.

Ao ser conduzido à DPPA Novo Hamburgo, Ranieri conseguiu fugir da delegacia, mas acabou capturado logo depois, fato amplamente divulgado pela imprensa na época.

Condenação

A investigação que resultou na prisão de Ranieri terminou em dezembro de 2017, com uma mega-operação, que foi batizada de Aliança, já que o objetivo inicial do Ministério Público e da BM era identificar uma suposta ligação entre membros do PCC, que estariam atuando em Novo Hamburgo, com a liderança da facção Os Manos.

Além de Ranieri, outros 39 traficantes foram alvos da polícia na época e viraram réus em processos que tramitaram em Novo Hamburgo e Porto Alegre. Ranieri foi condenado a seis anos e três meses de reclusão, no segundo semestre do ano passado.

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