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Com tarifaço, Taurus transfere principal linha de montagem de armas para os EUA

A fabricante de armas Taurus anunciou, na semana passada, que vai transferir para os Estados Unidos sua principal linha de montagem, atualmente localizada na fábrica de São Leopoldo (RS). A decisão é uma resposta direta à tarifa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump sobre as exportações brasileiras para o mercado americano.
O movimento provocou queda de 7,07% nas ações da companhia, que fecharam o dia cotadas a R$ 4,60, reduzindo o valor de mercado da Taurus em R$ 33 milhões, para R$ 705 milhões.
O mercado americano representa cerca de 90% das vendas da empresa, voltadas principalmente ao público civil por meio de distribuidores locais. Em comunicado, o CEO global da Taurus, Salesio Nuhs, afirmou que, desde o início das discussões sobre o tarifaço, a fabricante adotou medidas preventivas, como reforço de estoque nos EUA e antecipação de exportações de peças, especialmente carregadores.
“Temos cerca de 90 dias de estoque, o que dará autonomia de alguns meses com produtos internalizados antes da nova tarifa”, declarou Nuhs.
A partir de setembro, cerca de 900 das 2,1 mil armas diárias destinadas ao mercado americano — da família G, principal linha de pistolas civis da Taurus — passarão a ser montadas nos Estados Unidos. As peças continuarão a ser fabricadas no Brasil, mas serão enviadas desmontadas para montagem final no exterior.
De acordo com o analista Chrystian Oliveira, da Levante Corp, a estratégia suaviza o impacto tarifário, já que a taxa incidirá apenas sobre o kit desmontado, e não sobre a arma completa. A montagem nos EUA agrega valor “made in USA”, reduzindo o efeito da taxação sobre a margem de lucro.
A Taurus emprega 2,2 mil pessoas na unidade de São Leopoldo, mas ainda não informou se haverá demissões com a mudança. A empresa mantém também fábricas na Índia e em Bainbridge, no estado americano da Geórgia, onde hoje produz 25% de sua linha — pistolas TX22 e revólveres Heritage.
O anúncio ocorre dias após a Embraer, isenta da tarifa extra, sinalizar investimento de US$ 500 milhões para montagem do cargueiro KC-390 nos EUA, caso vença licitação da Força Aérea americana.
Para o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, a decisão da Taurus é viável porque a montagem exige menos infraestrutura e já conta com mercado garantido, algo que não se aplica a todos os setores. “Peças específicas e bens de baixa complexidade podem justificar a mudança, mas é improvável que isso ocorra em larga escala no Brasil. É mais provável que países como México ou China atraiam essas operações”, avaliou.
O comunicado da Taurus também informou que a empresa segue em articulação com autoridades brasileiras, incluindo o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Fernando Haddad, e negocia com o governo gaúcho a liberação de créditos de ICMS para reforçar o caixa e manter a competitividade nas exportações.