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Vereador que protestou contra o hino do RS diz estar sofrendo ameaças
Porto Alegre – O vereador Matheus Gomes (PSOL), de Porto Alegre, registrou na sexta-feira, 29, ocorrência contra ameaças e mensagens de ódio que vem recebendo nas redes sociais. Segundo o parlamentar, desde que a bancada negra da Câmara de Vereadores protestou contra a execução do Hino Rio-grandense, acusado de possuir um verso racista, ele tem sido alvo de centenas de postagens ofensivas.
“Ameaças de agressão física como espancamento, linchamento, empalamento, ameaça de morte”, cita Matheus. Também há mensagens de teor racista, segundo Matheus.
O vereador diz que o protesto promovido na posse, quando vereadores recusaram-se a cantar o hino, é “parte do debate democrático”.
“Nosso protesto na posse em decorrência de um trecho racista do hino do nosso Estado abriu uma importante discussão na nossa sociedade sobre racismo estrutural. Não tenho dúvidas que essas agressões racistas que sofri representam uma minoria”, diz.
Mensagens com ofensas a Matheus em redes sociais — Foto: Reprodução
Polícia investigará crimes de ameaça e racismo em mensagens postadas dirigidas a Matheus — Foto: Reprodução
A Delegacia de Combate à Crimes de Intolerância, primeira unidade especializada em crimes como racismo, homofobia e injúria qualificada no estado, vai investigar o caso. A titular, Andrea Mattos, informa que deve pedir a identificação dos autores dos posts ao Facebook. Mais de 150 mensagens foram entregues à polícia.
Ainda segundo Andrea, os crimes investigados inicialmente são ameaça e racismo. “Vários perfis parecem verdadeiros”, aponta a delegada.
Debate sobre o hino
Segundo Matheus, um fórum com organizações negras parceiras da sociedade civil está discutindo a letra do hino e a possibilidade de alterar o trecho criticado, que diz: “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. “Tem muitos segmentos abertos a construir essa mudança”, aponta Matheus.
O hino e sua letra está previsto na legislação estadual, que estabelece os símbolos do estado, promulgada em 1066. O grupo se articula para alterar a lei, segundo Matheus, no futuro.
“A estratégia agora é consolidar apoios em diferentes instituições da sociedade e os movimentos sociais”, diz.
“[As mensagens de ódio] São repercussões que refletem o momento político do país: o ódio e a violência como política, em vez do debate de ideias. Não creio que sejam o sentimento da maioria dos gaúchos”, avalia.