Assessor de um dos deputados federais mais votado da região é alvo de operação por desviar recursos da saúde

A Polícia Federal (PF) deflagrou, nesta quinta-feira (13), a Operação EmendaFest para investigar desvios de recursos de emendas parlamentares destinadas ao Hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul.

Foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e em municípios gaúchos.

A investigação apura um esquema que teria envolvido o pagamento de propina para a liberação de R$ 1 milhão em emendas.

Entre os alvos está Lino Furtado, chefe de gabinete do deputado federal Afonso Motta (PDT-RS), afastado do cargo por decisão judicial. O parlamentar não é investigado diretamente.; Afonso é um dos deputados federais mais votados da região.

MANDADOS

A ação da PF ocorreu em Brasília e nos municípios de Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo; Estrela e Lajeado, no Vale do Taquari; e Rosário do Sul, na Fronteira Oeste. Os mandados foram expedidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino.

A investigação aponta indícios de corrupção ativa e passiva, além de desvios de recursos públicos por meio da intermediação de emendas parlamentares.

O Supremo também determinou o afastamento das funções públicas de dois investigados: Lino Furtado, assessor de Afonso Motta, e Cliver André Fiegenbaum, diretor administrativo e financeiro da Metroplan.

Também foi ordenado o bloqueio de valores em contas de pessoas físicas e jurídicas envolvidas no caso.

Posicionamento do deputado Afonso Motta

O deputado Afonso Motta, que estava fora de Brasília durante a operação, retornou à capital federal e concedeu entrevista para esclarecer sua posição. Ele indicou que a demissão é uma possibilidade:

— Eu não tive ainda a oportunidade de conversar com ele no meu retorno, eu vou conversar, é uma investigação, não tem uma condenação, mas claro, ele já está desligado do meu gabinete por decisão judicial. (…) Provavelmente (será demitido), é uma palavra dura, mas provavelmente eu vou desligá-lo do meu gabinete. Mas eu vou respeitar o fato de ele estar sendo investigado, como qualquer cidadão.

O parlamentar ressaltou que não foi alvo de buscas ou de outras medidas judiciais. Segundo ele, todas as suas emendas seguiram os trâmites regimentais:

— Todos os procedimentos com relação a essas três emendas que são objeto da investigação foram adotados de forma conveniente e de forma a seguir os rituais das emendas parlamentares da Câmara.

Motta também afirmou que acompanha a destinação dos recursos de seu gabinete:

— Sou um parlamentar que acompanha a indicação dos recursos. Evidentemente que no caso da situação que está sendo investigada tem uma outra dimensão. É uma situação onde um intermediário vem aqui na Câmara dos Deputados e busca emendas parlamentares. Tem uma relação de remuneração pelo fato da emenda ser indicada. Nunca tive nenhuma relação que tivesse essa natureza ou esse tipo de envolvimento. Sempre com muita consideração e sabendo da necessidade desses hospitais, nós fizemos a indicação dessas emendas.

Em nota, o deputado reafirmou que confia na justiça e destacou que a investigação não questiona o conjunto de emendas parlamentares que ele indicou. Segundo ele, o trabalho legislativo continuará normalmente.

Posicionamento do Hospital Ana Nery

O Hospital Ana Nery, beneficiário das emendas investigadas, emitiu uma nota informando que recebeu com surpresa a notícia da Operação EmendaFest. A instituição garantiu total colaboração com as autoridades e reafirmou seu compromisso com a transparência e o cumprimento das normas legais:

“O Hospital Ana Nery reitera seu compromisso com a ética e a legalidade e seguirá colaborando com as investigações para que sejam conduzidas com a máxima celeridade e transparência.”

A investigação segue em andamento, e a Polícia Federal ainda não divulgou novas informações sobre os próximos passos do inquérito.

A reportagem contatou Lino, mas, até essa publicação, não obteve retorno.