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China e EUA anunciam trégua na guerra comercial com corte tarifário de 90 dias
Em um passo significativo para conter os danos da prolongada guerra comercial, China e Estados Unidos anunciaram nesta segunda-feira (13) um acordo que prevê a redução temporária de tarifas sobre produtos importados entre os dois países. O corte, que valerá por 90 dias a partir desta quarta-feira (14), promete amenizar os impactos econômicos e sinaliza uma possível reaproximação diplomática entre as duas maiores potências do planeta.
Segundo o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, as tarifas mútua serão reduzidas em 115%. Na prática, as taxas americanas sobre produtos chineses cairão para 30%, enquanto a China aplicará tarifa de 10% sobre produtos dos Estados Unidos. Antes do acordo, os percentuais estavam em 145% e 125%, respectivamente, fruto de uma escalada de retaliações comerciais iniciada com o anúncio do ex-presidente Donald Trump, em abril, de que aumentaria as tarifas sobre produtos chineses em 34%.
O acerto foi firmado após reuniões entre representantes dos dois países em Genebra, na Suíça, durante o fim de semana. Em comunicado conjunto, EUA e China destacaram “a importância de suas relações econômicas e comerciais bilaterais para ambos os países e para a economia global” e se comprometeram a manter um canal permanente de diálogo sobre os temas.
Além da redução tarifária, o acordo inclui um ponto sensível: o compromisso da China de interromper o envio de fentanil e seus precursores químicos aos EUA. A droga sintética é apontada como a principal responsável por mais de 74 mil mortes por overdose em território americano em 2023. Com o compromisso, uma tarifa extra de 20% que seria imposta à China por conta da substância foi suspensa.
Impacto imediato
O anúncio teve reflexos quase instantâneos nos mercados. O dólar americano e o yuan chinês valorizaram-se, enquanto analistas financeiros avaliaram positivamente a decisão. “O corte foi maior do que o esperado e está sendo visto como um avanço bem-vindo”, afirmou Theo Leggett, correspondente de negócios da BBC.
Na Casa Branca, Trump classificou o acordo como “um primeiro passo extraordinário na direção certa” e disse esperar que as tarifas não voltem ao patamar anterior após os 90 dias de trégua. Ele ainda anunciou um possível encontro com o presidente chinês Xi Jinping “até o fim da semana”.
Histórico de tensões
A guerra comercial entre EUA e China tem sido uma constante desde o primeiro mandato de Trump, com negociações frequentes e resultados limitados. Em 2020, um “Acordo Comercial de Fase Um” foi assinado, comprometendo a China a aumentar suas compras de produtos americanos e reforçar regras de propriedade intelectual. No entanto, as metas não foram cumpridas integralmente, e os desentendimentos comerciais persistiram.
Segundo o ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, a expectativa é de que os EUA “continuem trabalhando com a China” para estabilizar o comércio bilateral. Por sua vez, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que a China também se comprometeu a discutir a abertura de seu mercado a produtos americanos.
Futuro incerto
Apesar da trégua, analistas mantêm cautela quanto à possibilidade de um acordo definitivo. “Noventa dias são uma janela para aliviar tensões, mas não resolvem questões estruturais profundas”, ponderou Jonathan Josephs, da BBC. Os atritos comerciais entre os dois países refletem modelos econômicos e ideológicos distintos: de um lado, o capitalismo de livre mercado americano; do outro, a economia fortemente controlada pelo governo chinês.
Ainda que o novo acordo represente um alívio temporário, o futuro das relações econômicas entre China e Estados Unidos seguirá sendo observado com atenção pelos mercados e pela comunidade internacional.