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“Eles foram meus anjos”, diz mulher salva pela Brigada Militar em Dois Irmãos

15/03/2023 - 11h12min

Madalena relata os momentos de pânico que passou nas mãos de um homem que a manteve refém no seu local de trabalho por 20 minutos. Ela não tinha nenhuma relação com o sujeito, que foi morto (FOTO: Cleiton Zimer)

Por Cleiton Zimer

Dois Irmãos / Ivoti – A costureira Madalena Staudt, de 46 anos, passou por momentos de terror na última quinta-feira (9). Ela foi feita refém por um homem dentro da Malharias Daiane, no Travessão, e ficou em poder dele por aproximadamente 20 minutos sendo ferida com uma garrafa quebrada, socos e puxões de cabelo. Guerreira do início a fim, ela buscou forças dentro de si para aguentar cada golpe e teve a vida salva pela Brigada Militar (BM), que, sem outra opção, matou o homem.

Madalena está em casa, em Ivoti, onde mora com a mãe e o marido – se recuperando. Ainda sentindo dores pelo corpo e, também, tendo pesadelos de noite, seu único sentimento agora é o de gratidão: pela vida, por aqueles que a salvaram e que estão prestando todo o apoio neste momento.

Os principais ferimentos foram nas costas e nuca (FOTO: arquivo pessoal)

FICOU PARALISADA QUANDO VIU A GARRAFA NA MÃO DELE

Madalena lembra de como tudo aconteceu. Mesmo aposentada ela trabalha na Malharia há cerca de 12 anos – durante o dia. Naquela quinta-feira fariam serão até às 19h30.

No entanto, por volta das 18h50, funcionárias da loja [que fica mais à frente] vieram correndo para o setor da produção, fechando as portas, afirmando que um homem estava do lado de fora quebrando os vidros com pedradas e querendo entrar.

Ela se assustou, levantou, mas nunca imaginou que ele realmente pudesse acessar o interior da empresa. “Fui correndo. Eu achei que estava segura ali dentro, que ele não entraria”.

Ela seguiu adiante e, de repente, viu o homem na sua frente. Ela não imaginou que fosse o mesmo que estava do lado de fora, até pensou que poderia ser alguém do turno da noite que ainda não conhecia. Madalena recorda que ele estava com o semblante normal, sem aparentar estar nervoso naquele momento.

Era só ela e ele, frente a frente.

Eu pedi assim: tu também trabalha aqui? Também está saindo? Ou é você?” – lembra Madalena.

Neste momento ela desviou o olhar para baixo e viu a garrafa quebrada na mão do homem. Ela ficou paralisada, as pernas não se mexiam, não conseguia correr. “Aí ele me pegou no pescoço e disse: tu vai morrer, tu vai morrer”, lembra, ainda muito abalada.

Madalena nunca tinha visto o homem e não entendeu nada do que estava acontecendo. “Eu perguntei: moço porquê tá fazendo isso? Ele disse: não me interessa, eu perdi tudo, para mim tanto faz. Eu vou te matar.

Ela implorou pela vida dizendo que tinha a mãe – uma idosa de 84 anos para cuidar, seu marido, animais. Mas o agressor não quiser saber, logo começou a cortar ela com a garrafa quebrada – principalmente na nuca e costas – e, cada vez que alguém tentava chegar perto para ajudar, cravava o vidro ainda mais fundo.

O homem estava numa literal “caça à ex-namorada”, a qual trabalhava na loja mas tinha pedido demissão dias antes temendo, justamente, que pudesse vir a procurar por ela na empresa – pois ele não aceitava o fim do relacionamento, de acordo com a polícia. Como não a achou, atacou Madalena – que nem conhecia – de forma aleatória.

‘SE ELA NÃO VEM, TU VAI MORRER’

Depois de rendê-la o agressor pegou Madalena pelos cabelos, deu socos nas costelas e barriga, a arrastou pelo estabelecimento até chegar num estoque – onde ficou jogando-a de um lado para o outro. Todos pediam que ele a soltasse mas não adiantava.

O homem ordenava que chamassem a ex. ‘Se ela não vem, tu vai morrer’ – repetia insistentemente.

Algumas pessoas tentaram se aproximar novamente e ele começou a sufocar a vítima com o braço, ferindo mais profundamente com o vidro. “E eu gritei: não chega perto. De tanta dor que sentia.

Ele disse: vou dar cinco minutos para ela [ex] vim. Não, vou dar dois” – lembra Madalena, que, assim como não conhecia o agressor, também não sabia quem era a ex-namorada dele, pois trabalhavam em setores totalmente diferentes [a viu por uma foto somente, no final de semana após o ocorrido].

BUSCOU FORÇAS DENTRO DE SI

O tempo todo ele também ameaçava ela caso perdesse a consciência. ‘Não faz gracinha. Não finge que vai desmaiar’ – dizia.

E mesmo sendo flagelada, sufocada e golpeada, Madalena se manteve forte a cada instante. Ela nem sabe ao certo como, mas naquela hora encontrou forças dentro de si. “Eu pensava na minha mãe, meus cachorrinhos, marido, a família. Foi o que me deu forças”, disse, emocionada.

Madalena conta que, num determinado momento, conseguiu pôr as mãos na nuca e sentiu um buraco na pele. Se desesperou mais ainda e conseguiu arrancar o vidro da mão do homem, mas ele tinha outro no bolso, ainda maior.

Policiais militares deram fim ao pesadelo

Foram longos minutos – aproximadamente 20, acredita Madalena –, em poder daquele homem transtornado.

Quando viu a Brigada Militar chegando clamou por socorro. “Eu disse: me ajuda, não estou aguentando mais, estou morrendo, perdendo sangue”. Os policiais pediram diversas vezes para o homem soltar Madalena, mas ele não cedia às negociações e, tampouco, permitia que a vítima fosse socorrida.

Não tiveram escolha e agiram em legítima defesa de terceiros, atirando e matando o agressor. Ela conta que escutou dois estampidos, mas conforme a polícia, o homem foi morto com cinco tiros pois não parou nem mesmo diante dos primeiros disparos.

Naquela hora Madalena perdeu os sentidos e chegou e desmaiar. Foi acudida e voltou à si.

Não tinha mais como esperar e nenhuma ambulância havia chegado. Os policiais levaram-na de viatura até o Hospital Geral de Novo Hamburgo – ela lembra que sua gerente esteve do seu lado o tempo todo, até o hospital [e depois disso também].

No dia seguinte ela recebeu alta. Agora está em casa, se recuperando. Os machucados ainda doem, tanto quanto as lembranças daquela noite horrível. “Eu ainda acordo e quando lembro disso eu choro. É difícil esquecer.

Os principais ferimentos foram na parte das costas e nuca. Seu corpo todo dói, diante dos socos que levou. Também perdeu muito cabelo de tanto que ele a puxava.

Mesmo em meio à dor, Madalena é grata

A costureira diz que foi e está sendo difícil, mas, que poderia ter sido pior. “Ele estava com aquela garrafa com um pano (coquetel molotov). Se ele não tivesse conseguido render ninguém, talvez, teria colocado fogo em tudo.

Emocionada, Madalena fez questão de agradecer aos policiais. Eles foram meu anjos”, disse.

Ela não sabe quem foi que salvou sua vida, mas deixou claro que quer agradecer pessoalmente ao policial ou policiais por essa nova chance que recebeu de viver.

Madalena também destaca todo o apoio que recebeu dos seus demais colegas, dos patrões, dos amigos e familiares – o que está sendo crucial para enfrentar este momento.

Sobre o agressor

O homem foi identificado pela polícia como Carlos Eduardo da Costa, 33 anos. Ele soma ao menos três ocorrências de violência contra as mulheres desde 2014 e, todas elas, com requinte de crueldade após as vítimas pedirem pelo término do relacionamento.

Contra a ex que procurava, estavam num relacionamento desde maio do ano passado e foram morar juntos em janeiro. Em setembro do ano passado ela tinha pedido o término mas, ele a ameaçou com facas, amarrando-a e tapando a boca; a vítima continuo o relacionamento por medo e em janeiro foram morar juntos. No dia 3 de março registrou uma ocorrência contra ele. O homem chegou a armar uma armadinha para ela na casa dela, colocando um fio desencapado na porta; a Brigada Militar foi junto com a vítima no dia 6 para retirar os pertences, mas o disjuntor caiu e ninguém se feriu. Diante disso a Polícia Civil representou pela prisão preventiva, no dia 8, o que foi decretado pela justiça cerca de meia hora antes do ocorrido no Travessão.

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