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30 Anos, 30 Histórias: o 11 de setembro vivido de perto por uma cafeense

22/03/2023 - 10h53min

Jurema em frente à escola em Ellenville, em que foi estudar (Créd.: Arquivo Pessoal)

Nova York – O dia 11 de setembro de 2001 está marcado na história como o dia do maior e mais devastador ataque terrorista já vivenciado. Os prédios que foram destruídos são apenas a menor parte da atrocidade daquele dia. As milhares de vidas perdidas, e tantas outras feridas, deixaram uma cicatriz incurável na humanidade, e as consequências daquele dia mudaram os rumos da segurança e economia global. O sentimento patriótico do cidadão estadunidense também foi brutalmente ferido e o medo passou a fazer parte de todos até hoje. Desde então, o mundo tem sido dividido em um antes e um depois desse evento traumático.

Naquele trágico dia, uma moradora de Picada Café estava há apenas 45 minutos das Torres Gêmeas e, mesmo não estando no local dos atentados, sentiu de perto o que é o terrorismo e o sentimento de fraqueza e impotência que os ataques trouxeram. Jurema Klein, na época com 22 anos, estava há cerca de um ano e meio nos Estados Unidos para estudas inglês. Hoje, mais de duas décadas depois, a agora professora do idioma a qual foi aprender, relembra aquela data marcante, como ficou sabendo e o que sentiu ao presenciar o 11 de setembro. Este é o episódio de hoje da série “30 Anos, 30 Histórias”, que marca a série de reportagens em comemoração ao 30º Aniversário do jornal O Diário.

Pré-ataques

Na manhã daquela terça-feira de céu azul e temperatura na casa dos 20 ºC, Nova York estava em plena atividade como qualquer outra grande metrópole. As pessoas estavam indo para o trabalho, as escolas estavam iniciando as aulas, o trânsito estava congestionado e as atividades econômicas e comerciais estavam em pleno vapor.

Turistas visitavam a cidade, faziam compras ou visitavam pontos turísticos, como o World Trade Center (WTC), um complexo comercial composto principalmente por dois arranha-céus, que já foram os maiores do mundo: as Torres Gêmeas. Antes dos ataques, muitas pessoas trabalhavam dentro das torres, que eram um importante centro comercial e financeiro. Essa rotina seguiu normal até 8h45, quando, um minuto mais tarde, foi interrompida de maneira brutal e inesperada pelos ataques terroristas.

Nova York antes dos ataques (Créd.: Divulgação)

Aviões sequestrados

Antes das 8 horas, 19 jihadistas membros da Al-Qaeda, grupo extremista islâmico fundado por Osama Bin Laden, embarcaram em quatro aviões nos aeroportos de Boston, Washington e Newark com o intuito de sequestrá-los e jogá-los contra as Torres Gêmeas, o Pentágono e, possivelmente, o Capitólio.

Pouco depois das 8 horas, o primeiro avião, o American Airlines 11, foi sequestrado por cinco terroristas logo após decolar do Aeroporto Logan, em Boston, com destino a Los Angeles. Liderados por Mohamed Atta, os terroristas mataram o piloto e o copiloto e assumiram o controle da aeronave. Às 8h46, o voo AA 11 era lançado a 750 km/h contra a Torre Norte do WTC, causando uma explosão entre os andares 91 e 99, matando instantaneamente todos a bordo do avião e tantos outros no prédio.

O momento foi capturado pelo cineasta francês Jules Naudet, que junto de seu irmão, Thomas, gravavam um documentário sobre os bombeiros nas ruas de Manhattan, Nova York. Os dois acompanhavam os trabalhos de Antonio Benetatos, um bombeiro que estava começando seu trabalho na corporação quando o primeiro impacto aconteceu.

O relato da cafeense

Dois dias antes, Jurema e seu marido, Carlos Caetano, na época seu namorado, visitaram as torres, mas não subiram os 110 andares de cada prédio. Então, no dia 11, Jurema estava assistindo televisão em sua casa, nas montanhas de Nova York, cerca de 45 minutos do WTC, quando o noticiário começou a transmitir o “acidente” na Torre Norte. “Não tínhamos como imaginar o que aconteceu. No primeiro, pensei que fosse um acidente. Todos Imaginaram isso, Mas quando a cena se repete, aí não tem palavras pra descrever. O silêncio toma conta e eu pensei ‘não pode ser acidente, não pode, não pode’. Foi aí que caí na real e vi que se tratava de uma coisa muito mais séria”, relembra.

A professora paralisou por alguns segundos ao perceber que tratava-se de um ataque terrorista. Sua primeira reação foi pegar o telefone e ligar para sua mãe, no Brasil, para dizer que não estava tão perto e que estava bem. “Eu sabia que era grave, mas não queria passar a dimensão do que era. Eu pensava que poderiam vir mais aviões, destruir monumentos, lançar bombas. Passa um filme na cabeça”, conta.

Sentimentos

Passados 22 anos, Jurema conta que descrever o sentimento vivido no momento é muito difícil, porque na hora foi um choque. Ainda assim, ela lembra que sentiu muito medo e insegurança por não saber o que mais poderia acontecer. “A gente nunca está preparado para esse tipo de tragédia. Você só calcula a dimensão da tragédia um tempo depois. Acho que todos que passam por uma situação de vida e morte, mesmo não sendo no mesmo local, sentem isso. Você não sabe onde e quando pode ocorrer um novo ataque”, afirma. Mesmo sem conhecer nenhuma das vítimas, com o passar do tempo, ela conversou com muitos familiares, principalmente de bombeiros que morreram tentando resgatar outras pessoas.

O segundo ataque

Apenas 17 minutos após o voo AA 11 atingir a primeira torre, o United Airlines 175 (Boston-Los Angeles), com 9 tripulantes e 56 passageiros, entre eles cinco terroristas, atinge a Torre Sul às 9h03 a 965 km/h. Como as emissoras de televisão já transmitiam o impacto na Torre Norte, o momento foi transmitido ao vivo para todo o mundo. “Eu estava entre os andares 74 e 72 nas escadas, quando o segundo avião atingiu o nosso prédio. Ele atravessou os andares 77 e 85. Nunca senti nada assim. Aquele prédio, aquela escada de incêndio onde estávamos, aquele bunker de concreto começou a tremer tão violentamente, que os corrimãos saíram das paredes”, afirmou Joseph Dittmar, sobrevivente da Torre Sul, ao jornal O Globo.

A partir daí, todos perceberam que era impossível que dois aviões atingissem os dois prédios das Torres Gêmeas com poucos minutos de diferença de forma acidental. O entendimento de que era um ataque terrorista foi instantâneo.

 

Os aviões 3 e 4

Às 9h37, o American Airlines 77 (Boston-Los Angeles), com seis 6 tripulantes e 58 passageiros, dentre eles cinco jihadistas, é jogado contra a fachada Oeste do Pentágono, a sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. “Falaram até que possivelmente sentimos a asa do avião se movendo. Mas, para mim, foi o suficiente para perceber que algo estava errado. Quando todos começaram a sair, pensei, ‘ok, essa é uma situação perigosa’. Ainda assim, naquele momento, eu estava pensando que tinha sido uma bomba deixada no prédio”, disse Karen Baker, sobrevivente do pentágono, também ao O Globo.

Avião atingiu o pentágono

Um quarto avião, o United Airlines 93 (Boston-São Francisco), tinha como provável destino o Capitólio, em Washington, que abriga o Congresso dos Estados Unidos e é considerado o coração do governo. No entanto, o voo com 7 tripulantes e 37 passageiros, sendo quatro terroristas, caiu às 10h03 em um campo próximo a Shanksville, após briga entre terroristas e passageiros.

A queda das torres

Apenas 56 minutos após a Torre Sul ser atingida pelo segundo avião, sua estrutura entrou em colapso e desabou às 9h59, formando uma onda gigante de detritos e poeira. Às 10h28, a Torre Norte também cai, menos de duas horas após ser atingida pelo primeiro avião.

Os ataques de 11 de setembro deixaram 2.753 vítimas em Nova York, 184 no Pentágono e 44 em Shanksville. Dentre estas mortes, 340 foram de bombeiros que entraram nas torres para tentar salvar vidas. Estima-se ainda que, ao longo dos anos, mais de 18 mil mortes ocorreram em decorrência da poeira tóxica respirada pelas pessoas nos meses seguintes aos atentados.

De acordo com um relatório do Congressional Research Service, os custos diretos dos ataques foram de aproximadamente US$ 40 bilhões, incluindo os danos às propriedades, os custos dos resgates, de limpeza e de segurança pública. Foram precisos três meses de trabalhos ininterruptos, 24 horas por dia, até que todos os destroços fossem removidos.

Consequências

Jurema afirma que um ataque terrorista afeta não só os locais e as pessoas diretamente atingidas, mas sim o planeta inteiro. “As medidas de segurança foram redobradas ao mundo, a economia global até hoje, acredito, não se recuperou. Muitos comércios, negócios, foram fechados, turistas acabaram não indo mais visitar monumentos históricos por medo do mesmo acontecer. Acabou afetando o direito de ir e vir e vai continuar assim, porque mesmo que se mate uma pessoa (Osama), o terrorismo continua”, comenta.

Além da segurança nos aeroportos ter sido aumentada, os próprios aviões tiveram suas estruturas melhoradas para impedir que a cabine dos pilotos sejam acessadas. “Não sabemos quantos terroristas ainda aparecerão ao redor do mundo. Então acho que nunca mais será como era antes”, finaliza a professora.

Relato dos Sobreviventes

“Não conseguia respirar porque o ar estava muito pesado. Lembro de usar a camisa para tapar a boca. Estava sob um veículo estacionado embaixo de uma passarela”. Al Kim, paramédico.

“Eles foram heróis, cuidaram do problema com as próprias mãos. Ajudaram a prevenir um grande desastre naquele dia e ganharam um papel na história deste país”. Gordon Felt, irmão de Edward Porter Felt, vítima do quarto avião.

Professora Jurema atualmente (Créd.: Arquivo Pessoal)

Dentro dos aviões

Durante os ataques terroristas, os aviões sequestrados estavam cheios de passageiros e tripulantes que enfrentaram uma experiência terrível e traumatizante. Todos a bordo foram feitos reféns pelos sequestradores, que usaram facas e outros objetos como armas para controlar a situação.

Eles receberam a notícia de que os aviões haviam sido sequestrados por terroristas e que estavam sendo usados como armas para atacar alvos nos Estados Unidos. Muitos tentaram se comunicar com familiares e amigos por celulares ou sistemas de comunicação a bordo dos aviões. Algumas pessoas conseguiram falar e contar o que estava acontecendo, enquanto outras foram impedidas pelos sequestradores.

As chamadas telefônicas, assim como as comunicações das cabines com os aeroportos e as caixas-preta das aeronaves foram essenciais para entender o que aconteceu antes dos aviões atingirem seus alvos.

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