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Ministério Público identifica produção de leite com soda cáustica e água oxigenada em Taquara
Após quase 12 anos da primeira fase e mais de sete anos desde a última etapa, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) realizou, nesta quarta-feira (11), a 13ª fase da Operação Leite Compen$ado. O foco da operação é um esquema de adulteração de produtos lácteos em uma indústria localizada no município de Taquara, no Vale do Paranhana. Entre os presos está o químico industrial conhecido como “alquimista” ou “mago do leite”, reincidente em fraudes no setor.
A investigação, conduzida pelas Promotorias de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre e de Defesa do Consumidor, identificou a adição de produtos nocivos à saúde, como soda cáustica e água oxigenada, além de “pelos indefinidos” e sujeira em embalagens de leite UHT, leite em pó e outros derivados. A Justiça ainda não autorizou a divulgação das marcas envolvidas.
Esquema sofisticado
O “alquimista” foi alvo da 5ª fase da operação em 2014, quando foi acusado de adulterar produtos com substâncias químicas em uma indústria de Imigrante, no Vale do Taquari. Mesmo após condenações e medidas cautelares impostas pela Justiça, como o uso de tornozeleira eletrônica, ele voltou a atuar na produção de laticínios. Segundo o promotor Mauro Rockenbach, o químico aprimorou suas técnicas, dificultando a detecção das fraudes em análises laboratoriais.
“A soda cáustica ajusta o pH do leite e volatiza rapidamente, escapando dos exames tradicionais. Ele desenvolveu fórmulas precisas que mascaram as adulterações, o que representa um risco ainda maior à saúde pública”, explicou Rockenbach.
Operação e prisões
A ação envolveu 110 agentes e cumpriu quatro mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão em Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e São Paulo. Além do químico, foram presos o sócio-proprietário da empresa, dois gerentes e uma funcionária, flagrada por embaraço à investigação ao alertar colegas para ocultarem celulares.
Durante as buscas, foram apreendidos documentos, amostras de produtos e uma arma de fogo com numeração raspada, encontrada com o diretor administrativo da fábrica.
Distribuição nacional e internacional
Os produtos adulterados são distribuídos em larga escala, não apenas no Rio Grande do Sul, mas em todo o Brasil e até na Venezuela. A empresa investigada venceu diversas licitações públicas, incluindo o fornecimento de laticínios para escolas.
A divulgação das marcas adulteradas depende de análises complementares, que devem identificar os lotes contaminados.
Impacto e prevenção
Desde a 12ª fase da operação, em 2017, poucas denúncias de adulteração haviam sido registradas, segundo os promotores. No entanto, o caso atual reativou os alertas para fraudes na cadeia produtiva de leite e derivados.
O promotor Alcindo Luz Bastos destacou que práticas como o reprocessamento de produtos vencidos agravam os riscos. “Além de comprometer a saúde pública, esses crimes também afetam a confiança do consumidor no setor”, afirmou.