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Diário Rural: Família Kirst encontrou no campo a maneira de se manter unida

11/11/2020 - 09h39min

São José do Hortêncio – Na tranquilidade de uma rotina afastada dos tormentos da cidade, os momentos de maior agito no cotidiano de Alice, de 61 anos, e Roberto Kirst, de 64, acontecem nos dias em que suas netas Luísa, de 4 anos, Karoline, também de 4, e Karen, de 2 anos, vão lhe visitar. Nestes dias, o trabalho na roça acaba em diversão.

Catarinenses, há 15 anos o casal de aposentados percorreu cerca de 500 km no intuito de que um dia fosse possível levarem a vida que levam hoje. Depois de a vinda das duas filhas mais velhas do casal para Ivoti, a preocupação de Alice era apenas uma: “Com elas longe, como será quando tivermos netos? Não posso ver eles apenas uma vez por ano”. Foi assim, motivados por um futuro ainda incerto, que eles compraram um terreno e se mudaram para uma chácara no Campestre.

Já aqui, eles precisavam encontrar uma nova fonte de renda. Foi então que resolveram se arriscar em uma área que pouco conheciam, mas muito admiravam: a agricultura. “Visitando o interior das cidades, eu via plantações enormes, lindas. Aí, eu comentei com o Roberto que o meu sonho era um dia poder ter minha própria plantação, meus pés de alface… Queria viver fazendo isto”.

Um sonho antigo

Apesar de terem sido criados na roça e sempre terem tido suas pequenas hortas no pátio de casa, ter uma plantação em grande escala não era algo com o qual estavam acostumados. Por isso, o início da vida como agricultores foi um tanto complicado. Conforme lembra Roberto, muitos foram os “perrengues” que enfrentaram até conseguirem aprender a forma correta de cultivar as hortaliças. “Não é fácil, então, aos poucos, com a ajuda de vizinhos, fomos entendendo o processo”.

No entanto, nos primeiros anos, para garantir o pagamento da prestação da casa, Alice precisou trabalhar por um tempo em uma fábrica de calçados e também em um mercado. Já Roberto ficou durante dois anos prestando serviços na plantação de um vizinho para adquirir experiência e conhecimento sobre os tratos necessários para com a lavoura.

“Depois que estávamos mais estabilizados financeiramente e que sabíamos como cuidar dos alimentos que estávamos plantando, largamos os outros empregos e passamos, os dois, a nos dedicar a nossa plantação – que era o que mais queríamos”.

Abobrinha, alho-poró, espinafre, beterraba, rúcula, couve, repolho, tempero verde, cenoura e quatro tipos diferentes de alfaces são algumas das hortaliças cultivadas pelo casal. “Na nossa plantação, procuramos focar em variedade, não em quantidade”, comentam. Sem utilizar nenhum produto químico na produção, eles garantem que o produto é totalmente orgânico.

Eles lembram que logo que chegaram a Hortêncio e começaram seu cultivo, os dois filhos mais novos, enquanto não estavam na aula, ajudavam os pais no serviço da roça. No entanto, por se tratar de um pequeno negócio, eles mesmo incentivaram os filhos a estudarem e encontrarem empregos em outros locais. “Nosso foco aqui não é que eles deem continuidade, este era um sonho antigo que nós tínhamos e também a forma como encontramos para viver depois que mudamos completamente nossos planos”.

Negócios em família

No início do cultivo, tudo que plantavam era vendido para o Ceasa. No entanto, há oito anos, a filha mais velha do casal abriu uma fruteira em Novo Hamburgo e, desde então, a maior parte da produção é comercializada no local.

Por produzirem verduras orgânicas e de qualidade, Alice comenta que a fruteira da filha sempre teve uma boa procura na região, no entanto, com a chegada da pandemia, por oferecerem o serviço de delivery, a venda aumentou e o casal precisou acelerar o ritmo da plantação.

“Depois que a pandemia chegou, tivemos que começar a trabalhar até mais”, afirma, Aline, espirituosa. “Mas é bom para nós. Apesar de este ser um complemento da nossa aposentadoria, acima de tudo, é algo que fazemos por gosto”.

Simplicidade

Hoje, Alice e Roberto vivem a vida que desejaram e que fez com que eles mudassem todos os planos que tinham há alguns anos: diariamente indo até a plantação colher as verduras, desfrutando da companhia dos filhos e partilhando os aprendizados com as netas.

Os dois tocam sozinhos toda a plantação enquanto desfrutam do “sossego” que é viver em contato direto com a natureza. Sem conseguir se imaginar levando uma vida diferente – longe da tão estimada plantação e no ritmo acelerado da cidade –, aproveitam o tempo que passam com suas netas para levá-las ao plantio, onde elas, faceiras, brincam com a terra e entre as plantas.

“Estamos ensinando o bom caminho da vida para elas”.

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