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Ex-secretaria da Saúde de Nova Petrópolis conta os passos que levaram à sua exoneração

03/01/2020 - 13h20min

Atualizada em 13/01/2020 - 10h19min

Nova Petrópolis – Andreia Siqueira Frota não é mais a secretária de Saúde e Assistência Social do Município. Ela foi exonerada do cargo na última terça-feira, 31, pelo prefeito Régis Luiz Hahn. Em seu lugar, assume Claudia Silvane Pires, que atuava como coordenadora do CAPS Vida Nova.

Em entrevista ao Diário, Andreia falou sobre sua saída e que não sabe o verdadeiro motivo de sua exoneração, mas que havia uma “indisposição” por parte do prefeito com ela. “Há meses, ele não se dirige a mim diretamente. Questionei o que estava acontecendo, mas nunca tive uma resposta”.

Um dos motivos do desgaste de relações, foi sua posição quanto ao uso de veículos da secretária de Saúde e Assistência Social. Segundo ela, por muitos anos os servidores usaram os veículos para irem da secretaria de Saúde aos postos, e vice-versa, e isso foi proibido no início de 2019. “Não é uma ilegalidade, o Município não é obrigado a dispor de veículo e combustível para translados de equipe, mas é falta de bom senso, pois a cidade não tem transporte público. Como é que vai exigir que o funcionário abra um posto de saúde às 7h30 na região do Pinhal Alto, se o primeiro ônibus para lá sai às 10h30 da manhã?”, reclama.

Cláudia Pires (esq) assume a secretaria (Créd.: Marcelo Moura)

“Me colocaram numa vitrine absurda de calúnia e difamação”

Essa retirada causou também muito desconforto por parte dos servidores, pois nem todos possuem carro próprio ou habilitação, dessa forma, ficaram sem transporte. “Fui posta em uma vitrine, hoje a equipe de saúde é totalmente indisposta comigo porque acredita que eu fui a responsável. Eu disse que só assinaria aquela ordem se o prefeito assinasse comigo, e ele assinou”, complementa.

Andreia pretendia mostrar que a medida não trouxe economia ao Município, pois como os servidores não podiam ficar com os veículos, precisavam chamar motoristas da prefeitura para realizar o serviço. Outra questão envolvendo os veículos, é que eles foram conseguidos com recursos do Ministério da Saúde para a Saúde, mas a Administração queria que os carros fossem passados para outras secretarias, como a de Obras e Serviços Públicos. Ideia combatida por Andreia.

Conflitos desde o início

No início da atual gestão, cabia ao PDT, partido de Andreia, duas secretarias, a da Saúde e Assistência Social não era uma delas. Mas como o PP, partido do prefeito Régis, não abriu mão das secretarias desejadas, coube esta ao PDT e Andreia se disponibilizou ao cargo. “Ali começou o movimento, porque escolhi pessoas de minha confiança para trabalhar. Preferi destituir as coordenações existentes e colocar outras pessoas. Isso já gerou uma indisposição de quem não admitiu a saída da colega anterior”, afirma.

“Em nenhum momento ultrapassei limites que pudessem justificar o que eu sempre fui acusada”

Outro fator de conflito nas relações, foi o valor reduzido na insalubridade. “A culpada era sempre eu. Foi posto uma nova base para esse incentivo, antes era sobre um salário-base, depois ficou sobre o mínimo nacional. Então de R$ 2.000,00 passou para R$ 236,00. Só que é uma questão puramente administrativa e não da pasta da Saúde. Em seguida que isso aconteceu, veio a retirada dos veículos e isso atingiu em grande parte a secretaria”, lembra.

Denúncias de assédio moral

Andreia conta que foi acusada diversas vezes de cometer assédio moral, mas que nunca foi provado nada contra ela. Diz ainda que dar uma ordem não configura assédio, e que de tanta denúncia, foi promovida uma palestra para explicar o que realmente é assédio moral. “Em nenhum momento ultrapassei limites que pudessem justificar o que eu sempre fui acusada. Até parei de receber servidores para acabar com esse confronto de situações falaciosas ao meu respeito. Nunca me disseram o que falei a ponto de se sentirem assediados”.

Atraso de servidores

A ex-secretária disse que alguns colegas passaram a “se dar o direito” de atrasarem 30 e até 40 minutos todos os dias, deixando pacientes esperando por atendimento. “Teve gente com descontos importantes no seu vencimento. E aí houve uma ação movida pelo sindicato que apontou que não poderia ser descontado pois o regime jurídico previa 30 minutos, e isso caiu na mão do judiciário. O juiz, liminarmente, concedeu a proibição, mas apontou que a lei deveria ser revisada. Então o prefeito determinou 5 minutos de tolerância e não os 30 previstos. Houve uma discussão na Câmara, e se entendeu que tinha que reduzir a tolerância para cinco minutos. E isso foi uma medida bastante antipática”.

Problemas de equipe

Quando assumiu, Andreia começou a perceber, por conta de sua formação em psicologia, que a equipe de Saúde tinha muitos problemas de relacionamento. “Teve muita denúncia para mim de colegas contra colegas, de pessoas que não cumpriam seus horários, que batiam ponto e iam para casa. Quando há um problema disciplinar, eu preciso tomar uma medida administrativa para que aquilo seja esclarecido. Eu recebia a irregularidade e tocava para comissão sindicante, muitas sindicâncias foram arquivadas porque chegava lá, as pessoas recuavam das queixas e a culpada era eu de ter aberto processo”, diz.

Questões políticas

Somadas, as secretarias de Saúde e Assistência Social possuem 168 servidores. Andreia acredita que essas questões possam influenciar nas próximas eleições. “O prefeito entendeu que ele se feriu politicamente porque talvez tenha perdido 168 famílias numa próxima eleição. Agora a manobra é botar um nome ali que atenda a necessidade política dessa secretaria para tentar ajustar as coisas, mas acho que em 12 meses terá que fazer milagre”, projeta.

Desligamentos

Andreia foi comunicada que ficaria à frente da secretaria até dia 31 de dezembro de 2019 pelo presidente do PDT, o vereador Jerônimo Stahl Pinto, no dia 17 de dezembro. Jerônimo teria dito que o prefeito estava irredutível e que não queria mais Andreia à frente da secretaria. “Então eu questionei se era uma decisão do prefeito Régis ou do PDT. ‘Do prefeito Régis’, ele falou. Eu vou sair com essas interrogações. Não entendo onde é que eu falhei com prefeito Régis.

Questões políticas são os principais motivos, segundo ela, para a sua exoneração. Podendo ser, inclusive, por parte do seu partido. “Eu não sei de que lado é, mas talvez possa ser o próprio PDT. Cheguei a escutar que eu tinha que ter um mais de coração e dar veículo da Saúde para secretaria de Obras. Eu disse que meu coração é da Saúde e dinheiro da Saúde tem que ficar na Saúde. Talvez isso tenha gastado a relação com o PDT, e dia 3 de janeiro vou pedir o meu desligamento do partido porque me colocaram numa vitrine absurda de calúnia e difamação”. Procurado, Jerônimo disse que prefere não se pronunciar no momento.

Para finalizar, Andreia diz que sai feliz com as vidas que salvou, “porque eu salvei muitas”, e com a sensação de dever cumprido. Agora ela reassume o cargo de psicóloga no CAPS. “Eu fui exonerada no cargo de secretária e reassumo meu cargo como servidora pública concursada e estável na rede de saúde mental de Município”, finaliza.

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