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Coronavírus: a verdade que ninguém conta

29/05/2020 - 13h53min

Atualizada em 29/05/2020 - 13h55min

Região – Muitas pessoas com que você conversa se queixam do noticiário da grande mídia. “Nem ligo mais a televisão”, desconversa uma senhora de 65 anos. O marido confessa a mesma coisa em outras palavras. “É só caixão, cemitério, câmara frigorífica, notícia ruim”. E completou: “eu não acredito em nada disso”. A verdade é essa. O coronavírus foi politizado no país e a gestão da pandemia deve ser uma das piores do mundo. Ninguém se entende, um empurra para o outro e responsabilidades mesmo com relação a melhor política para enfrentar o vírus ninguém assume, a começar pelo presidente da República.

Ele foi desautorizado pelo Supremo de ditar a política de saúde assim que a pandemia se instalou também no Brasil com a primeira morte no dia 17 de março. Vale lembrar que o primeiro caso comprovado foi no dia 27 de fevereiro, logo depois do carnaval, que neste ano foi dia 25 de fevereiro. Do dia 17 até dia 25 de março os principais estados entraram em quarentena. O governador baixou decreto mandando ficar todo mundo em casa – lembrem-se do bordão Fique em Casa! – e os prefeitos fizeram a mesma coisa. Como num castelo de cartas, os prefeitos da região baixaram decretos de fechamento das atividades comerciais, industriais e de serviços e proibiram aglomerações, um atrás do outro.

Todo dia fechava um município. Em Estância Velha chegou-se ao paroxismo. A prefeita determinou que a polícia local fecha-se várias indústrias que ainda estavam funcionando. Um dono de empresa chegou a chorar suplicando para ao menos terminar um pedido para pagar o vale dos funcionários. Não adiantou nada. A polícia lacrou a empresa e os funcionários ficaram sem o vale. Dois policiais civis, que estavam junto, desistiram da operação diante de tamanha crueldade.

QUARENTENA
Em todo o Brasil o cenário foi o mesmo. Em Brasília se instalou o pandemônio com o comportamento do presidente Jair Bolsonaro. Desde os primeiros dias ele desdenhou do coronavírus, ocupou rede de rádio e televisão para dizer que se tratava de uma gripezinha ou resfriadinho, encontrou-se com Trump na Flórida e no avião presidencial 27 pessoas acabaram testando positivo. Comprando briga com meio mundo e sempre vivendo às turras com a imprensa, Bolsonaro virou alvo fácil para a grande mídia e arrastou consigo a errática política sanitária para o Brasil. Tínhamos na época um ministro da Saúde que era muito bom de mídia, mas não era chegado a meter a mão na massa. Mandetta falava muito e produzia pouco. Não podia ser diferente, ele é deputado federal e político como o próprio presidente.

Em meio a quarentena que entrou abril a dentro o Supremo tratou de dar o seu pitaco. Decidiu que, quem ditava a política sobre medidas com relação ao coronavírus, eram os estados e municípios. Como um dos traços do presidente é justamente esse, de chutar o pau da barraca quando é contrariado, lavou as mãos e tratou de dar o mau exemplo a cada oportunidade que tivesse. Mandetta tratou de aproveitar cada oportunidade que tivesse na mídia para contrariar o presidente. Repetia exaustivamente: ciência, ciência, ciência, isolamento social, recomendo isso e aquilo. Quanto mais falava isso, mais o presidente se misturava com a população contrariando todas as recomendações das autoridades sanitárias do planeta inteiro. O Brasil passou a ser o Joãozinho do Passo Certo na figura do seu presidente. Aliás, o que acontece até hoje.

Mandetta iniciou dizendo que o pico da epidemia seria no final de abril, depois passou para maio, depois para junho. Entretanto, sempre deixou claro que o Brasil sofreria muito até agosto, quando a curva do coronavírus passaria a ser descendente no país. Bolsonaro trocou de ministro e a quarentena em quase todos os estados continua até hoje.

Brasil: 11 mortes p/100 mil habitantes

O que a grande mídia mostra na televisão exaustivamente, todo santo dia, é o grande número de mortos no Brasil. É verdade, mas a verdade nos outros países tidos como de primeiro mundo, é pior ainda. O que importa mesmo, é pegar um parâmetro igual para todo mundo, e aí sim, ter uma ideia real da situação de cada país. Não dá para comparar em números absolutos as mortes da Espanha com as do Brasil se nós temos 210 milhões de habitantes e a Espanha apenas 45 milhões.

Nosso parâmetro é sempre 100 mil habitantes. Por exemplo, o Brasil teve na terça-feira 11,1 mortes por 100 mil/habitantes. Comparado com 9 países europeus e os Estados Unidos, só perdemos para a Alemanha, que está melhor do que nós. Na Alemanha morreram 10,1 pessoas por 100 mil/habitantes. Os Estados Unidos, por exemplo, tem 30,2 mortes por 100 mil, quase 3 vezes mais do que o Brasil. A campeão é a Bélgica, onde morreram 9,334 pessoas para uma população de 11 milhões de habitantes. O número de mortes na Bélgica impressiona. Chega a 80,6 por 100 mil.

O único fator negativo para o Brasil é o fato de aparentar estar no pico agora, enquanto a maioria dos outros países dar mostrar de controle da pandemia. De qualquer forma, o cenário de hoje é esse, que não diz respeito as manchetes do noticiário, que apontam o Brasil como o pior país do mundo.

Rio Grande do Sul: um exemplo para o mundo

A população está com medo por dois motivos: um deles é a desinformação, ou melhor, falta de informações. Se alguém quer saber se o corona está presente na sua cidade, não encontra a resposta. Se se basear pelo noticiário da televisão e da imprensa em geral, sai de baixo. O sensacionalismo predomina, ou é quase hegemônico. Tem dias que olhar o Jornal Nacional ou o Fantástico nos domingos de noite deixa todo mundo deprimido. Um dos grandes males que os especialistas apontam no isolamento social é a doença do pânico e depressão. Para alguns, matam mais do que o próprio coronavírus. Afinal, é tudo isso mesmo ou não.

Como o noticiário busca as mortes para dar audiência, pois a população brasileira tem este traço de morbidez, é mostrado o que dá ibope. Começa por São Paulo, passa pelo Rio, vai subindo, foca mais Fortaleza e Manaus, mas também estaciona em outras capitais do nordeste. Que o Rio Grande do Sul tem 1.700 leitos de UTI e o Ceará apenas 100 ninguém fala. A população é quase igual, 11 milhões para 8 do Ceará.

Vamos se fixar no Estado. No Rio Grande do Sul até agora morreram 203 pessoas de coronavírus. Se fizermos um cálculo de mortes por 100 mil/habitantes, chegamos a 1,8. Cinco vezes menos do que na Alemanha, 7 vezes menos do que em Portugal, 16 vezes menos do que nos EUA, 22 vezes menos do que na Suécia, 30 vezes menos do que na Itália. Um estudo realizado pelo Imperial College aponta que, na pior das piores hipóteses, o Rio Grande do Sul pode chegar a 1.125 mortes até o final de agosto. Mesmo assim, ainda ficaremos na frente da Alemanha. Porque ninguém fala nestes números espantosamente bons, porque não são comentados exaustivamente.

Cadê os testes? Os nossos governantes abandonam a população a sua própria sorte

Quando morreram duas pessoas nesta semana em Rivera, cidade contígua à Livramento, na fronteira com o Uruguai, o presidente da República não teve dúvidas. Deslocou-se imediatamente para Rivera a fim de conferir de perto a situação. Uma das medidas foi testar 1.000 pessoas logo. Os Estados Unidos testam em massa e por isso já tem milhões testados. Na Alemanha, país considerado exemplo na Europa pela baixa letalidade, era aplicados 500 mil testes rápidos por semana. Porque a importância de se fazer testes. Eles servem para medir a RT – Taxa de Reprodução – que norteia a política da grande maioria dos países do mundo.

A primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, fala todas as semanas para o povo dando uma posição da circulação do vírus no país. Ela se baseia na Taxa de Reprodução do coronavírus, que é obtida através do número de testes feitos. Se o RT – sigla em inglês – for maior que 1 é sinal de que uma pessoa contaminada está infectando mais de uma. Se for menor que 1, o corona ao longo do tempo se extingue. Não que se extingue porque talvez venha a ser até mesmo endêmico, mas não causa mais preocupação de se proliferar. Por exemplo, no Estado um dia tínhamos 3.761 infectados contra 3.600 no dia anterior. O aumento representa 1,04. Índice de circulação do vírus excelente. É sinal de que um contaminado passa o vírus para apenas uma outra pessoa. Se o índice chegar a 1,25 passa a ser preocupante. Neste caso um infectado passa o vírus em um mês para 406 outras pessoas.

Na Alemanha aconteceu o seguinte: quando as medidas de isolamento social foram afrouxadas há questão de um mês, o RT estava em 0,9. Só que em duas semanas subiu para 1,2. Angela Merkel foi para televisão e disse que o governo estava de sobreaviso com o aumento. Nada preocupante, por enquanto e nada que altere a política de afrouxamento dependendo da evolução das próximas semanas. É assim que funciona um país cujo governo realmente governa para o povo e joga as claras.

Agora, qual é a RT do Rio Grande do Sul? Alguém sabe? Alguma autoridade sanitária faz ideia cientificamente e não na base do achismo? Adianta infectologistas, sanitaristas, epidemiologistas, todo este pessoal se reunir com o governador se até os EUA foram pegos de surpresa ao ponto do coronavírus parar o país mais poderoso do mundo? Este pessoal têm as informações médicas mas não as estatísticas. Isso só se saberá indo para a rua testar um por um e não apenas quem aparece na porta do hospital com quase todos os sintomas. Aqui no Brasil, para se fazer o teste rápido, só na porta do hospital. Enquanto for assim, vamos continuar no escuro. O Brasil é um dos últimos colocados de todos os países em testagem de pessoas.

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