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Cavaleiro de Dois Irmãos resgata cachorra abandonado em Canguçu

25/08/2022 - 18h52min

Atualizada em 25/08/2022 - 19h34min

Durante a peregrinação da Guarda de Honra da Chama Crioula Sidnei Pannebecker achou o animal e o resgatou (Créd. Arquivo pessoal)

Por Cleiton Zimer

Dois Irmãos / Estado  – A tradicional cavalgada da Guarda de Honra da Chama Crioula, além de representar a vivacidade da cultura gaúcha, também foi uma nova oportunidade para uma cachorrinha de poucos meses que foi encontrada por um cavaleiro de Dois Irmãos em Canguçu. Estava abandonada, totalmente debilitada e provavelmente teria como destino a morte precoce.

Depois de resgatada, a “Chama Crioula” seguiu na charrete de Pannebecker (Créd. Arquivo pessoal)

Sidnei Pannebecker, 50 anos, se compadeceu e a socorreu com o apoio dos demais companheiros. Ela o acompanhou durante a trajetória de mais de 380 quilômetros, por cerca de 14 dias. Ao longo do percurso foi batizada e levou o nome daquilo que mudou seu destino: Chama Crioula. Agora, ela integra a família de Sidnei no Portal da Serra, em Dois Irmãos. “Seu Deus quiser vou cuidar dela até o dia em que virar uma estrelinha”.

Situação em que foi resgatada (Créd. Arquivo pessoal)

 

Chama Crioula hoje (Créd. Arquivo pessoal)

O ENCONTRO DA SALVAÇÃO

Sidnei conta que no segundo dia de cavalgada estavam se dirigindo para a Escola Oscar Fonseca da Silva, no quinto distrito de Canguçu. Lá montaram acampamento e, nas proximidades, havia um Boliche de Campanha onde foram comprar galos cantadores para os acordar durante a manhã e, também, galinhas para galinhadas ao longo da peregrinação. “Compramos as coisas do pessoal de lá para ajudar na economia familiar deles”, explicou.

Quando se dirigiu para o fundo do galpão, para pegar os galos e as galinhas, viu a cachorrinha presa em um pedaço de madeira. “Ela me olhou, levantou a cabecinha e deitou. Cheguei perto dela e estava muito magra, debilitada. Dei um pouco de água e ela tomou”.

Sidnei questionou o dono do local e ele afirmou que ela havia aparecido há cerca de dois dias, que teve de amará-la pois caso contrário seria morta pelos demais cães de caça que há no local. E também não poderia ficar com ela pois já tinha vários outros. “Aí desci para o acampamento, mas comecei com aquele negócio na minha cabeça, de que o bichinho estaria lá. Voltei e pedi se poderia levar embora, cuidar dela. E ele concordou”.

O cavaleiro a carregou no colo mesmo pois, de tão fraca, nem caminhar conseguia. “Tratei ela. Dormiu comigo nos pelegos. E foi indo, todo mundo adotou ela, colocamos nome, batizamos. Todos ajudaram a tratar e de lá para cá começou a andar comigo na charrete”.

Primeira vez que participou da Guarda de Honra da Chama

Guarda de Honra desbravando o Estado em busca da Chama (Créd. Arquivo pessoal)

Participando de cavalgadas há muitos anos pela região, Pannebecker foi convidado a fazer parte da Guarda de Honra da Chama Crioula pela primeira vez. “O que para mim foi muito importante, é algo que eu queria há muito tempo e, este ano, tive o privilégio de ser convidado”.

O cavaleiro testemunhou o amor que os antigos tiveram para com a tradição, e, ao mesmo tempo, os desafios que enfrentaram que para que ela se perpetuasse. “É uma epopeia. Sentimos na pele o que o homem de antigamente passava. Lógico que temos mais conforto hoje, mas também teve muitas dificuldades. Foram dias de sol, chuva. Passamos por muito frio com um minuano de cortar, como diz o gaúcho de lá: era de renguear o cusco”.

Reconhecimento

O cavaleiro detalha que em cada querência e galpão que passavam havia uma história a ser contada e ouvida. Andavam pelas ruas e eram filmados, fotografados, conheciam a cultura local e, também, falavam das suas próprias andanças.

Um ajudava o outro para manter a Chama sempre acesa. Quando pousavam num lugar, era erguido um altar para ela e, lá, sempre havia um guardião para mantê-la viva. “É muita responsabilidade, espero que o povo de valor para isso, porque não podemos deixar nossa cultura morrer, a Chama Crioula fecha todo o cerimonial, sem ela não existira Semana Farroupilha”.

A Chama foi conduzida por 386 quilômetros, ao longo de 14 dias, de Canguçu até Estância Velha por representantes de Dois Irmãos e Morro Reuter. No dia 10 de setembro uma comitiva dos integrantes da Trigésima Região Tradicionalista buscará a Centelha que será distribuída para todos os centros tradicionalistas.

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