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Família Becker em Dois Irmãos: história esculpida em madeira

16/09/2022 - 14h49min

Atualizada em 16/09/2022 - 14h50min

Relógio de ouro que Hugo herdou de seus ancestrais. Naquela época, os relógios eram de bolso. Créditos: Giordanna Benkenstein Vallejos.

Por Giordanna Benkenstein Vallejos

 

Hugo em frente a Serraria Becker. Créditos: Giordanna Benkenstein Vallejos.

 

Em meio a diversos documentos históricos e objetos antigos de valor inestimável, Hugo Guilherme Becker e sua esposa, Terezinha Becker, contam sobre a Dois Irmãos de antigamente. Hugo fala também sobre a Serraria Becker, uma importante referência histórica do município, que passou por quatro gerações da família e ainda está sendo utilizada.

Os documentos antigos foram encontrados em uma parede falsa na casa da família e são um elo com o passado. “É muito bonito podermos ver e recontar essa história. A maioria das coisas nos documentos são escritas em alemão e encontramos muitos arquivos, fotos e objetos. ”, disse Terezinha.

O bisavô de Hugo Guilherme Becker, Georg Becker, está entre os primeiros colonos a vieram da Alemanha para a localidade de Dois Irmãos. Ele conta que seu ancestral criou, pedra sobre pedra, a Serraria Becker, no ano de 1872. Foi ele também quem adquiriu a casa branca, em estilo enxaimel, que fica próxima à serraria, no bairro Travessão.

Trabalharam também na serraria o vô de Hugo, Christiano Becker e o pai dele, Jorge Alfredo Becker. Foram quatro gerações que produziram em madeira naquele mesmo local.

A roda do tempo

Hugo mostra as rodas de carroça decorativas, dentro da Serraria Becker. Créditos: Giordanna Benkenstein Vallejos.

A serraria funcionava com a energia gerada pela roda D`água. “Era a roda de água de fomentava tudo. Para não queimar as coisas, tínhamos que deixar três luzes ligadas sempre. ”, disse Hugo. No verão, eles precisavam fechar a represa para ter água suficiente para o trabalho. Com os anos, a roda foi estragando e ainda existem algumas partes dela guardadas. O desejo da família é de restaurar o objeto, que simbolizava a passagem do tempo no município e atraia turistas.

 

 

O legado de Georg persiste

Terezinha foi quem encontrou os itens antigos. Ela mostra o caderno de Georg, de 1876. Créditos: Giordanna Benkenstein Vallejos.

Hugo Becker ainda caminha até a serraria para confeccionar, com o apoio da sua esposa, rodas de carroça para decoração. Com o passar dos anos, ele vivenciou a alta demanda dos colonos por carroças com rodas de madeira, depois as com rodas de pneu e por fim, a modernização com a chegada dos tratores, que reduziu drasticamente a produção na serraria. Hugo e Terezinha conseguiram se reinventar e fizeram da nostalgia, uma fonte de renda complementar a aposentadoria, com as rodas de carroças decorativas.

 Tesouro secreto

Terezinha encontrou, em uma parede falsa na casa antiga da família Becker, diversos itens históricos. Alguns deles são cadernos de contabilidade da Serraria Becker, outros de desenho, português e demais estudos dos filhos de Georg Becker. É possível perceber como eles tinham o cuidado de escrever com uma caligrafia elegante e padronizada.

Ela mostra o primeiro caderno de contabilidade de Georg, do ano de 1876, escrito com uma impecável letra, em caneta tinteiro. Nos cadernos de contabilidade ainda estão colados os selos, que antigamente eram utilizados para fiscalização tributária dos negócios. Se a quantidade de selos não condizia com o movimento, os empreendimentos eram multados.

Outro destaque é uma escritura de contrato de compra e venda e doação de terras de 1863, tempo em que o Brasil ainda era Império, em estado perfeito de conservação. Também foram encontrados objetos como o lenço de luto, que era dado de presente quando alguém perdia um ente querido, para chorar por um ano pela pessoa.

Ela mostra diversas fotos antigas e explica que antigamente não era permitido sorrir em fotos. Terezinha teve a dedicação de identificar as imagens com os nomes, anos e informações que tinha acesso, para que no futuro, as próximas gerações consigam entender os retratos. “Como é bonito podermos resgatar a memória das coisas antigas e também ver como tudo mudou”., disse ela.

 

 O presente

Hoje Hugo tem 75 e Terezinha 76 anos. Ambos são aposentados, mas Hugo ainda faz rodas de carroça decorativas e Terezinha gosta de fazer artesanatos. Os dois completaram bodas de ouro, enfrentaram muitas adversidades na vida e se mantiveram unidos. Eles gostam de cuidar da horta, que fica na lateral da casa, e de fazer caminhadas diárias juntos. O casal teve dois filhos e três netos, que perpetuarão a história e o legado da família Becker.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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