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Dois Irmãos 62 anos: Nosso Hunsrick na Alemanha – parte 2
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* por Fábio Radke
Uma frase que me marcou muito durante diálogos com jovens alemães do Hunsrück, em uma tradução livre, foi “você fala igual aos meus avós”. Antes disso, claro, todos ficavam surpresos ao saber que eu era brasileiro e falava alemão. Não tive maiores dificuldades de comunicação. Exceto alguns apertos, que inevitavelmente, surgem quando entramos em contato com outra cultura. Aqui em Dois Irmãos, o dialeto Hunsrick ainda está muito presente. Volta e meio tenho a oportunidade de trocar umas palavras durante uma reportagem e outra. Mas voltando para a viagem à Alemanha. Não somente de boas cervejas vivem os alemães da região do Hunsrück, no sudoeste da Alemanha. Os vinhos brancos característicos também são uma marca forte daquela região. As parreiras da variedade de uva Riesling cobrem morros em torno dos vilarejos às margens do Rio Mosel. Uma espécie de barraca de vinhos é um atrativo no mercado principal de Trier e sempre reúne ali turistas e moradores em torno do balcão. Sempre uma vinícola diferente apresenta seus melhores vinhos e também permite o diálogo entre apreciadores da bebida e os vinicultores.
Grata surpresa
Minhas postagens em redes sociais renderam uma grata surpresa. Um alemão que conhecia um amigo meu de Bom Princípio, saiu de carro de sua cidade para me conhecer pessoalmente. Ele tinha visto alguns vídeos meus. Quase não acreditei quando alguém solista perguntou quem era o Her Radke. A tecnologia aproximando povos e culturas. O encontro aconteceu em Gehlweiler, aonde haviam sido feitas as gravações do filme Heimat, lançado em 1984. A pobreza na Alemanha no século 19 e o sonho de um futuro melhor no Rio Grande do Sul, no então desconhecido Brasil é apresentado na produção do diretor Edgar Reitz. Já havia conhecido pessoalmente o ator Jan Dieter Schneider (o Jakob do filme), quando jornalista em um outro veículo de comunicação. Ele havia participado de um evento no Instituto Ivoti. Não o reencontrei em sua aldeia, mas conheci conterrâneos e algumas recordações de parte do cenário. Um verdadeiro mergulho no passado. A emoção tomou de mim e de todo o grupo quando o simpático casal Erika e Freimut Stephan, tocou acordeon com músicas típicas alemãs e para a surpresa de todos – a canção Querência Amada em alemão. Descobrimos depois que eles já haviam feito uma turnê na região do Vale do Caí em um intercâmbio cultural. Eles tiveram acesso as cifras da música gaúcha e realizaram a adaptação para o alemão.
O que é o Hunsrick?
A professora de alemão, Solange Kamphorst, explica o que é o nosso Hunsrick. “Na verdade, o dialeto não é uma língua escrita, mas apenas uma língua falada. O escrito sempre vai ser o alemão. O dialeto é lindo, precisa ser mantido, mas somente pode ser falado. Não têm uma forma correta de escrever o dialeto”, explica. O nome dado ao dialeto Hunsrick é uma homenagem a uma região da Alemanha. “A cidade de Trier é banhada pelo Mosel. E de um lado do rio é o Hunsrück e do outro é o Eifel. É uma região, não é uma cidade da Alemanha”, destaca.
Moradores de Gehlweiler caracterizados com vestimentas de época