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Dentista de Dois Irmãos ajuda moradores de um campo de refugiados no Iraque

25/07/2022 - 21h50min

Atualizada em 26/07/2022 - 13h39min

Por Giordanna Benkenstein Vallejos

Dois Irmãos — O dentista Marcelo Martins de Souza e sua esposa, Juliana Mello de Souza, gostam de aproveitar as férias de um jeito diferente. Em vez de descansar ou realizar uma viagem meramente turística, desde 2016, eles aprenderam que a verdadeira felicidade vem quando buscam a felicidade do próximo. Por isso, o casal realiza viagens transculturais por ONGs, para prestar ajuda humanitária, por meio de trabalhos voluntários. Juntos, o casal foi em missões no Egito, Índia, Bolívia, Peru e Amazônia. Eles também realizam ações pontuais, nas cidades da região de Dois Irmãos.

No dia 18 de junho ao dia 4 de julho, Marcelo fez um belíssimo trabalho voluntário como dentista coordenador, em um campo chamado Hassan Sham, com 50 mil refugiados muçulmanos, no Iraque. O local que essas pessoas viviam foi destruído pelo estado islâmico, os obrigando a viver em lonas, sob o calor de 40 graus do deserto, com pouca comida e sem acesso a coisas básicas, como o atendimento odontológico. Em entrevista, o profissional conta sobre a sua experiência.

Qual a situação dos campos de refugiados?

Marcelo ficou 15 dias fazendo trabalho voluntário no Iraque. Crédito: Arquivo pessoal.

Os campos de refugiados deveriam ser cuidados pelo governo iraquiano, só que o governo largou o povo a própria sorte. E o povo curdo, que não é do mesmo povo nos campos, está cuidando deles. Porém, os refugiados não têm perspectiva de saírem de lá, porque eles não podem ir para o estado curdo, por serem árabes e não podem voltar para as suas cidades, destruídas pelo estado islâmico. Tudo que eles conheciam como vida, foi destruído na guerra.

Como foi organizada a viagem?

Grupo de dentistas prestou atendimento para os refugiados. Crédito: Arquivo pessoal.

 Fomos eu e mais três dentistas: Dra. Luciana Costa, Dr. Wagner Barros e Dr. Kendall Capiberibe. Sendo que eu estava na parte de coordenação. Com a ONG Um Novo Amanhã, (UMA), uma entidade cristã de apoio, que organiza as viagens de trabalho voluntário. Todos custos foram pagos pelos próprios voluntários.

Qual foi sua impressão sobre o Iraque?

O Iraque é um país rico, nós que temos uma ideia equivocada, do muçulmano ser terrorista, do islâmico odiar cristão, não é assim. Eles têm as questões deles, mas tem a tolerância. Além disso, tem muitos cristãos da região que odeiam os muçulmanos, mas essa imagem não é mostrada. A parte triste são os campos de refugiados. Neles eu ainda vi cenas de guerra, vilas destruídas, massacradas. Então tem uma situação política e étnica muito complicada, e no meio disso está o povo.

Como foi o trabalho no campo de refugiados?

Fomos para montar dois escritórios odontológicos portáteis, que são como se fossem duas cadeiras de praia, com iluminação conduzida por lanterna. Os problemas deles são os mesmos daqui, mas muito mais exagerados, porque eles ficam anos sem um atendimento odontológico. Em 15 dias, atendemos 200 pacientes. No futuro, colocaremos uma cadeira profissional e um dentista que tenha atendimento o ano todo e iremos em grupo, duas vezes ao ano, para prestar atendimento.

Apareceu alguma diferença cultural que chamou a sua atenção?

Todas as mulheres usavam burca. As mulheres no islamismo são muito aconselhadas a não demonstrar sentimentos. Após alguns tratamentos nos dentes, elas olhavam no espelho e não davam nem um sorriso para elas mesmas. Mas tem um momento que elas ficam extremamente agradecidas, que é quando tratamos os filhos. É a única vez que vi elas demonstrando algo. Mãe é mãe em qualquer lugar do mundo, não importa qual a religião.

O que você aprende com essas viagens?

O interessante dessas viagens é que aprendemos que não estamos indo para mudar a cultura deles, estamos indo para ajudar. O voluntário se esvazia da sua cultura e se enche da cultura do local, obviamente sem abdicar dos seus princípios. Não vamos para julgar se eles estão certos ou não, vamos para ajudar.

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