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Vendedor e comprador são manipulados por estelionatário na negociação de carro em Dois Irmãos
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Por Cleiton Zimer
Dois Irmãos – A negociação de um carro pelas redes sociais culminou em um golpe com prejuízo de R$ 17 mil na semana passada. Um criminoso enganou comprador e vendedor ao mesmo tempo, que só se flagraram quando já era tarde demais.
O bandido se apropriou de um anúncio verdadeiro, usando ele em outra plataforma. A partir do interesse de uma pessoa passou a intermediar o negócio, manipulando os dois lados – que não desconfiaram – levando-os até o Tabelionato onde preencheram o Documento Único de Transferência (DUT). Entretanto, no momento do pix, o valor não caiu na conta do vendedor.
Entendendo o golpe por etapas
A primeira vítima
Uma ocorrência foi registrada na Delegacia de Dois Irmãos. Conforme a polícia tudo começou há cerca de duas semanas. Um morador de Novo Hamburgo, que trabalha em Dois Irmãos, anunciou seu carro (modelo não será divulgado) na OLX, pelo valor de R$ 26 mil. Um homem entrou em contato dizendo ser de Lajeado, afirmou ter interesse no veículo e que o daria como parte na entrada de um imóvel. Por este motivo, a pessoa (para quem supostamente venderia o imóvel) viria olhar – para aprovar ou não o carro como “entrada”.
A segunda vítima
Esse homem que manifestou a vontade de comprar o carro é, na verdade, o estelionatário. Antes mesmo dele entrar em contato com o vendedor, já havia pego o anúncio na OLX e publicado no Marketplace do Facebook, com outros dados de contato, pelo valor de R$ 18 mil, onde uma moradora de Dois Irmãos viu e se interessou.
Essa mulher passou a trocar mensagens com o estelionatário – acreditando ser o real proprietário do carro. Abriram a negociação e foram para o WhatsApp, onde conseguiu baixar o valor para R$ 17 mil. O criminoso então disse para ela ir olhar o carro, dizendo que seria seu irmão a vendê-lo.
Manipulação levou ao encontro para passar credibilidade
A mulher que manifestou interesse foi, então, olhar o carro pessoalmente acompanhado de seu pai de 65 anos – que compraria o veículo [a filha só estava ajudando-o].
As duas partes já estavam orientadas a não falar muito um com o outro sobre a negociação: para o vendedor, o estelionatário disse que daria o carro de entrada na compra de um imóvel, cuja pessoa que viria olhar seria, exatamente, de quem adquiriria o imóvel. Para a compradora, deixou claro que o carro era do irmão, para não falar muito pois poderia desistir do negócio – e como o carro estava R$ 9 mil mais barato, abriu margem de interesse para a mulher e seu pai.
As vítimas se encontraram pessoalmente. O criminoso continuou figurando os personagens que interpretava. As partes foram até o Tabelionato na quinta-feira da semana passada, dia 29, a preencheram o DUT.
Pix não caiu
Enquanto preenchiam o documento de transferência, a mulher efetuou o pagamento de R$ 17 mil via Pix para a conta que havia recebido, por WhatsApp, do criminoso. Neste mesmo instante, o estelionatário mandou um falso comprovante de depósito para o comprador, no valor de R$ 26 mil – mas a quantia não caiu na conta. Somente neste momento se deram conta do golpe.
A Brigada Militar foi acionada e o DUT apreendido. Quem restou com o prejuízo foi a mulher e seu pai, que efetuaram a transferência mas, ficaram sem o carro.
Delegado orienta sobre cuidados básicos
Delegado Felipe Borba (Créd. Cleiton Zimer / arquivo O Diário)
O delegado Felipe Borba destaca algumas dicas importantes a serem adotadas em negociações via internet. “Evitar qualquer negócio que não seja firmado e mantido diretamente com o real comprador. Evitar qualquer transferência para uma conta que não seja, também, do real vendedor.
Na dúvida, também, pedir orientação no próprio órgão de registro, no Tabelionato. A pessoa também pode pedir uma assessoria jurídica para verificar se não há risco naquele negócio”.
Borba explica que, em cada lado, há cuidados fundamentais: ao postar o anúncio numa rede social, deve-se evitar colocar dados em excesso, como a placa, nomes completos e informações de documentos. Ao mesmo tempo, na hora de comprar, não se deve precipitar-se com valores atrativos.
Investigação
Uma investigação foi aberta, mas é difícil rastrear e, praticamente, impossível recuperar o prejuízo. Afinal, trata-se de um sistema criminoso complexo, cujas conta bancária digital foi, possivelmente, aberta com documentos falsos, em nome de laranjas.
Segundo caso este ano
Lori Weber Triches, tabeliã interina (Créd. Cleiton Zimer)
De acordo com a tabeliã interina, Lori Weber Triches, este é o segundo caso que acontece neste ano. O primeiro foi em março, onde um senhor de mais idade teve prejuízo de R$ 35 mil. Por este motivo o Tabelionato está colocando orientações através de uma placa para que as pessoas se atenham à detalhes simples, porém, cruciais para evitar um golpe.
Lori explica que, em uma negociação através da internet, o primeiro passo é verificar se o anúncio é verdadeiro. Além disso é necessário munir-se se de certeza de que está se tratando diretamente com o real vendedor ou comprador. Também é fundamental averiguar se o carro não é clonado e, por último, se a chave pix ou conta bancária está, realmente, no nome do proprietário/vendedor do veículo. Caso uma dessas questões não seja respondida positivamente, é bem possível que se esteja caindo em um golpe.