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Cessar-fogo? Ataques continuam no Oriente Médio mesmo após fala de Trump

24/06/2025 - 09h27min

Atualizada em 24/06/2025 - 09h35min

Israel afirma que o Irã continuou disparando mísseis na madrugada desta terça (24/6)

Após anunciar pessoalmente um cessar-fogo entre Israel e Irã, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou nesta terça-feira (24) sua rede social Truth Social para fazer um apelo direto ao governo israelense: “ISRAEL. NÃO LANÇEM ESSAS BOMBAS. SE FIZEREM, É UMA GRAVE VIOLAÇÃO. TRAGAM SEUS PILOTOS PARA CASA, AGORA.”

A declaração surge em um momento de máxima tensão no Oriente Médio, com novos relatos de mísseis disparados e ordens de evacuação em Teerã, apenas horas depois da trégua anunciada pelo próprio Trump. O presidente afirmou a jornalistas que está “insatisfeito” com Israel e que tanto israelenses quanto iranianos violaram os termos do cessar-fogo estabelecido na noite de segunda-feira.

“Houve um foguete lançado ao mar após o prazo limite e agora Israel está reagindo. Esses caras precisam se acalmar”, disse Trump antes de embarcar para a cúpula da Otan, em Haia. “Não gostei do fato de Israel ter disparado logo após o acordo.”

UM ACORDO INSEGURO

O cessar-fogo foi declarado por Trump como “completo e total” por volta das 19h (horário de Brasília) de segunda-feira, com vigência a partir das 4h da manhã de terça-feira no Oriente Médio. O Irã, segundo seu chanceler Abbas Araghchi, concordou em cessar os ataques caso Israel parasse primeiro.

Israel, por sua vez, afirmou ter atingido seus “objetivos militares” e declarou que aceitava a trégua. O governo de Benjamin Netanyahu afirmou que destruiu dezenas de alvos em Teerã e matou “centenas de agentes da milícia Basij” e um segundo cientista nuclear iraniano.

No entanto, horas após o anúncio, moradores de Teerã, Karaj e Rasht relataram explosões intensas durante a madrugada. As Forças de Defesa de Israel emitiram ordens de evacuação para três distritos da capital iraniana.

O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, ordenou resposta “intensa e centralizada no coração de Teerã” após acusar o Irã de violar o cessar-fogo ao continuar disparando mísseis — alegação que o governo iraniano nega.

EUA TENTAM EVITAR ESCALADA

Trump condenou tanto Israel quanto o Irã. Segundo ele, “nenhum dos dois lados parece saber mais o que está fazendo”. Ainda assim, o republicano reforçou que o Irã “jamais reconstruirá suas capacidades nucleares” e criticou o lançamento de mísseis mesmo após o acordo.

O presidente americano afirmou que “não gostou do que viu” e pretende agir para conter os novos ataques: “Vou ver se consigo impedir”, afirmou.

A mediação do cessar-fogo contou com envolvimento do Catar. O primeiro-ministro do país, Sheikh Mohammed Al Thani, teria atuado diretamente nas negociações. Na véspera, o Irã havia bombardeado a base americana de Al-Udeid, no território catariano. Os EUA informaram que 13 dos 14 mísseis foram interceptados e que não houve vítimas.

ATAQUES E RETALIAÇÕES

Os bombardeios mais recentes marcam o 13º dia de confrontos diretos entre Irã e Israel, iniciados após ataques israelenses às instalações nucleares iranianas no dia 12 de junho. Segundo imagens de satélite, as plantas de Fordo e Natanz sofreram danos extensos. Os EUA, únicos detentores de bombas “destruidoras de bunkers” capazes de perfurar até 18 metros de concreto, também participaram dos bombardeios.

O Irã respondeu com mísseis contra bases americanas no Catar e, segundo fontes iranianas, contra uma base no Iraque — informação ainda não confirmada por Washington.

PETRÓLEO, DIPLOMACIA E GEOPOLÍTICA

O anúncio de cessar-fogo provocou impacto imediato no mercado global: o barril do petróleo Brent caiu para US$ 68, revertendo os aumentos provocados pelo conflito.

Ao mesmo tempo, a crise se tornou tema prioritário da cúpula da Otan. Trump chegou à Holanda em meio à pressão de aliados europeus, que defendem diálogo em vez de ação militar. O presidente norte-americano, no entanto, se apresenta como arquiteto de uma solução rápida — algo que os líderes da Otan receiam e admiram em igual medida.

Trump, sensível à imagem internacional, deverá usar o cessar-fogo como trunfo político: “A guerra dos 12 dias terminou”, declarou nas redes, sugerindo uma vitória diplomática em contraste com os impasses na Ucrânia.

CONTEXTO RUSSO E CHINÊS

Enquanto os EUA buscam consolidar a trégua, o ministro iraniano Araghchi esteve em Moscou em reunião com Vladimir Putin. O presidente russo classificou os ataques americanos como “infundados” e elogiou os laços entre Irã e Rússia. A China, por sua vez, foi instada pelos EUA a convencer o Irã a manter o Estreito de Ormuz aberto — ponto estratégico para o comércio global de petróleo.

CENÁRIO AINDA INCERTO

Até o momento não foi confirmado se novos ataques ocorreram após o início oficial do cessar-fogo. Ambos os lados se acusam mutuamente. Trump, por sua vez, adota tom duplo: faz elogios à “vitória contra o Irã” e críticas diretas a Israel por ter reagido “sem necessidade”.

Analistas da Casa Branca, como Bernd Debusmann Jr., veem na trégua uma oportunidade para Trump capitalizar politicamente, mesmo que a paz se revele frágil. Outros, como Anthony Zurcher, avaliam que o Irã tenta manter o conflito sob controle para não legitimar nova escalada americana.

Ainda assim, com dezenas de mortos, cientistas assassinados e estruturas civis destruídas, o Oriente Médio segue à beira de uma nova fase de hostilidades. E a próxima bomba — mesmo indesejada — pode já estar armada.

 

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