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24ª Kartoffelfest de Santa Maria do Herval: a história da batata até a chegada no Teewald

09/05/2023 - 17h16min

Atualizada em 09/05/2023 - 18h57min

A Kartoffelfest - Festa da Batata - começa nesta quinta-feira e segue por duas semanas (FOTO: O Diário)

Falta pouco. Na quinta-feira (11) começa a 24ª Kartoffelfest – a tradicional Festa da Batata de Santa Maria do Herval. Serão oito dias com muitas atrações.

Mas, agora, você conhece a história da batata? Não? Então, a seguir, você confere essa trajetória na íntegra, através de um material disponibilizado pela Secretaria de Turismo de Herval – que também estará exposto durante o evento. Boa leitura!

A batata segue sendo um dos principais produtos agrícolas do Herval – movimentando a economia (Créd. Cleiton Zimer / arquivo)

Cordilheira dos Andes

A batata (Salamun tuberosem), também conhecida como batatinha ou batata inglesa é nativa da América do Sul, Cordilheira dos Andes, onde foi consumida por populações nativas em tempos que remontam há mais de 8000 anos. Os incas praticavam o cultivo desse nutritivo tubérculo, até então desconhecido pelos europeus.

Os colonizadores espanhóis levaram a batata para a Europa por volta de 1570, tornando-se importante alimento em vários países como Espanha, Irlanda, Alemanha, Holanda e principalmente na Inglaterra, daí o nome de batata inglesa.

Por volta de 1620, foi levada da Europa para a América do Norte, onde tornou-se alimento popular. Dali, a batata espalhou-se lentamente por todo o continente de sua origem, a América.

Inicialmente era usada como medicamento

Inicialmente a batata era usada como medicamento. Há registros históricos que revelam que o Papa Pio IV recuperou-se de uma doença por volta de 1570 após ter sido prescrito uma dieta de batatas rica em carboidratos. Os espanhóis chamaram a batata de “tartufo blanco”, ou seja tubérculo branco e os alemães usavam a palavra “Kartoffell”, ou seja, “batata”.

Em poucos anos, a batata tornou-se presença obrigatória nas mesas europeias. Também a paisagem rural com plantações ou lavouras era notória, principalmente na Inglaterra e na Irlanda Além disso, houve quem a usava como ornamentação, já que o pé exibe lindas flores.

 A Guerra da Batata

Em 1778 e 1780, ocorreu uma guerra entre Prússia e a Áustria. Foi conhecida como “Kartoffelkrieg” (Guerra da Batata), pois os soldados se alimentavam a base do alimento. Durante a Revolução Industrial aumentou em muito a produção no mundo, sendo considerado um alimento muito nutritivo e que pode ser utilizado para diversas finalidades.

Nos séculos XVIII e XIX, em muitos países da Europa, a batata era o principal alimento da maioria da população, principalmente do campo. Os agricultores começaram a produzir grandes quantidades.

O rei da Rússia, Frederico, O grande, ordenou obrigatoriedade do consumo em todas as refeições daquele país. Uma desastrosa seca e uma doença causada por um fungo, na década de 1840, deixou muitos irlandeses morrendo de fome, eram milhares, obrigando muitos a emigrar para os Estados Unidos.

Brasil: início no Cinturão Verde de São Paulo

No Brasil o cultivo mais intenso da batata, acompanhado de outras hortaliças, iniciou-se na década de 1920 no Cinturão Verde de São Paulo.

Graças ao melhor domínio das técnicas de cultivo, especialmente com o uso de batata-semente de melhor qualidade e irrigação, a produtividade nacional aumentou quase 40% do início da década de 1970 até o final de 1980, o que levou a um aumento da produção total da ordem de 15%, mesma com a redução da área plantada.

 E a vinda para Santa Maria do Herval – regada por dificuldades.

Segundo uma pesquisas feitas entre os moradores e colonos mais antigos do município de Santa Maria do Herval, mostra que os colonos, desde o início do século passado, plantavam e cultivavam em pequenas quantidades de batata para o consumo familiar. O que não consumiam era vendido aos comerciantes locais, que as transportavam de carretas de tração animal para Sapiranga, Novo Hamburgo e São Leopoldo. E, de trem ou navio, eram levados a Porto Alegre e lá a batata era comercializada.

Com o passar dos anos novas variedades de batata-semente apareceram, mas a produtividade não aumentou muito, várias eram as causas: sementes não certificadas e livres de viroses, solos esgotados, falta de adubos químicos e corretivos, não uso de agrotóxicos adequados

 Êxodo Rural fez autoridades adotarem ações

A situação geral dos agricultores da região era de grande pobreza e muitas famílias passavam fome.

Entre 1940 – 1950 começou o auge do Êxodo Rural dos colonos gaúchos para o estado vizinho Santa Catarina a procura de novas terras. Para conter o desenfreado Êxodo Rural, as autoridades municipais de São Leopoldo – de onde o Herval era distrito – e a União Popular, começaram a visitar o interior fazendo palestras e orientando os agricultores como melhor utilizar os solos e o domínio das novas técnicas nas diversas culturas e criações em uma propriedade rural.

Também a cultura da batata passou por grandes transformações a partir das orientações. A partir de 1950 apareceram as variedades de batata de origem alemã, a Beneticta e Jacobi; e uma outra chamada “Olho Roxo” que deu uma boa produtividade.

Os 20 kg que mudaram o curso da história em Alto Padre Eterno

Em 1953 Albano Adolfo Sander, de Alto Padre Eterno, recebeu 20kg da variedade “gaúcha” para produzir semente. O plantio foi orientado pelo engenheiro agrônomo regional Clemente Goepfer, usando novas técnicas, adubo químico e fungicidas.

O resultado da produção foi fantástico. Dos 20kg foram colhidos 288kg. A partir desta produção os colonos da redondeza começaram a adquirir pequenas quantidades dessa semente a fim de multiplicá-la e produzir em maior escala para o comércio.

Em 1957 veio para o Teewald uma nova variedade. Era de cor vermelha, formato alongado e de aparência bonita, chamada de “Baronesa”.

Era de boa produtividade se espalhou rapidamente por toda a região. A produção aumentou muito, tendo aceitação no mercado e intensificando o comércio cada vez mais. Os comerciantes locais começaram a comprar em grandes quantidades e comercializavam o produto na grande Porto Alegre. Depois, retornavam das cidades trazendo insumos como adubo, calcário, entre outros.

 Teewald entre os maiores produtores do Estado

Entre 1965 até 1980 Santa Maria do Herval e arredores eram um dos maiores produtores de batata do Rio Grande do Sul. Naquela época muitos dos agricultores conseguiram boas produções e assim foram modificando o panorama econômico da região.

Entre 1980 até 1990 começou a superprodução nacional, porém na região de Santa Maria do Herval caiu a produção, a qualidade e as doenças diminuíram a produtividade da cultura.

Assim, muitos dos pequenos agricultores não conseguiram mais competir com as novas técnicas e lavouras mecanizadas que produziam grandes quantidades por um preço menor.

Tentativa de contornar

A partir de 1983, a Emater, a Cooperativa Piá, Sindicato Rural e Prefeitura, preocupados com a situação do meio rural, principalmente com a baixa da produção da batata, não mediram esforços para modificar e reverter a situação caótica do setor primário do município.

Foram apresentados aos agricultores novas alternativas de produção não só de batata, como também outras como hortifrutigranjeiros, criação de gado leiteiro e suínos.

A partir dali a produção começou a se normalizar no município, pois a maioria dos agricultores possui, além da batata, outras culturas, como também criações.

Foram disponibilizados financiamentos para o custeio das lavouras e a compra de máquinas e ferramentas.

Durante os anos de crise, os produtores sofreram muito. Várias famílias desistiram da agricultura e foram para as cidades. Outras famílias mudaram atividades agrícolas em outras culturas e os mais jovens saíram para a indústria calçadista.

Inspirado em Bensheim

Na década de 90, preocupados em divulgar o município no cenário estadual e regional e, com mais subsídios e inspirados na cidade de Bensheim-Alemanha, onde era realizada a Strasse Fest (Festa de Rua), foi criada em 1996 a primeira Kartoffelfest – a Festa da Batata de Santa Maria do Herval que, neste ano, chega em sua 24ª edição.

Batata segue sendo um dos fortes do Teewald

A batata ainda é um dos principais produtos agrícolas. A área plantada é de em torno de 400 hectares, entre a safra e a safrinha, com uma produção de 18 à 22 toneladas por hectare. Entretanto, quando se fala em beneficiamento a produção é muito maior, pois boa parte vem de municípios como São Francisco de Paula.

A principal característica do Herval é ser uma grande produtora de batata em propriedade com mão de obra familiar, não mecanizada, com controle de uso de produtos químicos e agrotóxicos, com isto Santa Maria do Herval produz a batata como um produto mais saudável e natural.

Material contando a história da batata estará exposto na festa (FOTO: Cleiton Zimer)

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