Estado - País - Mundo
O olhar de ternura de Lila Leia da Silva de Dois Irmãos
Por Geison Machado Concencia
Dois Irmãos – Lila Leia da Silva, 74, morou 13 anos em Novo Hamburgo, depois veio para Dois Irmãos e aqui está há mais de três décadas. Quando chegou, sentiu a diferença de uma cidade grande como a que morou, para a nova, menor. Porém, foi acolhida pelos vizinhos logo de início. O marido veio primeiro, durante a semana ele trabalhava de jardineiro aqui na cidade e aos fins de semana voltava para a casa, junto de sua mulher e seus três filhos.
Ela comentou que a situação ficou difícil, pois as crianças choravam de saudades do pai. Portanto ela decidiu, junto com o marido, mudar-se de vez para Dois Irmãos, pois como tinha serviço na cidade, valia a pena. Havia uma despesa grande para pagar, dois alugueis, o de Novo Hamburgo, onde ela morava, e a residência em Dois Irmãos, onde o marido ficava de segunda a sexta. Lila morava com os pais já a sete anos e percebeu que era hora de ela e o marido trocar de cidade. Lila e o marido foram para o São João, lugar que ficaram por quatro anos. Ela começou a cuidar de crianças para ajudar o marido nas despesas da casa. “Fizemos muitas amizades e sempre fomos bem recebidos.” Depois, mudaram-se para o Vale Verde, onde construíram a casa que Lila mora até hoje, aos 75 anos.
História de amor da Lila
Lila é natural de Crissiumal, mas passou boa parte da infância e juventude em Venâncio Aires, onde trabalhou na colônia. A princípio ela saiu da cidade para São Leopoldo, a fim de arrumar um casamento. Ao chegar lá, gostou de um rapaz que depois descobriu que era de Venâncio Aires também. “Foi uma coincidência muito engraçada, mas deu certo,” relembrou Lila.
Cuidar de crianças
A moradora do Vale Verde sempre gostou de crianças. E logo percebeu a oportunidade de unir o útil ao agradável. O começo desse trabalho se deve a alta demanda que havia na época, pois muitos pais não tinham onde deixar seus filhos. “Muitos casais vieram do interior e foram trabalhar nas fábricas e confiavam em mim para cuidar dos pequenos.”
Adoecimento de João
João Paulo sofreu um acidente de bicicleta, depois que passou mal enquanto pedalava de volta para a sua casa. A queda fez com que ele ficasse impossibilitado de trabalhar. Essa situação obrigou o filho Paulo Ricardo, o mais novo, a trabalhar para ajudar nas despesas da família.
Durante muito tempo, Lila trabalhava meio turno como faxineira e depois ajudava a limpar a casa e a cuidar do marido doente. “Ele teve pneumonia e com isso ganhou pontadas durante o percurso e acabou caindo e machucando o maxilar,” disse Lila. O acidente de João foi em 1995 e a morte em 2005.
Valores de Lila
Lila é uma mulher negra, em uma cidade em que boa parte da população é branca. Mas ela comentou que sempre sentiu respeito, por parte das outras pessoas. Lila comentou, inclusive, que nunca percebeu algum ato de racismo. Tanto da parte dela, quanto do falecido marido João. “A gente sempre teve emprego, tanto eu quanto minhas filhas, além disso, sempre fomos respeitados, por qualquer lugar que passássemos,” lembrou Lila. A mãe de Núbia, Ricardo e Vanusa comentou que sempre respeitou muito as pessoas e passou esse ensinamento aos filhos. “ Em primeiro lugar devemos respeitar para sermos igualmente respeitados.”
Lila mora em frente a escola Affonso Wolf, onde seu filho estudou e agora, seu neto, também. Ele gosta de aparecer, com os amigos, na casa da vó e ela aproveita a oportunidade para ensinar todo mundo sobre o valor do respeito. “Os meninos vêm até aqui e a gente pode aproveitar para ensiná-los, passar a nossa experiência, sempre gostei de ser a psicóloga dos meus filhos e agora do meu neto.”
A Lila acredita que nunca percebeu o preconceito ou racismo aqui em Dois Irmãos, por que parte do princípio de nunca agir com violência, “não agridam, para não ser agredidos. Esses valores são muito importantes para mim. Aprendi com os meus pais.” A Silva crê nisso, como um fator para não ter sofrido com esses problemas aqui na cidade. Ela faz muita referência a Jesus Cristo, com Quem diz ter aprendido a viver. “Sou muito apegada aos valores cristãos. Jesus ensinou a não revidarmos a agressão com violência.”
Depois de ter ficado viúva e ganhado a aposentadoria, Lila sentiu que precisava estudar, como uma forma de dar um novo propósito para a vida. Fez o EJA e passou em todas as etapas, mas teve que abandonar a escola por questões de saúde. “Mas gostava de estudar, o meu sonho era cuidar de crianças e queria ser professora, gosto de ouvir os pequenos.”
.
.
*VEJA MAIS REPORTAGENS DO ANIVERSÁRIO DOS 63 ANOS DE DOIS IRMÃOS NO SITE DO JORNAL, NA EDIÇÃO ONLINE E NO IMPRESSO QUE JÁ ESTÁ NAS RUAS.